Dundo - Desde tempos imemoriais, o povo lunda-tchokwe tem feito questão de apresentar-se, em certos períodos do ano, com rituais, cerimónias e festas, reflectindo não apenas suas crenças espirituais, mas também seus valores sociais, tradições ancestrais e conexões com o mundo natural.
Por Hélder Dias, Jornalista da ANGOP
Estas celebrações abrem uma janela para a alma de uma cultura, exaltando os mitos, história e valores que formam a essência daquele povo.
Num mundo cada vez mais globalizado, festivais desta natureza são um testemunho da incrível diversidade e riqueza cultural, bem como do resgate de rituais em vias de extinção.
Com uma exposição de rituais específicos, o festival das tradições, por exemplo, convida a sociedade a mergulhar em universos culturais diferentes e a celebrar a pluralidade que define a existência colectiva dos tchokwes.
O festival, que é realizado uma vez por ano, tem se estabelecido como verdadeiras janelas para a cultura contemporânea, proporcionando experiências únicas e imersivas aos amantes dos hábitos e costumes do povo tchokwe.
Com uma programação diversificada, que abrange diferentes rituais, géneros musicais, dança e o estilo de vida nas aldeias, esse evento, embora na sua segunda edição, se tornou num verdadeiro fenómeno cultural, atraindo multidões de pessoas ávidas por novas descobertas culturais.
Para além dos rituais, contos, mitos, exibições de várias peças artesanais, o festival traz grandes revelações da música e dança tradicional tchokwe, com vista à recreação comunitária, desenvolvendo uma oferta turística sustentável e a respectiva transformação do espaço para uma realidade cultural-pedagógica com modelos de boas práticas.
Uma iniciativa do governo provincial, com o patrocínio da Fundação Brilhante, o evento decorrerá em três dias, num formato de exposições directas, com desfiles, feiras, vendas livres de produtos, serviços de restauração, gastronomia, exposição do artesanato, artes plásticas, corte e costura.
O festival obedece ao calendário Cokwe, entre Cimbemjimbeji (Setembro, início do ano) ou Kamoxi (Agosto, fim do ano), e tem como objectivo resgatar o modelo de práticas positivas das celebrações do povo lunda-cokwe, desde os seus santos, usos, costumes, gastronomia, colheitas agrícolas, rituais diversos e datas comemorativas.
A abertura do maior evento cultural da Lunda Norte é marcada com as celebrações do calendário anual que é completamente diferente do gregoriano, as súplicas e oferendas a Deus, designada em Língua Cokwe por Nzambi Kalunga, Txiphwya (peregrinação, músicas folclóricas), rituais da Mukanda (circuncisão), cikumbi (preparação da rapariga para vida marital).
Uma das atracções do festival é a demonstração da vida familiar tradicional, formas de boa convivência social e cerimónias matrimoniais, exposição dos sinais de código comunicativo, o sona (artes, geometria, pontos cardeais, contos e provérbios), assim como a forma de hospitalidade e o respeito que caracterizam o povo lunda- tchokwe.
O primeiro dia, 30 de Agosto, reserva, entre outros momentos, a exibição das demonstrações sobre a organização e funcionamento da corte real lunda-tchokwe, exibição da dança de regozijo das grandes acções de caça (uyanga).
O ponto alto do festival acontece no segundo dia, com uma peregrinação de oferendas à “Nzambi Kalunga” (Deus das águas).
Na tradição tchokwe, o ritual de oferendas à Nzambi Kalunga, reserva-se para o aspecto misterioso, unitário e remoto por um ser infinito e ubíquo, dador de riqueza, fertilidade e status social.
O ritual vai acontecer no rio Luachimo, no Chitato, às 6h00, seguido de demonstrações das práticas rudimentares da tradição, nomeadamente o Mungongue (o nível alto da formação do jovem, onde se aprende a arte Sona), Tchikumbi (preparação da rapariga para vida marital) e Mukanda (circuncisão masculina).
No terceiro e último dia, será feita a exibição de jogos tradicionais denominados kendo e txela, mbali e kanonga, aliados à animação cultural por via de danças recreativas, como kandowa makhombo e cisela txa kakweji, desfile de tranças e trajes tradicionais (Kassusu, Milamba, Kalarika, Ybongue, Bakala e Txitabala).
A província da Lunda Norte é, por excelência, um celeiro de variados grupos que constituem o mosaico etnolinguístico, onde apesar de relativas diferenças culturais, convivem harmoniosamente seguindo cada grupo a sua realidade histórico-cultural.
Constituem os grupos etnolinguísticos, os tchokwes, lundas (Arund), balubas, kakhongos, imbangalas, songos, dentre outros que se revêem no seu rico folclore e na execução da arte de produção do artesanato, com destaque para as esculturas de madeira e na construção de habitações típicas tradicionais. HD/ADR