Luanda - A visita do Presidente dos EUA, Joe Biden, a Angola, de 2 a 4 de Dezembro deste ano, vai, seguramente, dar um novo impulso à cooperação entre os dois países, actualmente considerada mais forte do que nos últimos 30 anos de relações diplomáticas.
Por Santos Rosa, jornalista da ANGOP
Primeira de um Presidente norte-americano ao país, a visita constitui uma vitória diplomática do Chefe de Estado angolano, João Lourenço, que, desde o princípio do seu mandato, em 2017, colocou como prioridade o estreitamento das relações com os EUA.
O ponto mais alto da estratégia de João Lourenço foi a visita à Casa Branca, em Dezembro de 2023, durante a qual os dois estadistas abordaram projectos em implementação em Angola, tendo Biden considerado a parceria entre ambos "mais importante que nunca".
"Encontramo-nos num momento histórico. A parceria entre Angola e os Estados Unidos é mais importante do que nunca", disse Biden, na ocasião, na Sala Oval, o gabinete de trabalho do líder americano, construído em 1909, pelo Presidente William Howard Taft e onde são recebidos os dignitários estrangeiros em visitas de Estado.
Durante o ‘tête-à-tête’, o Presidente Joe Biden prometeu visitar Angola antes do fim do seu mandato, para constatar a execução de alguns projectos no país, com o Corredor do Lobito como vital nas relações económicas entre ambos os Estados e uma alavanca para a diversificação económica de Angola, da RDC e da Zâmbia.
O projecto congrega o Porto do Lobito e o Caminho-de-Ferro de Benguela, com um financiamento superior a mil milhões de dólares, e é considerado o maior investimento ferroviário de sempre dos EUA em África. O mesmo vai ajudar a melhorar infra-estruturas e tornar Angola num exportador de produtos alimentares.
O Corredor do Lobito tem uma importância estratégica para a região, uma vez que vai contribuir para a segurança alimentar e energética de Angola, da RDC e da Zâmbia, assim como para a criação de empregos nos três países.
Nesta visita, o Presidente Biden tem como foco a segurança alimentar, matéria a ser debatida num fórum a realizar-se na cidade do Lobito, província de Benguela, com a participação dos Presidentes de Angola, da RDC, da Zâmbia e da Tanzânia.
Considera-se que o desenvolvimento do Corredor do Lobito é de capital importância para todos os integrantes deste projecto de envergadura e impacto interno e externo.
A prosperidade, as alterações climáticas e a segurança alimentar figuram entre os principais temas que interessam a Angola e aos EUA, razão pela qual estarão no centro das conversações oficiais entre as delegações dos dois países, assim como no fórum, a decorrer no Complexo Industrial do Grupo Carrinhos.
O agro-negócio, a indústria alimentar, o processamento de matérias-primas, designadamente de minerais críticos para a manutenção, e o incremento da indústria mundial automóvel, que vão circular e transpor fronteiras até aos mercados internacionais, vão entrar numa fase mais eficiente, rentável e apetecível para os investidores nacionais e estrangeiros, assim como os serviços e o turismo.
Impacto regional
O investimento no Corredor do Lobito vai permitir a renovação de troços da linha-férrea e infra-estruturas associadas, para além de garantir a aquisição de mais 1.500 vagões e 35 locomotivas, bem como criar uma nova e eficiente rota para o transporte de mercadorias, o que irá reduzir a congestão e melhorar a dinâmica do comércio regional.
Espera-se que o mesmo gere significativas oportunidades de emprego e estimule a actividade económica nas áreas conectadas. Para além disso, as comunidades ao longo do Corredor beneficiarão de uma infra-estrutura aprimorada, melhor acesso aos serviços e melhores perspectivas económicas, para o impulsionamento do crescimento e estabilidade regional, bem como garantia da segurança alimentar.
O transporte e a logística, pilares essenciais da estratégia de crescimento económico, poderão ajudar Angola a assegurar o seu lugar como um dos principais hubs industriais em África, com capacidade para competir nos mercados globais e promover um desenvolvimento inclusivo e sustentável, com o forte contributo do Corredor do Lobito.
Ao assinar acordos regionais e internacionais de comércio como a Zona de Livre Comércio Continental Africana (ZCLCA), o país criou novas oportunidades para as indústrias angolanas explorarem mercados emergentes em África e noutras partes do mundo, e o Corredor do Lobito vai jogar papel determinante.
A expectativa que se gera é que essa infra-estrutura venha a desbloquear o enorme potencial da região, reforçar as possibilidades de exportação de Angola, RDC e Zâmbia, bem como criar valor acrescentado e empregos através de investimentos e outras medidas, com o apoio da União Europeia e dos EUA, que assumem um papel de co-direcção no desenvolvimento do Corredor.
Isso inclui investimentos em infra-estruturas, medidas para a facilitação do comércio e do trânsito, investimentos em sectores relacionados para fomentar um crescimento sustentável e inclusivo, capitais (cadeias de valor agrícola, energia, transporte/logística, educação e formação técnico-profissional) ao longo do Corredor em Angola, na RDC e na Zâmbia.
