Pesquisando. PF Aguarde 👍🏽 ...

Huambo em hora de cultura com seus mitos e tradições

1 / 2
Grupo de dança tradicional Katiavala
Grupo de dança tradicional Katiavala
Madalena Cabral
2 / 2
Acto de entronização do novo rei da Chyaka e esposa
Acto de entronização do novo rei da Chyaka e esposa
Zeferino Zinga

Huambo – A província do Huambo, escolhida para acolher o acto central do Dia da Cultura Nacional, que se assinala esta quarta-feira (8 de Janeiro), é uma região de conservação de mitos e tradições, assegurados pelos seus cinco poderosos reinos.

Por Aurélio Janeiro, jornalista da ANGOP

Localizada no Planalto Central de Angola, actualmente com a designação “Huambo é a Banda”, possui os reinos do Bailundo, do Chingolo, do Chiyaca, do Huambo e do Sambo, considerados guardiões do rico mosaico cultural desta região do país que, bem aproveitado, pode gerar receitas ao Estado.

O novo arquivo provincial do Huambo “Constantino Camõli”, o segundo do país, depois do de Luanda, a ser inaugurado no quadro das celebrações do 8 de Janeiro, constitui um dos principais ganhos da efeméride, pois vai preservar memórias, com documentos, fotografias e registos históricos desta região e de outras zonas de Angola.

Trata-se de acervos físicos e digitais memoráveis, anteriormente arquivados em museus e nos governos provinciais.

Constantino Camõli, que está situado no espaço adjacente ao Centro Cultural Manuel Rui Monteiro, vai também servir para trabalhos de pesquisas ou consultas, como fonte primária para os pesquisadores, os historiadores e o público em geral que buscam informações sobre eventos passados do país.

Desses acervos constam os arquivos da dança Olundongo, típica desta região do país ou o Sona (escrita na areia) da zona Leste de Angola, para além de documentos sobre as nomeações dos antigos governadores, diários das colónias e portarias que elevam Huambo à categoria de cidade, entre outros livros.

Recentemente, o ministro da Cultura, Filipe Zau, confirmou que a província do Huambo está a ser transformada, aos poucos, numa das capitais culturais de Angola.

Para a materialização desse desiderato, o governante disse estarem em curso alguns trabalhos, a exemplo da inauguração do Arquivo Provincial do Huambo “Constantino Camõli” e do descerramento da placa da classificação a Património Cultural Nacional da Praça Doutor António Agostinho Neto.

A província possui, também, o Centro Cultural "Manuel Rui Monteiro", para além da elevação a Património Cultural Nacional da dança Olundongo, típica desta região do Planalto Central de Angola, ressaltou.

Acrescentou que o foco será, agora, trabalhar para a inscrição do Olundongo como património cultural universal da UNESCO, à semelhança do que está a ser feito com a dança Tchianda e Semba.

A este propósito, recordou que o Sona (desenhos na areia) da parte Leste de Angola já está reconhecido como património imaterial da humanidade.

Quanto ao museu do Huambo, Filipe Zau disse que os trabalhos serão feitos no seu devido momento, pois primeiro será reorganizada a parte cultural, no seu todo, e seguir-se-ão as outras infra-estruturas.

Defendeu maior valorização do Centro Cultural “Manuel Rui Monteiro” e dos fazedores das artes cénicas na província do Huambo, a serem homenageados no Dia da Cultura Nacional pelo facto de, muitas vezes, não se ter em conta o bom trabalho que fazem em prol da arte.

Por seu turno, o governador da província do Huambo, Pereira Alfredo, disse que esta região do país tem todo potencial para se transformar em capital cultural do país, com mais trabalho dos fazedores das artes em projectos que agreguem valor.

Salientou que a cultura e turismo fazem um “casamento perfeito” e é o momento de a província tirar, no bom sentido, os dividendos destas duas componentes, que existem ricas valências na região, para alavancar a sua economia.

Mitos e tradições 

Um dos aspectos místicos e tradicionais desta região acontece, exactamente, durante a entronização de um soberano, onde, depois de um dia antecedido de danças em estilos olundongo, até ao raiar do sol, o entronizado é dirigido ao local da cerimónia, conhecido por “Utala wa Huvi” (Altar Sagrado) situado junto de uma mulembeira.

Nesse local, acontece o acto de unção com óleo de palma (dendem/dendê) e folhas de elimbui (elimbi?) a todos os convidados, para afugentar os maus espíritos.



Segue-se o momento de aconselhamentos ao novo rei e sua esposa, a rainha “inaculo (Inakulu)” feito pelos mais velhos da corte, “Ombala”, para o sucesso da sua governação e prosperidade do reino, um ritual de bastante significado para os ovimbundos.

