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O Simbolismo histórico-cultural da visita de Biden

Terminal de Passageiros do Museu da Escravatura
Terminal de Passageiros do Museu da Escravatura
Bráulio Pedro - Angop

Luanda – Para além do especial foco na cooperação bilateral em termos económicos, a deslocação de Joe Biden a Angola é uma oportunidade para o reencontro com a história, relembrando o vínculo entre os dois países estabelecido durante os 500 anos de tráfico de escravos.

Por António Tavares e Osvaldo de Abreu, jornalistas da ANGOP

Os primeiros africanos na América vieram de Angola e é caso para dizer-se que os EUA nasceram também com o trabalho de escravos angolanos.

Em finais de Agosto de 1619, um navio de corsários holandeses e ingleses com o nome de White Lion (Leão Branco) atracou no que era então Point Comfort (hoje Fort Monroe) na colónia britânica da Virgínia, com pouco mais de 20 escravos angolanos. 

Segundo historiadores, quando em 1624 os holandeses se fixaram no que é hoje Nova Iorque, rapidamente se depararam com o problema de falta de mão-de-obra.

Dois anos depois, vários escravos idos de Angola chegaram ao território em navios de corsários que provavelmente os capturaram em navios esclavagistas portugueses ou espanhóis a caminho das Caraíbas ou América do Sul.

O seu trabalho consistia em participar nas colheitas, limpar mato, ajudar na construção do muro que protegia o colonato de possíveis ataques ao longo do que é hoje a famosa Wall Street (Rua do Muro).

A conhecida Broadway, a vasta avenida que atravessa quase toda a ilha de Manhattan, foi iniciada nesse tempo provavelmente por escravos angolanos, dizem historiadores.

Por isso, a visita do Presidente Joe Biden ao Museu da Escravatura em Angola marca um momento histórico e de profundo simbolismo cultural.

Localizado na cidade de Luanda, este museu, construído no antigo lugar onde escravos eram baptizados antes de serem embarcados para as Américas, oferece um mergulho na dolorosa história do tráfico transatlântico de escravos.

No local, o Presidente Biden encontrará artefatos, documentos e relatos que narram o impacto devastador da escravidão, destacando a resiliência dos povos africanos e as conexões profundas entre Angola e as Américas.

Este espaço é um testemunho vivo da tragédia humana que moldou as relações entre continentes, servindo como um ponto de reflexão sobre o passado e uma inspiração para promover a justiça e a igualdade nos dias de hoje.

Para os povos americanos e angolanos, o Museu da Escravatura representa um elo poderoso de memória e identidade compartilhada.

Ele relembra as gerações que sofreram e resistiram, enquanto reforça a importância do diálogo intercultural na construção de um futuro mais inclusivo.

Joe Biden terá a oportunidade de compreender o contexto histórico da escravidão, desde as primeiras rotas comerciais que partiram de África até o impacto global que o sistema escravocrata gerou.

Este momento também reforça o compromisso dos Estados Unidos com a luta contra o racismo e as desigualdades sociais, honrando as vidas que ajudaram a construir a nação americana.

Além da sua relevância histórica, o Museu da Escravatura destaca-se como um importante ponto turístico para visitantes de todo o mundo.

Especialmente para os americanos, a experiência proporciona um retorno às raízes da diáspora africana, fortalecendo a conexão com as suas origens e estimulando a busca por reconciliação histórica.

Neste sentido, espera-se que esta visita seja registada como um marco cultural de união entre Angola e os Estados Unidos, sublinhando a importância da preservação da memória colectiva e reafirmando os laços entre as duas nações.

Este encontro entre história, a cultura e a diplomacia ecoará como um exemplo de como o passado pode servir de base para um futuro mais humanista e solidário.

Família Tucker

Foi com este espírito de reencontro com a história que o Presidente João Lourenço, aquando da visita oficial aos Estados Unidos, em Setembro de 2021, convidou a família Tucker, com raízes em Angola, a visitar o país.

Na altura, os descendentes de Antoney (António), um escravo angolano que foi levado, há mais de 400 anos, por um navio negreiro à América e colocado numa plantação, no território norte-americano da Virgínia, manifestaram a pretensão de conhecer Angola.

Assim, João Lourenço formulou o convite para visitarem Angola, de modo a partilhar a sua experiência com o Arquivo Nacional, universidades e as comunidades angolanas.

Na sequência, três membros da família William Tucker efectuaram a primeira visita a Angola, tendo sido recebidos, no dia 17 de Dezembro de 2021, pelo Presidente João Lourenço, no Palácio Presidencial.

Tratou-se de Carolita Cope, Vincent Tucker e  Wanda Tucker. Esta última, na qualidade de porta-voz, disse que as visitas ao país servem para adquirir conhecimentos sobre os seus antepassados.

Wanda Tucker referiu que em Angola se sentem ligados aos seus ancestrais e raízes.

“Foi gratificante podermos voltar aqui e ver o país de origem dos nossos ancestrais, a nossa origem. Certamente, isso traz para nós uma nova e diferente identidade, porque há muitos afro-americanos que não têm esse privilégio”, realçou.

Para Caroline Cope, a alegria está no facto de ter conseguido aprender sobre a história de António Agostinho Neto (primeiro Presidente de Angola), sobre o rio Kwanza e sobre o lugar donde partiam os navios que transportavam os seus ancestrais e o trajecto que faziam.

Desde então, a família Tucker visita anualmente Angola para, entre outros, explorar o património cultural existente e realizar visitas a locais históricos da rota transatlântica de escravos, assim como conhecer as potencialidades do país.

Nesta senda, em Junho de 2024, o Presidente João Lourenço recebeu em audiência o vice-prefeito da cidade de Hampton (Estados Unidos), James Gray, que integrou uma delegação desta família norte-americana, composta por 24 elementos.

A questão da realização de conferências internacionais, para abordagem das origens dos afro-descendentes e das oportunidades de investimento em Angola, foi manifestada em Setembro de 2023, em Luanda, durante um encontro entre os Tucker e o ministro angolano da Economia e Planeamento.

A família Tucker já visitou as províncias de Luanda, Malanje e Cuanza-Norte, fruto das várias deslocações ao país.

Os Tucker são detentores da Willian Tucker 1624, uma organização ou associação que realiza pesquisas sobre a vida de William Tucker e seus descendentes.

A organização tem também ajudado afro-americanos a localizarem as suas raízes ancestrais, reconectarem-se com o passado e estreitarem os laços de amizade, fraternidade e irmandade com Angola.

Na sua trajectória, esta família jogou um papel fundamental na conformação dos Estados Unidos da América.

Contudo, é caso para dizer que Angola e os Estados Unidos possuem um caminho histórico comum que remonta a Agosto de 1619, altura em que pisavam o solo americano os primeiros escravos provenientes de Angola.ART/OHA/IZ

 

 





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