Daí que, quando a infra-estrutura de transportes que ligar os três países estiver completamente operacional, a linha irá aumentar as possibilidades de exportação para a Zâmbia, a RDC e Angola, reforçar a circulação regional de bens e promover a mobilidade e a segurança alimentar das pessoas desses países.
Ao reduzir significativamente o tempo médio de transporte, o Corredor vai diminuir os custos logísticos e a pegada carbónica para a exportação de metais e de produtos agrícolas, bem como de outros artigos e, ainda, para o futuro desenvolvimento de descobertas de minerais.
O Corredor do Lobito é um trajecto de pessoas e mercadorias, composto por infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias, que atravessa Angola do Lobito ao Luau, passa por Kolwesi e Lunbumbashi, na RDC, entra na Zâmbia por Chingola e termina em Ndola, onde estão as ligações ferroviárias aos portos no Oceano Índico, designadamente em Dar es Salam (Tanzânia), Beira (Moçambique) e Durban (África do Sul).
A importância estratégica do Corredor do Lobito foi enfatizada pelo Presidente João Lourenço durante a visita aos EUA, na conversa com Joe Biden, ao afirmar que a infra-estrutura não iria apenas beneficiar Angola.
"É uma nova página que se abre nas relações económicas entre os Estados Unidos e o continente africano", afirmou, na altura, o estadista angolano.
Para além dos temas acima enunciados, o Presidente Biden vai inteirar-se dos projectos de electrificação do país, em que está envolvida a empresa norte-americana ‘Sun Africa’.
Esta empresa é responsável pela instalação de central fotovoltaica de energia solar no Biópio, província de Benguela, com uma produção de 188,8 megawatts (MW) de energia eléctrica, sendo o maior projecto de energia solar em Angola, com 509 mil e 40 painéis solares.
A ‘Sun Africa’ construiu, igualmente, a Central de Energia Solar da Baía Farta, que tem uma potência instalada de 96 megawatts e é parte de um projecto de produção de 370 MW em sete centrais.
Os municípios de Saurimo, na província da Lunda-Sul; Lucapa (Lunda-Norte) e Luena (Moxico) dispõem de projectos com mais de 70 MW de potência cada, estando, igualmente, abrangidos Bailundo (Huambo) e Cuito (Bié).
Paz e segurança
A paz e a segurança no continente africano, particularmente na Região dos Grandes Lagos, onde Angola desempenha papel de mediador de conflitos, e os investimentos em áreas como a saúde e as energias renováveis também serão, indubitavelmente, abordados durante a visita do Presidente dos Estados Unidos.
Os EUA apoiam e encorajam o papel de mediação angolano no continente, sobretudo no conflito entre a RDC e o Rwanda, pelo que consideram Angola um aliado estratégico e João Lourenço um Presidente que merece a confiança dos outros parceiros.
Pelas manifestações de apoio à liderança do Presidente João Lourenço e os interesses e parceria estratégicas que norteiam as relações político-diplomáticas e de cooperação entre os dois países, facilmente se conclui que a visita de Joe Biden ao país, para além do simbolismo histórico, é mais um clique nesse relacionamento.
Os EUA consideram Angola um parceiro estratégico e um líder regional, e essa parceria é fundamental para o avanço dos objectivos comuns de prosperidade económica, segurança alimentar, segurança regional e aumento da segurança energética em África e no Atlântico.
Esta é uma das razões da realização, na cidade de Luanda, capital de Angola, da 17.ª Cimeira de Negócios EUA-África, em 2025, com a participação de 1.500 delegados, entre Chefes de Estado africanos, ministros de pastas-chave, altos funcionários da Administração norte-americana, responsáveis de principais agências e executivos seniores de empresas americanas e africanas.
A realização da Cimeira de Negócios EUA-África em Angola constitui um marco significativo e histórico, pois acontece no mesmo ano em que o país celebrará o 50.º aniversário da sua Independência e assumirá a presidência da União Africana (UA).
O evento é uma das mais importantes plataformas de negócios. A escolha de Angola como país anfitrião é uma prova do seu notável progresso e potencial como um actor-chave na economia africana.
Terá um foco continental, entre África e os EUA, sendo que Angola vai apresentar o seu potencial industrial, desde energia, infra-estrutura, agricultura à tecnologia, para destacar as oportunidades de investimento e promover o desenvolvimento sustentável.
O acto representa, também, uma oportunidade crucial para a busca de soluções eficazes e sustentáveis para a diversificação da economia africana, aumento do comércio, dos negócios em áreas com elevado impacto na vida das populações e empresas norte-americanas e africanas.
Por isso, embora esteja no final do seu mandato, a visita sinaliza o compromisso dos EUA em fortalecer a cooperação com Angola.
Aliás, a propósito deste contexto, o Presidente João Lourenço disse, numa entrevista ao jornal americano ‘The New York Times’, que as recentes eleições nos Estados Unidos da América, ganhas por Donald Trump, não vão perturbar a cooperação entre os dois países.
Na entrevista, publicada esta quinta-feira, o diário americano escreve que o Presidente João Lourenço tem trabalhado, afincadamente, para reforçar a parceria do seu país com os EUA.
Devido ao seu impacto a nível mundial, a visita terá a cobertura de mais de 50 jornalistas provenientes dos EUA e acima de 200 profissionais da comunicação social do globo. SR/IZ