Após o aconselhamento, acontece a oração, que depois de aceite pelos antepassados, o novo rei oferece uma cabeça de gado e um cabrito, imediatamente sacrificados no local, como acção de graças e a carne consumida na hora sem qualquer tempero, simplesmente assada com sal.

Os animais sacrificados, segundo a tradição, revelam o poder económico do rei, que, em acto contínuo, é convidado a dançar o estilo olundongo, balançando o chifre do animal morto na cerimónia para mostrar a todos a sua capacidade económica.

Dita a cultura e a tradição dos reinos ovimbundos que o rei que não abate animais na sua entronização revela pobreza e pode não ser respeitado pelos membros da sua corte e do povo, um mito iniciado no principio do século XX e que prevalece até aos dias de hoje.

Estes ritos e mitos, não apenas acontecem em actos de entronização de soberanos, mas, também, incluindo em cerimónias de casamento, em que algumas localidades da província do Huambo continuam a obedecer três rituais, designadamente “okulomba, okutambela e okuvala”.

Okulomba é o alambamento, em que  a famí­lia do noivo deve trazer um casaco para o pai da noiva, um jogo de panos para a mãe, enquanto a virgindade da mulher é testada na noite do alambamento pelo noivo. 

Quando declarada virgem, uma das tias do noivo levará um lençol branco dobrado que irá apresentar às tias da noiva mas, se porventura se der o caso de a noiva não ser virgem, as tias do noivo levarão um lençol branco dobrado com uma perfuração feita de fogo, como sinal de uma grande traição da família da noiva à família do noivo.

Okuvala consiste num acordo que se fazia, entre os familiares do noivo e da noiva, mas o devido ritual fazia-se normalmente antes da idade da puberdade da futura noiva, com o significado de ocupação, pois nenhuma outra famí­lia poderia fazê-lo sem o consentimento da família do futuro noivo.

Por seu turno, Okutambela baseia-se na apresentação oficial do noivo aos restantes familiares da futura noiva, isto para fortalecer o desejo feito na primeira fase.

Por detrás das danças

Com 25 grupos inscritos pelo Gabinete da Cultura e Turismo, esta região dispõe de 30 estilos de danças tradicionais, com destaque para o olundongo, reservada a grandes eventos. Outros modelos são okatita, otchisosi, elisemba, ovidjomba e onhatcho, okamusa, otchitiku e “nawãsindikile”.

Constituídos, maioritariamente, por mulheres, com os homens a se ocuparem apenas dos instrumentos (batuques e tambores), cada um dos grupos procura apresentar lições da vida, com mensagens de sabedoria de como os jovens devem respeitar os hábitos e costumes e como devem sustentar e cuidar as famílias.

Apresentam, normalmente, coreografias diversificadas, principalmente, ligadas à pesca, à caça e ao cultivo, enquanto pressupostos fundamentais para garantir a economia dos agregados familiares, para além de outras sobre o tráfico de escravo e a luta de libertação nacional.

Para a cultura umbundu, a dança é um instrumento que ao ser exibido encontra múltiplos significados, uma vez que a mesma não serve, simplesmente, como divertimento, pois, para além de uma animação, visa prestar acção de graças e outros tributos.

Dentre os 25 grupos, destaque recai para o Katiavala, fundado há 40 anos, no município do Bailundo, assumindo-se como um dos maiores defensores dos valores culturais, através da música e da dança tradicional, que lhe valeu o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de Dança, em 2024.

Figura do Otchinganji

Um outro facto místico e tradicional está relacionado com a figura do Otchinganji, enquanto componente cultural da tradição dos ovimbundos.

A aparição pública do Otchinganji, símbolo da cultura mítica ancestral, acompanhada de danças e canções do estilo olundongo, acontece apenas, de acordo com a tradição local, a partir das 13 horas de domingo e, acima de tudo, em campos pelados ou terrenos baldios.

Trata-se de uma cerimónia colossal e inesquecível, que se inicia com rituais tradicionais no recinto, com o objectivo de afugentar “os maus espíritos”.

Conhecidos, também, por palhaços, são distinguidos pelos bwangungu, sakalumbo, kavyula, Cavange, Elumba e Ngulo, cada um deles com a suas características místicas e tradicionais.

Para os ovimbundos, no Planalto Central de Angola, a figura do Otchinganji representa uma das partes da iniciação tribal, com um papel sagrado, pois, para além de fazer parte do ritual folclórico, também, desempenha a função educativa, instrutiva e, ao mesmo tempo, mística.

