Luanda – Espaço infinito para a livre circulação de ideias e opiniões, as redes sociais tornaram-se nos dias de hoje “numa autêntica” dor de cabeça para pais e encarregados de educação face ao perigo que dela emana para o mundo dos adolescentes e crianças.
Por Vissolela Cunha
Afastamento das pessoas do mundo real, ansiedade e baixa auto-estima, dificuldade em lidar com a frustração, perturbação do sono e insónia, falsa sensação de preenchimento, de participação na vida dos outros e criação de laços superficiais são, apenas, algumas das consequências provocadas pelo uso constante e desregrado das redes sociais.
Para quem faz uso das redes sociais depara-se diariamente, com constantes campanhas de ódio, assédios, exposição da intimidade alheia e até tentativas de homicídio ou homicídio e suicídio.
Esse fenómeno, que invade lares e centros profissionais, traz consigo informação global, muitas vezes sem filtro, apesar de ser um meio também de aprendizagem para, infelizmente, a minoria.
Actualmente existem diferentes tipos de redes sociais, cada uma com um propósito e público-alvo específico, com destaque para o Facebook, Youtube, Watshapp, Instagram e Twitter que já se tornaram populares e fazem o dia-a-dia dos adolescentes.
Estudos indicam que a maior parte dos usuários de redes sociais o faz por via de telefones celulares, sendo os grupos mais activos os jovens e adolescentes, que buscam de tudo um pouco, muitas vezes de forma “cega” e sem percepção dos perigos e riscos das plataformas virtuais, quando mal usadas.
Pais apostam na monitorização dos conteúdos
Entre os milhões de adolescentes angolanos que usam as redes sociais, está Bruno Almeida, de 15 anos. Bruno usa diariamente as redes sociais para comunicar-se com amigos.
Sempre de olho atento, Camila Almeida, mãe de Bruno, diz que monitora os diversos grupos de Whatsapp em que o filho está inserido para ver se o conteúdo é adequado e, principalmente, se os contactos são, de facto, da sua idade.
“O tempo que ele passa nas redes sociais é algo que realmente deve ser controlado. Se deixar, ele passa o dia inteiro assistindo a vídeos no YouTube”, afirma.
Pelo apego do filho nas redes sociais, Camila conta que recorre, frequentemente, à tecnologia como moeda de troca com outros bens de que gosta para negociar ou punir as atitudes do adolescente.
O mesmo truque é usado pela empreendedora Luzia dos Santos, mãe da adolescente Jasmine dos Santos, de 13 anos. Luzia dos Santos também monitora o conteúdo e os amigos dela nas redes.
Entre os assuntos favoritos da menina estão jogos e assuntos relacionados à moda.
“De vez em quando pego o telemóvel e olho com quem ela está a falar o Whatsapp, quais são os assuntos. O que vejo está dentro da normalidade da idade dela. Não tem nada que fuja do que ela deveria vivenciar na idade dela. Às vezes ela posta coisas exageradas no Facebook e eu a mando apagar”, disse Luzia.
Por outro lado, a advogada Rosa Branca, mãe da adolescente Weza Lipe, de 16 anos, reconhece que as redes sociais apresentam duas faces: benéficas no aspecto formação, educação e socialização entre os adolescentes e perigoso, por colocar em risco o bem-estar dos usuários, quando aproveitadas por mal-feitores.
Tal como os demais pais e encarregados de educação, a advogada também monitora os conteúdos, mas não impõe e nem exige, apenas conversa, orienta e alerta sobre os riscos.
Para a filha se desligar do mundo virtual diz que estimula a leitura.
Psicólogo aconselha o redobrar da vigilância
“O excessivo uso das redes sociais pode criar problemas de foro físico e psico emocionais”, alerta o sociólogo Pedro de Castro Maria.
A preocupação pelo assunto ganha tom diferente, justamente por se notar que, em Angola, a “febre” por espalhar boatos ocupa espaço privilegiado, não importando o estatuto ou a classe social.
Pedro de Castro Maria avança que pode levar os adolescentes a distracção social, furtando-se de alguns compromissos importantes da vida, referindo ao fraco desempenho nos estudos e fraca sociabilidade.
O sociólogo refere que os adolescentes que fazem o mau uso das redes sociais acabam se afastando dos ambientes familiares, alertando para o perigo com o contacto com pessoas com intenções duvidosas e se tornarem vítimas de crimes.
Apesar dos maléficos que podem advir do mau uso das redes sociais, há também ganhos, entre os quais ser o início de boas relações e contribuir no processo de ensino e educação.
O especialista chama a atenção das famílias para a criação de momentos íntimos para que o uso excessivo da tecnologia seja evitado.
“Refeições em família, horários de descanso e actividades com amigos e famílias devem ser momentos de lazer para adolescentes e adultos”, aponta.
Apelou a sociedade, principalmente aquelas voltadas na acção educativa, para que consigam ajudar os adolescentes a criarem valores positivos na sociedade, designando uma abordagem aos problemas sociais, escolhendo o que é bom nas ferramentas sociais.
Governo apela ao uso responsável
A esse respeito, o secretário de Estado para a Comunicação Social, Nuno Caldas, entende que a questão das redes sociais é complexa, sendo uma preocupação mundial.
No caso de Angola, informa que há melhores condições de regulação, uma vez que algumas medidas poderão ser conformadas, agora, com a revisão do pacote legislativo da comunicação social, enquanto se faz uma análise comparada com outras geografias.
Indagado sobre as medidas adoptadas pelo Estado para regular o uso correcto das redes sociais no país, Nuno Caldas diz que o Código Penal, recentemente aprovado, já prevê medidas criminais e penais. “Nós vamos alinhar e convergir com o Código Penal”.
A ideia, adianta, é evitar os problemas recorrentes das “fake news” (falsas notícias).
Apela, por isso, a uma postura mais responsável na partilha de informações, encorajando a sociedade a conferir, com regularidade, se são conteúdos verdadeiros ou falsos.
Em Angola, um estudo realizado pela “We Are Social” e a “Hootsuite”, disponibilizado pela empresa “Digital Global Digital Overview”, indica que cerca de 14,60 milhões de angolanos têm um telefone com capacidade para aceder à Internet, o que representa um aumento de 46 por cento.
A pesquisa avança, igualmente, que o país tem cerca 2,20 milhões de usuários activos nas redes sociais, que gastam em média diárias, 3 horas e 43 minutos na Internet.
A análise concluiu que cerca de 60 por cento dos usuários acedem às plataformas digitais por via de telefones móveis, contra 43,3 por cento que o fazem através de computadores portáteis e de mesa, e 1,7 via tablet, número “bastante reduzido”.
Só em 2020, houve um aumento de sete por cento (298 milhões) de novos utilizadores de Internet, em comparação com o ano de 2019.
Em concreto, o país conta com 6,8 milhões de consumidores de Internet, actualmente, sendo que a maioria deles já tem actuação confirmada nas redes sociais.