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Lúcia Manuel – A história de superação após infecção por sida

Lúcia Manuel - A história de superação após infecção por Sida (foto ilustrativa)
Lúcia Manuel - A história de superação após infecção por Sida (foto ilustrativa)
David Dias (ANGOP)

Luena – Lúcia Manuel (nome fictício), de 27 anos, residente na terceira província do país com o maior índice de casos de sida (Moxico), contraiu o HIV, há três anos, durante um repugnante acto de violação, perpetrado por um grupo de marginais.

Por Isalvina Upite, jornalista da ANGOP

A jovem mulher foi abordada por cinco marginais, à calada da noite, quando regressava da casa do namorado, altura em que foi atacada e forçada a ter relações sexuais desprotegidas, que resultaram em dois “eternos” problemas: de saúde, por contrair o vírus agente causador da sida, e o trauma da violação.

Assim, Lúcia passou a fazer parte da estatística de três mil 164 pacientes portadores do HIV controlados na província habitada por mais de um milhão de pessoas, só superada por Cunene e Luanda, em termos de incidência da doença.

Desde então, levou anos para superar a sombria noite, o angustiante sofrimento da violação e a incurável doença crónica, cujo diagnóstico só descobriu seis meses depois de ser internada em estado crítico, dado o quadro clínico grave que apresentava à época.

“Aquela noite mudou por completo o rumo da minha vida”, contou à ANGOP, ainda emocionada com lágrimas, apesar de ter passado três anos desde a infecção.

Com receio de ser discriminada, devido à persistência do estigma e ou à ignorância, disse que guarda essa informação, evitando partilhar com membros da família, muito menos com os amigos.

"É muito difícil ser portadora, sinto-me excluída, fechada e com medo de acontecer o pior", continua, enquanto insistia em alertar as jovens mulheres a evitar saídas adiáveis às noites, pois, mesmo Luena sendo uma cidade calma, a violência vai aumentando a cada dia.

Antes de contar como tem sido o seu dia-a-dia, num mês (Dezembro) dedicado à consciencialização relativa à sida, Lúcia Manuel chama atenção às autoridades governamentais para melhorar os programas virados para a sensibilização visando mudança de atitudes, comportamentos e práticas.

Além do medo do preconceito da sociedade, disse que passa por dificuldades financeiras para seguir as consultas, bem como para se alimentar “em condições”, como exige a medicação.

Lúcia perdeu o namorado, distanciou-se da família, da sociedade, desistiu de ingressar na universidade onde tencionava estudar Direito, para ser advogada e defender os mais necessitados devido ao elevado nível de estigma, discriminação e preconceito.

Não obstante ter perdido “parte de si”, Lúcia superou-se, envolveu-se no tratamento assistido pelos hospitais públicos e vai reerguendo-se, tentando recuperar o tempo perdido.

Embora reconheça o preconceito como o grande obstáculo das pessoas vivendo com o  HIV, hoje mais estável física e psicologicamente, Lúcia Manuel já sonha em retomar os estudos no próximo ano lectivo.

Outras “vítimas”

Como Lúcia, Joia Arão (também nome fictício), jovem de 20 anos de idade, também contraiu o vírus, há dois anos, com apenas 18 anos, supostamente por intermédio de um namorado que conheceu durante muito pouco tempo.

Segunda filha, no meio de sete irmãos, e única vivente com o HIV/Sida em casa, Jóia Arão nunca teve dúvidas de que o seu namorado lhe transmitiu o vírus de forma dolosa e se afastou oito meses depois, misteriosamente.

Com lágrimas e carregada de muita emoção, a jovem mulher segue o programa de tratamento, com a esperança de obter bons resultados e ter uma vida tranquila.

Na mesma situação encontra-se Francisco João, que convive com o vírus desde 2021, altura em que a doença começou a apresentar os primeiros sinais, fragilizando o seu organismo.

Sem a mínima ideia de como contraiu a doença, para salvaguardar a segurança da família, decidiu “desistir” do casamento de 30 anos, uma vez que a parceira está livre do vírus.

“Na família, além do meu primogénito, que também é portador, ninguém conhece o meu estado serológico, e isso levou-me a terminar o meu relacionamento de muitos anos de amor, que resultou em sete filhos”, disse.

Conforme o interlocutor, foi uma decisão difícil, mas a melhor que encontrou para a protecção da parceira.

Inscrito no Programa de Combate contra o HIV/Sida, há três anos, Francisco João diz que não enfrenta dificuldades no seguimento do tratamento, pois cumpre a sua medicação com rigor.

Na senda deste drama, uma outra jovem de 21 anos de idade, que solicitou o anonimato, contou que descobriu que era portadora de HIV/Sida, durante um exame de rotina na fase de gestação.

Conta que lhe foi transmitido o vírus de forma dolosa pelo ex-marido, uma vez que este já seguia o tratamento havia alguns anos, alegando que se tratava de medicação para diabetes.

Após a descoberta, inscreveu-se rapidamente no programa “Nascer Livre Para Brilhar”, cujo tratamento permitiu que a sua bebé nascesse sem o vírus da sida.

Quase 155 óbitos e 338 desistências do tratamento

De acordo com a supervisora do Programa de Combate ao HIV/Sida no Moxico, Clotilde William, dos 52 mil 311 utentes testados no primeiro semestre do ano em curso, três mil 431 tiveram resultado positivo, em 2024, mais mil 574, em comparação com igual período anterior.

Actualmente, seguem tratamentos três mil 164 pacientes, contra mil 417 de igual período  interior.

Com o preservativo a liderar o método mais eficaz para a prevenção, a taxa de abandono do tratamento subiu para 338, contra os 256 registados no primeiro trimestre de 2023.

Neste período, 155 pessoas faleceram, por complicações associadas ao HIV/Sida, contra os 60 do ano findo. 

Todos os anos, a humanidade assinala, a 1 de Dezembro, o Dia Mundial de Luta contra a Sida, como uma oportunidade para apoiar as pessoas envolvidas na luta contra a doença.

A efeméride, que este ano se celebra sob o lema “Siga o caminho dos direitos humanos”, enquadra-se ainda nos esforços de melhorar a compreensão do vírus como um problema de saúde pública global. ISAU/TC/YD/IZ





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