Luanda – O ano de 2024, que acaba de chegar ao fim, fez história com o registo da primeira visita de um Presidente dos Estados Unidos a Angola, em plenos preparativos da comemoração dos 50 anos da Independência Nacional.
Por António Tavares, jornalista da ANGOP
A visita de Joe Biden, 46.º Presidente da nação mais poderosa do mundo, foi o apogeu dos resultados da agenda desenvolvida pelo Chefe de Estado, João Lourenço, durante o ano findo.
Biden visitou o país de 2 a 4 de Dezembro, sendo o culminar de um trabalho árduo do Presidente da República, iniciado em 2023, quando foi recebido na Casa Branca pelo homólogo norte-americano.
Trata-se da primeira visita de um Chefe de Estado norte-americano a Angola, desde a Independência Nacional, em 11 de Novembro de 1975, e também a primeira de Joe Biden a África desde o início do seu mandato, em 2021.
Biden assumiu a Presidência americana, em Janeiro de 2021, e prepara-se para deixar a Casa Branca ao seu sucessor, Donald Trump, no mesmo mês de 2025.
A sua visita histórica representa uma vitória diplomática para João Lourenço, como resultado de anos de intensos esforços diplomáticos, pois, desde o início do seu mandato, em 2017, definiu como um dos principais objectivos da sua política externa estreitar as relações com os EUA.
Desde então, seguiu-se um trabalho sistemático e consistente, com as deslocações a Washington, em 2021 e 2023, quando se reuniu com Biden, e, no ano seguinte, a Dallas, para participar na 16.ª Cimeira EUA/África.
Três objectivos principais foram definidos para a viagem, como aumentar a liderança dos Estados Unidos no comércio, no investimento e nas infra-estruturas em África, destacar a liderança regional e a parceria global de Angola num amplo espectro de questões prementes, incluindo o comércio, a segurança e a saúde, bem como realçar a notável evolução das relações entre os dois países.
No cumprimento da sua agenda de três dias de visita a Angola, Joe Biden manteve encontro com o Presidente João Lourenço e visitou o Museu da Escravatura.
A segunda etapa da visita foi desenvolvida na província de Benguela, com o foco no Corredor do Lobito e na segurança alimentar, tendo participado numa cimeira sobre esta importante infra-estrutura de transporte.
No encontro, decorrido no Complexo Industrial do Grupo Carrinho, estiveram, para além de Biden e do anfitrião João Lourenço, estadistas da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, da Zâmbia (Hakainde Hichilema) e da Tanzânia (Vice-Presidente Philip Mpango), bem como parceiros do Corredor do Lobito.
Diplomacia económica
Em 2024, a exemplo do que tem feito desde que começou o mandato, João Lourenço, enquanto condutor da política externa do país, levou a diplomacia angolana a vários pontos do globo, abrindo para Angola uma nova página para a cooperação, mobilizando potenciais investidores para o renovado interesse pelo território angolano.
Deslocou-se à cidade de Praga, em Fevereiro, para uma visita oficial à República Checa, a convite do seu homólogo, Petr Pavel.
O cumprimento do programa oficial desta missão teve como pontos altos as conversações entre as delegações presidenciais dos dois países, a ida ao Senado e à Câmara dos Deputados, assim como o encontro com o primeiro-ministro checo, Petr Fiala.
O Presidente angolano tem procurado diversificar os países com os quais Angola estabelece relações, para além daqueles que já são tradicionais. É o caso da Coreia do Sul, com grande potencial industrial.
Em Seul, foi recebido, em Abril, pelo homólogo sul-coreano, Yoon Suk-yeol, e participou no Fórum Económico, com vista ao reforço das relações bilaterais.
Os dois países assinaram quatro instrumentos jurídicos nas áreas do Comércio, da Saúde, da Ordem Pública e da Diplomacia.
Sempre com o objectivo de fortalecer parcerias, o Presidente da República já se tinha deslocado à China, um mês antes.
A visita do Chefe de Estado revitalizou as relações político-diplomáticas entre as duas nações e estabeleceu o palco para a mobilização de investimento privado e melhoria das perspectivas no domínio da relação financeira, tanto a nível privado como público.
Sectores com maior potencial de desenvolvimento como a Agricultura, a Indústria e os Recursos Minerais constituíram o maior foco no domínio do investimento directo chinês.
