Icolo e Bengo - Quem se desloca, nos dias de hoje, à secular vila da Muxima, no município da Quiçama, província de Luanda, depara-se com um cenário desolador, um espaço sem vida e pouco convidativo para a permanência.
Por Assis Quituta, jornalista da ANGOP
Este cenário, porém, pode considerar-se transitório, tendo em conta o futuro que se avizinha para essa localidade,
que será uma das principais referências do turismo religioso, em Angola.
A peregrinação ao Santuário da Nossa Senhora da Conceição da Muxima realiza-se, geralmente, em finais do mês de Agosto e princípio de Setembro de cada ano.
Nessa altura, milhares de devotos vindos de todas as províncias de Angola e de alguns países da Europa, da América, da Ásia e de África tornam a vila bastante movimentada e quase sem espaço sequer para circular.
Mas contrariamente a esse ambiente vivido nos dias da peregrinação, aquela que é
a sede municipal da Quiçama fica, normalmente, às moscas e com muita poeira, mercê das obras de requalificação de que está a beneficiar.
Os menos de mil habitantes locais dificilmente são avistados pelo bairro ou pela única rua da vila que ainda se apresenta com a maioria das residências construídas à base de pau-a-pique, barro e chapas de zinco.
De resto, este é o mesmo cenário registado em todas as comunas que compõem o município da Quiçama, designadamente, Quixingi, Mumbondo e Cabo Ledo, fazendo fé na sua categoria classificativa, como sendo de nível C, rural.
A ausência dos habitantes na vila justifica-se por estes terem como principal actividade a agricultura e, por isso, quando a chuva começa a dar o ar da sua graça, todos os dias, ao amanhecer, arregaçam as mangas para lavrar a terra.
Por outro lado, quase todos os camponeses preferem permanecer nos seus campos agrícolas, onde constroem pequenos aposentos à base de pau-a-pique, barro e capim, visando evitar longas caminhadas de casa para a lavra e vice-versa.
Trata-se de casas que distam alguns quilómetros da vila que futuramente acolherá uma basílica.
Entretanto, pouco menos de seis cantinas (micro-mercados) dos famosos mamadús ou malianos, estão de pedra e cal, com os seus pequenos negócios, aguentando quaisquer intempéries, além do mercado municipal, onde abunda a farinha de mandioca.
Pequenas quantidades de peixe bagre e cacusso seco, batata doce, cana de açúcar, entre outros produtos do campo, podem também ser encontrados naquele mercado.
Em breve, os moradores da vila da Muxima serão transferidos para novas residências, construídas pelo Estado, na localidade do Koxe, cerca de oito quilómetros da vila, no âmbito da requalificação que dará lugar a uma cidade moderna.
Projecta-se uma nova cidade acolhedora, com várias infra-estruturas sociais, incluindo hotéis, escolas e habitações, além de uma basílica, o que tornará a região num ponto de eleição do turismo religioso.
Por esta altura, até mesmo o comércio praticado ao longo da Estrada Nacional (EN) 110, Catete/Muxima, é quase nulo, apesar de ainda haver alguma quantidade de tomate e cebola à venda, em virtude da pouca circulação de pessoas e veículos para a vila da Muxima e vice-versa.
Por essa razão, camponesas e comerciantes sazonais reclamam contra a baixa na venda dos seus poucos produtos e querem uma peregrinação à Muxima de periodicidade trimestral ou semestral, por ser uma oportunidade de escoamento dos seus produtos, bem como para o aumento da sua renda familiar.
À entrada da vila, um estaleiro da OMATAPALO, empresa responsável pela sua requalificação, não passa despercebido da retina de todos e, logo à seguir, são vários camiões basculantes, cisternas, retroescavadoras e bulldozers, devastando montanhas e levantando poeira em todos os cantos e recantos da Muxima, que dão as boas-vindas aos visitantes.
Todos os homens e meios dão o melhor de si, em prol de uma causa única, que é a requalificação da vila, estando os trabalhos centrados, neste momento, em desbastar grandes montanhas para expandir a área plana e assim permitir o início das construções de infra-estruturas.
A orla do rio Kwanza, numa extensão calculada de um quilómetro, está a ser melhorada de modos a oferecer um visual mais agradável e convidativo, bem como maior segurança aos utentes.
Nesta tarja foi construído um pequeno porto, onde, todas as manhãs, camponeses e pescadores artesanais atracam com vários produtos, com destaque para a mandioca, a batata-doce, o mamão, a cana de açúcar, a banana e o maruvu (vinho de palma).
São produtos vindos das lavras situadas na outra margem do rio, assim como enormes quantidades de peixe tilápia (chopa), comercializado maioritariamente nos mercados do Km30, do Cacuaco e do Catintom, respectivamente, nos municípios de Viana, Cacuaco e Maianga.
O que será a vila da Muxima?
A vila da Muxima está prestes a tornar-se em um pólo de desenvolvimento turístico religioso, com a decisão do Executivo angolano de transformar o espaço para o tornar mais atractivo aos nacionais e estrangeiros e passar a gerar receitas para o Estado em virtude do seu potencial.
O projecto abrange duas componentes de financiamento, num investimento total de mais de 300 milhões de euros, dos quais 150 milhões garantidos pelo Governo português, para cobrir a construção de residências e equipamentos sociais.
Das obras projectadas para a primeira componente constam mais de 500 casas, em construção, neste momento, para o realojamento dos actuais moradores, assim como a futura vila da Muxima, que se espera vir a ser um pólo de atracção de investimentos privados.
Na segunda componente do financiamento, mais de 150 milhões de euros estão afectados à construção da basílica e de todos os serviços complementares, suportados pelo Governo angolano, com recurso à banca nacional.
O que está a ser feito?
Desde o lançamento da primeira pedra, pelo Presidente da República, João Lourenço, em Julho de 2022, para uma obra de 36 meses de duração, estão a ser desbastadas montanhas para alargar o espaço plano, onde se vai erguer as infra-estruturas.
Mais de 100 casas já estão construídas, na localidade do Koxi, cerca de oito quilómetros do centro da vila, para acolher os actuais moradores da Muxima.
Quando terminarem as obras, de certo que, com o grande fluxo de turistas esperados, abre-se uma esperança de grandes actividades comerciais, uma grande valia para os camponeses, sobretudo, apesar de exercerem de forma sazonal. AJQ/IZ