Mbanza Kongo – O especialista e historiador cabo-verdiano, Charles Akibodé, defendeu, este sábado, a criação de políticas para que o Centro Histórico de Mbanza Kongo, na província do Zaire, se torne um “Vaticano” (Itália) de conhecimentos ancestrais.
O académico fez esse pronunciamento quando dissertava num colóquio sobre “A importância da diáspora na cultura Kongo”, actividade inserida nas celebrações do sétimo aniversário da elevação do Centro Histórico de Mbanza Kongo a Património Mundial da Humanidade, a ser assinalado na próxima segunda-feira, 8 de Julho.
Charles Akibodé que foi convidado a propósito pelo Governo do Zaire, disse ser o momento para que se inicie a gizar políticas viáveis para transformar Mbanza Kongo num centro de busca de riqueza de conhecimentos dos ancestrais, tendo em conta o seu potencial manancial histórico.
“Temos que começar a inscrever este centro histórico não só para festejar o seu aniversário de elevação a património mundial, que é fundamental, mas temos que cá chegar também e adquirir conhecimentos históricos universais”, advogou.
O aprimoramento de condições para atracção de mais turístas à região cria bases para o fomento da chamada economia cultural, que contribui para arrecadação de mais receitas e geração de postos de trabalho, realçou o historiador.
Charles Akibodé, que fez parte da elaboração do dossier que permitiu a inscrição de Mbanza Kongo na lista dos bens controlados pela UNESCO, referiu que a classificação desta cidade vai além dos sítios e monumentos históricos que constituem o seu mosaico-histórico cultural.
Apontou o incremento das acções pedagógicas, a apropriação histórica e a descomplexação do eurocentrismo, como primeiros passos que devem ser dados para que Mbanza Kongo se transforme fonte universal da busca da história africana.
Para este colóquio, que versou sobre “Kongo e Diáspora“ foram convidados diversos especialistas provenientes de Cabo Verde, Brasil, Luanda, Bengo e Cabinda, que dissertaram, entre outros temas, “Os desafios para gestão do património mundial africano”, “o património vivo de Mbanza Kongo”, “Do kongo ao Valongo: a grande rota da diáspora africana no Brasil” e “A importância da diasporização da cultura kongo no mundo”.
Desafios para preservação do Centro Histórico de Mbanza Kongo
Por sua vez, Biluka Nsakala Nsenga, gestor do Centro Histórico de Mbanza Kongo, apontou a continuação dos trabalhos arqueológicos, a edificação de um museu do Reino do Kongo, para a conservação dos vestígios desenterrados aquando das escavações, como sendo os principais desafios para os próximos tempos.
Ao debruçar-se sobre “Os desafios para a gestão do património mundial africano”, Biluka Nsakala Nsenga, mencionou ainda a melhoria das vias de acesso às fontes de água que circundam a cidade como outra meta a atingir, no quadro do cumprimento das recomendações da UNESCO.
“A construção do Museu do Reino do Kongo que deverá agrupar, no mesmo espaço, as peças museológicas espalhadas por todos os países que integravam o antigo reino do Kongo (RDC, Congo e Gabão), consta igualmente das acções para os próximos tempos, sustentou a fonte, frisando que o actual museu dos Reis do Kongo conserva apenas alguns artefactos dos soberanos do Kongo.
Por sua vez, o pesquisador brasileiro Jair Martins, que falou do tema “Do Kongo ao Valongo: a grande rota da diáspora africano no Brasil”, disse que 50 por cento dos escravos que escalavam àquele país sul americano viam de Mbanza Kongo.
Explicou que Valongo é um antigo cais localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, que recebeu o título de UNESCO, na mesma reunião que a cidade angolana de Mbanza Kongo, por ser o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados para América.
Sob o lema “Mbanza Kongo berço da cultura kongo”, o programa das festividades inscreve campanhas de limpeza e embelezamento da cidade, visitas aos sítios e monumentos históricos, workshops, feiras de saúde e produção agrícola, espectáculo músico-cultural, entre outros atractivos.
O Centro Histórico de Mbanza Kongo foi classificado como Património Cultural da Humanidade a 8 de Julho de 2017, durante a 41ª sessão da UNESCO, realizada na cidade de Cracóvia, República da Polónia. DA/DMN/JL