O Otchingangi representa o acesso aos rituais sagrados da comunidade, por parte daqueles que passaram pela circuncisão, assim como a maturidade nos usos e costumes consagrados como mais importantes da comunidade.

Esta figura não só anima a comunidade concretamente no caso das danças, rituais e cerimonias mais importantes, como, também inspira ordem, disciplina e respeito.

  Teatro e cinematografia

Actualmente, a província do Huambo, conta com o primeiro Centro Cultural do país, inaugurado em Janeiro de 2024, pelo Presidente da República, João Lourenço, com a designação de “Manuel Rui Monteiro”, em homenagem a este um filho da região, pelo contributo na cultura e na literatura nacional.

A colocação à disposição do Centro Cultural “Manuel Rui Monteiro” constitui uma soberana oportunidade para a massificação, promoção e divulgação da diversidade cultural da região, que a cada dia procura firmar-se, cada vez mais, no contexto nacional em vários aspectos da arte, desde o teatro, a dança, a literatura, a cinematografia ao artesanato.

Palco bastante fértil, do ponto de vista de produção cinematográfica, com realce para as novelas “Vanda Lemos”, emitida pela então Televisão Popular de Angola (TPA), em 1989, Um Homem Nunca Chora”, gravada em 1991, a mini-série “Angola Chama-te”, transmitida pela TPA, em 2010, a província do Huambo conheceu, nos últimos anos, avanços significativos neste domínio.

Um dos maiores destaques recai para o filme luso-angolano “Onde está Deus” chegado à Netflix.

Conta com 57 grupos teatrais, distribuídos por todos os municípios, com destaque para o colectivo de Artes Vozes D´África, que conquistou, em 2012, o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de Teatro.

Entre os mais sonantes, ressalta-se, também, os grupos Chissola, Efetikilo, Revelação, Vangue Vove, Arena Artes, Ecclesistes, que, nos últimos tempos, têm feito do Centro Cultural um espaço para exibição de obras que concorrem para o regaste dos valores morais e cívicos, assim como de preservação e valorização da identidade cultural dos ovimbundos.

 Dia da Cultura Nacional

Esta efeméride foi aprovada, em Novembro de 1986, em homenagem ao discurso sobre a Cultura Nacional do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, proferido em 1979, na tomada de posse dos corpos gerentes da União dos Escritores Angolanos, em Luanda.

Na ocasião, o também poeta António Agostinho Neto fez uma abordagem sobre a Cultura Nacional, que de então a esta parte passou a ser referência fundamental em todas as discussões sobre a temática da Cultura angolana.

O programa comemorativo contempla, entre outros, um café de do artista, no Clube do Kilamba, acção solidária, no Lar dos Pequeninos, na cidade do Huambo, descerramento da placa de classificação da Praça Doutor António Agostinho a Património Cultural Nacional e inauguração do Arquivo Provincial “Constantino Camõli”.

Inclui, igualmente, cerimónia de outorga de diplomas de mérito e de troféus aos operários da cultura na província do Huambo e espectáculo músico-cultural. ALH/IZ





Fotos em destaque

Projecto "Ilumina Angola" beneficia sete milhões de pessoas

Projecto "Ilumina Angola" beneficia sete milhões de pessoas

 Sexta, 03 Janeiro de 2025 | 14h02

Escritor Atanagildo Paulo representa África no concurso literário da América Latina

Escritor Atanagildo Paulo representa África no concurso literário da América Latina

 Sexta, 03 Janeiro de 2025 | 13h58

Desporto “rei” recupera coroa em 2024

Desporto “rei” recupera coroa em 2024

 Sexta, 03 Janeiro de 2025 | 13h54

Central fotovoltaica do Cuito arranca em 2025

Central fotovoltaica do Cuito arranca em 2025

 Sexta, 03 Janeiro de 2025 | 13h46

Executivo angolano aposta no fortalecimento da agricultura familiar

Executivo angolano aposta no fortalecimento da agricultura familiar

 Sexta, 03 Janeiro de 2025 | 13h39

Corredor do Médio Kwanza promete alavancar SADC

Corredor do Médio Kwanza promete alavancar SADC

 Sexta, 03 Janeiro de 2025 | 13h33

Petróleo renasce do declínio e alcança mais de 300 milhões de barris

Petróleo renasce do declínio e alcança mais de 300 milhões de barris

 Sexta, 03 Janeiro de 2025 | 13h29

Dundo quadruplica produção de energia limpa

Dundo quadruplica produção de energia limpa

 Sexta, 03 Janeiro de 2025 | 13h25


A pesquisar. PF Aguarde 👍🏽 ...
+