Cuito – A província do Bié promoveu neste final de semana a 1ª Exposição Colectiva de Artes Plásticas, para saudar o Dia de África, celebrado a 25 deste mês.
Estiveram patentes 25 obras de artistas locais, nomeadamente Kim Vitangue, Sambongue, Asne, King Sassingue, Arlos, com temáticas que expressam a união entre os povos.
Retratam ainda a união entre o sul e o norte, a escravatura, liberdade, a intelectualidade, história do Bié e a divulgação da “Roda Solidária”, obra leiloada na capital de Luanda, no lançamento da Fundação Ngana Zenza a 72 milhões de Kwanzas.
O evento visou despertar nas pessoas o gosto pelas artes plásticas e a valorização das obras de artistas desta região centro/sul do país.
Artistas plásticos solicitam galeria
Os artistas plásticos da província do Bié solicitaram das autoridades competentes a criação de uma galeria nesta região, para a exposição das suas obras, o que traria maior valorização e reconhecimento dos seus trabalhos.
Em entrevista à ANGOP, o artista plástico Joaquim Miguel Vitangui "Kim Vitangue, criador da obra “Roda Solidária” (ilustra informações sobre a vandalização dos bens públicos), afirmou que o Bié já necessita com urgência de um espaço para exposição, a julgar pelo número de cidadãos que ganharam o gosto pelas artes plásticas.
Actualmente, a província controla 35 artistas plásticos.
Kim Vitangue lamentou o facto de as obras actualmente serem expostas nas paredes, escadas e por vezes no chão, o que tira a sua devida importância bem como desvaloriza a criatividade dos pintores.
Realçou que os preços das suas criações variam entre 15 a 300 mil kwanzas, admitindo que nos últimos anos a procura aumentou, face ao gosto que as pessoas estão a ganhar por esta arte.
Na sua maioria, as obras retratam questões sobre patriotismo, gravidez precoce, criminalidade, vandalização dos bens públicos, meio ambiente, natureza e outros aspectos da vida socioeconómica da província.
Pediu ainda um maior reconhecimento das autoridades da província, tendo considerado um paradoxo o facto de, no exercício de apetrecho de escolas e outras instituições públicas, os quadros serem provenientes da capital do país, cidade onde os seus méritos têm sido mais enaltecidos.
“Sou filho do Bié. Pinto há mais de 20 anos e com mais de cem obras feitas. Mas nas instituições públicas e outros locais só existem quadros provenientes de Luanda”, lamentou.
Já o jovem pintor Samuel Valentim Diniz diz que a criação de uma sala de exposição seria muito importante, porque iria incentivar outros a apostar nesta arte, assim como se sentiriam mais valorizados.
De 27anos de idade, o artista, que faz igualmente trabalhos de grafite, avançou que um outro problema tem sido as dificuldades no acesso à matéria-prima, sobretudo a tinta.
“Muitas vezes temos que encomendar em Portugal, Brasil ou Espanha, o que torna mais oneroso os trabalhos”, referiu Valentim Diniz, que começou a pintar há 12 anos, mas apenas há quatro exerce a actividade de forma profissional, depois de frequentar vários cursos de capacitação.
Segundo ele, com a dificuldade no acesso aos materiais, com excepção do lápis, pincel, tecido e a madeira, que aparecem com facilidade, muitas vezes são obrigados a usar tinta adaptável.
Por outro lado, adiantou que a cidade do Cuito dispõe de áreas virgens para a feitura de grafites, próprias para a criação de temas que possam ilustrar a realidade social e económica da província.
Se autorizadas, realçou, além de apagar as amarguras da guerra que assolou o país, e o Bié, em particular, as pinturas poderiam despertar o interesse da profissão nas camadas mais jovens bem como melhorar a imagem da cidade.
Albano Sayago Eduardo, que exerce a profissão desde 2010, disse ser necessário que se continue a valorizar as artes plásticas como qualquer profissão no ramo de empreendedorismo cultural.
Mostrou-se também a favor da criação de um espaço apropriado para a acomodação dos trabalhos pintados em tela, enquanto os grafites diz não haver muitos problemas, por serem sempre do interesse do cliente.
Referiu que, até ao momento, encontra mercado também nas províncias do Cuando Cubango, Benguela, Moxico e Luanda, pelo facto de se dedicar a pintar o meio ambiente e retratos falados.
Mensalmente consegue arrecadar perto de trezentos mil kwanzas.
Informou que a obra mais cara que já vendeu custou 310 mil kwanzas.
Já o director do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo e Juventude e Desportos no Bié, Nelson Quinta, adiantou que o sector já trabalha para a criação, nos próximos tempos, de uma galeria no largo 1° de Maio, na cidade do Cuito, para que os artistas façam a exposição e comercialização dos seus trabalhos.
Lamentou o facto de não haver, a nível da administração pública, um fundo de apoio a estes actores, mas, dentro das políticas de gestão do plano nacional da cultura, o governo do Bié traçou estratégia que estão a dinamizar as actividades culturais, através da promoção de acções de formação dos artistas, quer fazedores de música, dança, teatro, escritores e pintores.
Apelou aos artistas a trabalharem com mais afinco, para que os seus produtos sejam vendidos em qualquer parte do país.