Malanje- Fazedores de artes, em Malanje, defenderam hoje, quarta-feira, nesta cidade, a necessidade de se resgatar os valores culturais da região, perdidos ao longo dos tempos, fruto das influências externas e da adaptação da sociedade aos efeitos da aculturação.
Entrevistados pela ANGOP, a propósito do Dia da Cultura Nacional, que hoje se assinala, alguns artistas imputaram a responsabilidade ao Governo de gizar políticas públicas, envolvendo a sociedade na execução das acções de valorização da cultura e de estímulo às actuais e futuras gerações.
Para o presidente da Associação Provincial de Teatro, Hugo da Fonseca Luís, urge a necessidade de adopção de mecanismos por parte dos organismos afins, para o resgate dos valores culturais e morais perdidos, no sentido de se devolver a identidade dos povos de Malanje e do país em geral.
Considerou que essa medida passa, entre outras, pela moralização da sociedade e incutir nos cidadãos a importância da preservação dos aspectos culturais, como a dança, o respeito pelos símbolos nacionais, o gosto pelas artes cénicas e por outras áreas que se adequam à cultura angolana.
Apelou ao Governo Provincial, aos agentes culturais e a sociedade em geral, a trabalhar com vista a concretização desse desiderato, pois a cultura não só constitui identidade dos povos, mas representa uma forma de valorização do Estado e que pode contribuir para a arrecadação de receitas, através da encenação, declamação e outras formas de manifestação.
Por outro lado lamentou a falta de salas apropriadas de teatro, o que obriga a adaptações e alugueres de espaços a custos altos, tendo reiterado o apelo ao Governo a fim de tudo fazer ao lado dos fazedores de arte para a criação de um local adequado e consequentemente impulsionar o gosto e as práticas culturais.
Por sua vez, o poeta e escritor Kibuku Kiajinji, considerou que o país não se desenvolve apenas com tecnologias, mas também com a cultura e sabedoria dos mais velhos, por isso urge as novas gerações se apoiarem no passado para poder resgatar a mística cultural da província e da sociedade.
Lembrou que a cultura não se reflecte apenas em música, teatro, dança e outras manifestações, mas também no conhecimento e respeito pelos valores morais e viagens pelo passado em busca das reservas culturais e práticas dos antepassados, tendo lamentado a perda da essência das línguas nacionais, por falta da passagem de testemunhos.
Reiterou que a cultura representa o respeito pelos hábitos e costumes das terras, pelas origens e tradições dos povos, a par das línguas tradicionais, pelo que apelou para o resgate e ensino das mesmas, através da introdução nos currículos escolares ou por outras vias, pois as línguas determinam também a identidade das pessoas e nações.
Já o trovador João Aguiar considerou que Malanje é uma província multicultural, mas nota-se falta de interesse dos jovens em enveredar pelas artes culturais, pelo que, há necessidades de se criar mecanismos eficazes para que eles ganhem interesse e tenham capacidade de fazer cultura.
Referiu que uma vez implementada a disciplina de cultura nas escolas e se abordar regularmente sobre os aspectos culturais a partir do ensino primário, o país vai resgatar todos os valores de elevação da identidade dos povos e da consciência dos cidadãos sobre estes aspectos.
Realçou que a diversidade cultural da província pode contribuir na divulgação das suas potencialidades, na atracção de turistas e consequentemente na arrecadação de receitas para os cofres do Estado, através da música, dança, teatro e outras formas de recepção dos visitantes.
Entretanto, o director do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos, Veloso Dala disse que essas preocupações serão levadas a debate hoje, quarta-feira, pelo Governo e as Associações do Poder Tradicional durante um encontro que vai abordar as estratégias de resgate dos valores culturais, medidas de combate à vandalização dos bens públicos e sobre o alinhamento das estratégias do resgate dos valores.
A jornada comemorativa do 8 de Janeiro, em Malanje, decorre sob o lema “Angola 50 anos: Preservar e valorizar as conquistas alcançadas, construindo um futuro melhor” e vai culminar com uma gala de homenagens aos fazedores de artes e cultura.
O dia da cultura nacional foi instituído em Novembro de 1986, em homenagem ao primeiro discurso sobre a cultura nacional, proferido pelo primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, em 1979, na tomada de posse dos corpos gerentes da União dos Escritores Angolanos, em Luanda. NC/PBC