Interesses estratégicos adiam construção de autódromo 

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  • Luanda • Sábado, 31 Agosto de 2024 | 18h07
Lançamento da primeira pedra para construção do Autódromo de Cabo Ledo
Lançamento da primeira pedra para construção do Autódromo de Cabo Ledo
Marcelino Camões

Luanda – Os amantes do automobilismo, quiçá de outras modalidades de corridas motorizadas, em Angola, vão, por mais algum tempo, continuar privados de provas da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) na região de Cabo Ledo, ao contrário do que esperavam, três anos depois do lançamento da primeira pedra da construção do novo Autódromo de Luanda de  nível um.

Por Ventura Bengo, Jornalista da ANGOP

A ANGOP apurou que após o lançamento do projecto, em Setembro de 2021, pelo presidente da FIA, Jean Todt, a construção da infra-estrutura está sem execução por questões estratégicas governamentais, viradas para a edificação do Autódromo de Moçâmedes, na província do Namíbe.    

Embora o projecto de Cabo Ledo, concebido para uma extensão de 41,66 hectares, não esteja posto de lado, a prioridade vai para o Namíbe, no âmbito da estratégia governamental, que visa potenciar o turismo naquela região sudoeste do país.

Esta informação foi prestada à ANGOP pelo presidente da Federação Angolana dos Desportos Motorizados (FADM), Ramiro Barreira, sem, no entanto, mais detalhes.

A zona do Pólo de Desenvolvimento Turístico de Cabo Ledo, município da Quissama, localiza-se a 120 quilómetros da capital do país (Luanda) e o  empreendimento é parte de um plano integrado, nomeadamente kartódromo, hotel, casino, resortes, entre outras valências. 

Por altura do lançamento da pedra, o Gabinete de Gestão do Pólo de Desenvolvimento Turístico de Cabo Ledo (GGPDTCL) apresentou ao dirigente da FIA as oportunidades de negócios, constando a construção do autódromo, campo de golfe, kartódromo, bem como casas turísticas, hotéis e similares. 

Assim, à espera de dias melhores, a área para este complexo desportivo enquadra-se em 122 hectares, dos quais 41 destinados ao autódromo, entre a Estrada Nacional número 100 (EN 100), que liga Luanda ao sul de Angola e a zona balnear marítima da região, ou seja adjacente à praia dos surfistas, internacionalmente conhecida.

Autódromo de Luanda  

De igual modo, sem o seu acabamento, principalmente em relação às áreas de apoio e outros apetrechos, está o Autódromo Internacional de Luanda, construído e inaugurado a 28 de Maio de 1972, possuindo 4.3 quilómetros de extensão e 8 curvas.

Foi aberto em 28 de Maio de 1972, uma semana depois do Autódromo de Benguela, projectado por Ayrton Cornelsen e Júlio Basso.

A pista foi criada pela empresa Autodel, através dos seus administradores António Pinto da Fonseca, Rui Gonzaga Martins e o piloto António Peixinho, que encarregaram para o projecto o arquitecto brasileiro Ayrton Cornelson (o mesmo do Circuito do Estoril - Portugal) e do engenheiro Júlio Basso. 

Foi neste circuito que Ayrton Cornelsen criou, e se utilizou, pela primeira vez, o conceito da caixa de brita nas áreas de escape, o que despertou interesse nos pilotos, e, mais tarde seria replicado em outros autódromos pelo mundo.

A pista inicial continha cinco possíveis combinações, tendo a mais curta 3.2 quilómetros de extensão e a mais longa com 6.2 quilómetros a percorrer. 

O circuito foi criado com a intenção de receber a Fórmula-1, o que nunca aconteceu, tendo sido palco apenas de etapas de nível nacional. 

Em 1975, no pós-independência, em período de guerra civil, o autódromo albergou estruturas de instrução militar, e, posteriormente da polícia. A situação durou mais de 20 anos, tendo a pista sido reaberta em 2007 com um circuito reduzido. 

Mas, recuando ao projecto inicial, um excerto de um folheto informativo, de 1971, relativo ao projecto de Ayrton Cornelsen, revela que o objectivo era criar em Luanda um dos melhores autódromos do mundo na época.

