Luanda – A diplomacia angolana continua em alta e este ano não fugiu à regra, com um dos pontos em destaque a ser a escolha do país para presidir a União Africana em 2025 e merecer o reconhecimento e enaltecimento da comunidade internacional pelos esforços de pacificação do continente.
Por Francisca Augusto, jornalista da ANGOP
Nos últimos sete anos, Angola tem sido um exemplo de diplomacia e afirmação regional, ao participar activamente e conduzir, com equilíbrio, processos de pacificação e estabilização de regiões em conflito, alguns deles cíclicos e de longa data, isto tem sido realçado inclusive por potências mundiais e pelas Nações Unidas.
Neste período, marcado por reformas profundas, sobretudo económicas, são visíveis os ganhos alcançados pelo país no domínio da diplomacia económica, desde a captação de investimentos estratégicos até à recuperação de activos que se encontravam em vários pontos do mundo.
É por de mais evidente que os esforços diplomáticos das autoridades angolanas têm permitido melhorar a aceitação do papel estratégico de Angola em África, por um lado, e por outro, atrair vários investidores internacionais.
Fruto desse compromisso, o país tem-se tornado uma “placa giratória” para a resolução de conflitos entre os Estados da região dos Grandes Lagos, além de recuperar, gradualmente, fundos saídos ilicitamente do erário.
Com a sua diplomacia económica e política, Angola tem vindo a melhorar a sua imagem junto de parceiros internacionais, fruto da bem conseguida estratégia de melhoria do ambiente de negócios, apesar de ainda serem grandes os desafios para tornar cada vez mais efectivo o investimento privado.
Na verdade, o Estado angolano tem sabido estabelecer parcerias estratégicas e criar pontes junto dos grandes financiadores internacionais, a fim de assegurar a atribuição de empréstimos, financiamentos ou renegociação das suas dívidas.
De Estado sombrio e quase sem futuro, como foi caracterizado no período de guerra, Angola deu a volta por cima e tem vindo a afirmar-se, nos últimos anos, como um verdadeiro actor na estabilização de África, e uma fonte fértil para investimentos estratégicos, sobretudo dos Estados Unidos da América.
Aliás, não foi por acaso que o país conseguiu, este mês, o feito histórico de receber o Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, cuja deslocação a Luanda e Benguela deixou bem patente a forma objectiva e inequívoca como o mundo olha hoje para o país.
Como, de resto, afirmou Joe Biden, o primeiro Presidente dos EUA a visitar Angola nos quase 50 anos de independência do país, Angola é um Estado cheio de oportunidades, que pode liderar o processo de transformação tecnológica e industrial em África, sobretudo no quesito da segurança alimentar.
A esse respeito, Angola pode alavancar a cúpula para defender uma integração económica mais profunda em África, incluindo a promoção da Zona de Livre Comércio Continental Africana e ser o Campeão da Integração Económica.
Esta postura apoia a cooperação económica regional e o crescimento colectivo, reforçando a reputação do país como unificador e pacificador.
Ao destacar as suas reformas, Angola dá um bom exemplo a outras nações africanas que se esforçam para ter a diversificação económica e o crescimento sustentável. Isso posiciona o país como um modelo na utilização de recursos naturais para estimular um desenvolvimento económico mais amplo.
Esse destaque poderá ser evidente com a realização, em 2025, da Cimeira de Negócios EUA/África, que poderá ressaltar, conforme o ministro das Relações Exteriores, Téte António, o papel emergente de Angola como líder regional.
Ao sediar a Cúpula de Negócios EUA/África, Angola demonstra o seu papel activo na promoção do diálogo e da colaboração não apenas entre os EUA e a África, mas também entre as próprias nações africanas.
Por isso, Angola deve continuar a estabelecer parcerias económicas e colaborar com países vizinhos para estabelecer zonas económicas compartilhadas, a fim de promover a integração e o desenvolvimento económico. Essas zonas podem atrair investimentos estrangeiros e servir de catalisadores regionais.
Política angolana
A indicação de Angola para assumir a presidência rotativa da União Africana (UA), em Fevereiro de 2025, foi outro dos pontos mais altos da diplomacia angolana, que, como em qualquer papel de liderança, enfrentará uma série de desafios, particularmente devido ao foco actual do continente na prevenção e resolução de conflitos.
Durante o seu mandato, Angola poderá enfatizar o seu compromisso com a paz e a estabilidade regionais, como, de resto, já fez com os recentes esforços de mediação de conflitos entre a RDC e o Rwanda, mostrando a sua capacidade de liderança na promoção da paz e segurança e na promoção de um ambiente estável propício ao comércio e ao investimento.
Fruto da sua experiência, Angola pode também servir de plataforma internacional para defender os interesses africanos em fóruns económicos globais, reforçando a sua posição como uma voz significativa para o continente no cenário mundial.
Para garantir um mandato bem-sucedido e auspicioso, o país está a preparar-se convenientemente em várias frentes, principalmente no domínio do fortalecimento diplomático, elaborando uma agenda proactiva e dinâmica.
Está igualmente a intensificar os seus compromissos diplomáticos com outros Estados-membros da UA, para construir alianças e cooperação, o que envolve a participação em diálogos e estruturas para promover a unidade e abordar desafios compartilhados.
Questões como direitos sociais e humanos, saúde, educação deverão merecer atenção durante o mandato.
Outro assunto em agenda tem a ver com a concretização da Zona Livre Comércio Continental Africana, de modo a promover a integração económica que alinhe com a visão de uma África mais unida e reforçar alianças com parceiros internacionais.
Trata-se de uma estratégia fundamental que pode ser vencida com recursos e conhecimentos técnicos necessários para enfrentar desafios comuns, como as alterações climáticas e o desenvolvimento sustentável.
O país pode, ainda, liderar projectos de grande escala que conectam as nações africanas e aumentam o comércio regional e a mobilidade. Esse desenvolvimento não apenas facilita a integração económica, mas também posiciona Angola como um “hub” central para a conectividade africana.
Nesta perspectiva, o Corredor do Lobito, um trajecto de pessoas e mercadorias composto por infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias que congrega o Porto do Lobito e o Caminho de Ferro de Benguela, pode jogar um papel determinante na diversificação e no desenvolvimento económico da região.
Isto é, porque o mesmo atravessa Angola do Lobito ao Luau, passa por Kolwesi e Lumbumbashi, na República Democrática do Congo (RDC), entra na Zâmbia, por Chingola, e termina em Ndola, onde estão as ligações ferroviárias aos portos no Oceano Índico, nomeadamente em Dar-Es-Salam (Tanzânia), Beira (Moçambique) e Durban (África do Sul).
Deste modo, quando a infra-estrutura de transportes estiver completamente operacional, a linha irá aumentar as possibilidades de exportação para a Zâmbia, a RDC e Angola, reduzir de forma significativa o tempo médio de transporte e os custos logísticos, reforçar a circulação regional de bens e promover a mobilidade das pessoas. FMA/ART/SR