Ainda em Abril, João Lourenço esteve em Portugal, para as cerimónias comemorativas do cinquentenário do 25 de Abril, a convite do homólogo luso, Marcelo de Sousa.
Interveio na sessão evocativa da efeméride, decorrida no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, na presença dos demais Chefes de Estado dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste, cujas independências estão ligadas ao 25 de Abril de 1974.
Manteve um primeiro encontro de trabalho com o primeiro-ministro Luís Montenegro, no Palácio de São Bento, que resultou na visita a Angola, em Julho, deste governante português, à frente de uma extensa comitiva.
Em Maio de 2024, participou na 16.ª Cimeira Empresarial EUA-África, em Dallas, na qualidade de primeiro vice-presidente da União Africana (UA).
Tratou-se de mais uma oportunidade para atrair o investimento privado americano para o continente, e Angola, em particular, contribuindo, assim, para o processo de desenvolvimento integrado dos países africanos.
Destaca-se a valorização do continente africano na rota das várias visitas recebidas e realizadas pelo Presidente da República.
Há, igualmente, a reactivação das Comissões Bilaterais de Cooperação e a assinatura de instrumentos jurídicos com alguns países africanos de interesse estratégico.
Neste sentido, no âmbito do reforço da amizade e cooperação com a Côte d’Ivoire, João Lourenço esteve em Abidjan, em Julho de 2024, para a assinatura de 14 acordos nos mais variados domínios da vida política, diplomática, económica, comercial, tecnológica e sócio-cultural dos dois países.
Em Dezembro, foi acolhido em Pretória, África do Sul, para uma visita de Estado, no quadro do reforço da cooperação entre os dois países.
Os Presidentes João Lourenço e Cyril Ramaphosa mantiveram conversações com a presença de delegações ministeriais dos dois países e participaram num fórum económico que serviu para identificar oportunidades de negócios em cada uma das economias.
No encontro, foi discutida a cooperação em várias áreas, nomeadamente energia, defesa, ensino superior, educação, cultura e juventude e desportos, tendo sido assinados dois acordos nos domínios do ensino superior e cultura.
A última visita do ano, no domínio da diplomacia económica, ocorreu em finais de Dezembro, ao sultanato de Omã, para cimentar uma parceria recente.
A deslocação respondeu a um convite do sultão Haitham Bin Tarik Al Said, com quem João Lourenço manteve encontro privado após a sua chegada a Mascate, antes do início das conversações oficiais.
Os dois líderes destacaram o modo como a cooperação entre Omã e Angola se está a desenvolver, com acções efectivas e de grande impacto a concretizarem-se rapidamente.
A visita de João Lourenço permitiu aos dois países rubricar quatro instrumentos jurídicos para o reforço da cooperação nos domínios financeiro e diamantífero.
Trata-se do Memorando de Entendimento entre o Ministério das Finanças de Angola e o Banco de Investimento de Omã, que estabelece o quadro de cooperação estratégica para fortalecer os laços económicos e financeiros entre os dois países.
Foi também acordada a aquisição de participações nas minas diamantíferas de Catoca e Luele, em Angola, e uma parceria entre a Empresa Nacional de Diamantes de Angola (ENDIAMA) e o Fundo Soberano de Omã, através do Maden Investment Group.
Os resultados desta missão ao Médio Oriente incluem um memorando de entendimento para a exploração de oportunidades de cooperação nos sectores energéticos entre o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás de Angola e o Massadr Energy Group.
Com o Grupo Maden Investment, concluiu-se o trabalho para a sua entrada na prospecção, exploração e comercialização de diamantes nos projectos Luele e Catoca, na Lunda-Sul.
G20
Há, também, a destacar a participação, pela primeira vez, do Presidente angolano numa reunião da Cúpula do G20, na sua 19.ª edição, realizada entre 18 e 19 de Novembro, no Rio de Janeiro (Brasil), a convite do seu homólogo, Lula da Silva, com quem manteve encontro de trabalho.
O estadista angolano recebeu os presidentes do Conselho Europeu e do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), respectivamente, Charles Michel e Akinwumi Adesina, bem como a directora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, e o CEO do Grupo Industrial Farmacêutico EMS, Carlos Sánchez.
Nesta cimeira, que juntou 55 delegações de 40 países e de 15 organismos internacionais, João Lourenço discursou sobre os temas da ‘Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza’ e ‘Transição Energética’. ART/IZ