As condições climáticas e o meio ambiente, aliados às características específicas políticas, económicas e sociais, levaram a projectar a construção de um empreendimento com características ímpares, composto por várias partes distintas mas integradas e em harmonia.  

O complexo turístico do Autódromo Internacional de Luanda congregaria um  centro desportivo, um comercial e um residencial. 

A componente desportiva contaria com um autódromo de cinco pistas para corridas, bancadas, torre de controlo, boxes, apartamentos para pilotos, oficinas, administração, hospital e heliporto.

A comercial, aberta ao público, teria 40 lojas de diversos artigos, restaurantes, boites, bares, casas de chá, cafés, bilhares, bowling, escolas de condução de aperfeiçoamento, espaços para reuniões, agências bancárias, uma churrasqueira tipicamente africana, hotel com campos de jogos (ténis, voleibol, basquetebol, etc.) piscina e restaurante.

Na esfera comercial concebeu-se também dois parques de campismo, cinema ao ar livre e parque de estacionamento. Para apoio a todo este complexo desportivo e turístico funcionaria, no piso térreo da parte posterior da bancada,  um centro comercial distribuído por lojas, com área de 40 metros quadrados cada uma.  

Já o centro residencial comportaria cerca de 700 bungalows independentes entre si com clube privativo, bem como clube do autódromo exclusivo para os residentes da cidade e seus sócios efectivos. Disporia de condições de excepção, nomeadamente parque de jogos diversos, zonas verdes, piscina, restaurantes, bares, boites, jardins e vias de acesso empedradas. 

Autódromo de Benguela

Noutro ponto do país, aberto em 1972 e inactivo desde 1976, o Autódromo de Benguela possuía 3.9 quilómetros de extensão e 10 curvas. Apesar do traçado da pista ainda continuar no local, o circuito permanece abandonado. 

Anteriormente, as corridas em Benguela eram disputadas no Circuito da Praia Morena, ou seja, num circuito de rua.

Contudo, com a popularidade do automobilismo em crescendo em África, na década de 1970, apelou à construção de um autódromo na cidade. 

Assim, o Autódromo de Benguela foi aberto a 21 de Maio de 1972, uma semana antes do Autódromo de Luanda. 

Ao longo da sua história, recebeu apenas provas nacionais. Em 1975, mesmo com a guerra civil, houve tentativas de realização de provas automobilísticas no circuito. Entretanto, a partir do ano seguinte, a pista ficou inactiva, recebendo apenas eventos privados, até 2001. 

Face ao estado de delapidação, em 2021 o autódromo foi substituído pelo  Circuito Santos Pêra, em homenagem ao falecido piloto angolano.

O percurso completo tinha 3.9 quilómetros de extensão com 10 curvas, um traçado simples, com recta principal e uma longa, e uma combinação uniforme de curvas em três partes. 

Uma versão curta da pista também poderia ser usada, numa extensão de 2.7 quilómetros e 9 curvas. 

Litígio

A ANGOP soube que o antigo Autódromo de Luanda encontra-se situado numa parcela territorial reclamada pela economista e professora universitária  Laurinda Hoygaard, detentora de um documento de titularidade, um litígio que a opõe a moradores do quilómetro 30 da comuna dos Ramiro, pertencente ao então município da Samba. 

A ex-reitora da Universidade Agostinho Neto reivindica a propriedade de um terreno de quatro hectares numa zona onde já foram erguidas várias residências.

De acordo com os habitantes da área, os marcos com as iniciais de Laurinda de Jesus Fernandes Hoygaard (LJFH) começam no Autódromo de Luanda e terminam na estrada Luanda-Sumbe. 

Desde 2000 que os habitantes mais antigos deram entrada de toda a documentação para legalizar os seus terrenos, mas, até agora, “sem  deferimento”. 

De acordo com informações, como prova de que é a titular do terreno, Laurinda Hoygaard apresentou aos ocupantes o direito de superfície, passado pelo  Ministério do Urbanismo e Habitação, de então, com selo da Conservatória do Registo Predial, datado do dia 17 de Dezembro de 2009. 

Soube-se ainda que a Federação Angolana dos Desportos Motorizados (FADM) que utiliza o autódromo para a realização de várias provas nacionais e internacionais, paga uma taxa de utilização a uma instituição de Laurinda Hoygaard. VAB/MC/ADR

 

 

 

 





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