Ndalatando - O Corredor do Médio Kwanza (CMK), em Angola, afigura-se como um dos catalisadores futuros do desenvolvimento económico da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), a julgar pela sua posição no mapa das potencialidades energéticas da região.
Por Diniz Simão, jornalista da ANGOP
Com capacidade para gerar mais de sete mil megawats (MW) de energia, o CMK estende-se por um trecho de cerca de 80 quilómetros dos 960 do curso do rio Kwanza, entre Capanda (Malanje) e Cambambe (Cuanza-Norte).
Este rio nasce em Mumbué, município do Chitembo, na província do Bié, e desagua no Oceano Atlântico, na Barra do Kwanza, a Sul de Luanda, a capital de Angola.
O rio que dá nome à moeda angolana possui um enorme potencial energético e é considerado a maior bacia hidrográfica de Angola, com 152 mil 570 km quadrados.
É também o maior rio navegável, por cerca de 258 quilómetros, desde a foz até ao Dondo, no município de Cambambe.
Possui três sub-bacias, designadamente, Alto Kwanza, entre a nascente, no Planalto Central, e a Central Hidroeléctrica de Capanda; Médio Kwanza, que vai de Capanda até à Central Hidroeléctrica de Cambambe; e Baixo Kwanza, de Cambambe até à foz.
A história da produção hidroeléctrica deste rio está associada ao Aproveitamento do Médio Kwanza.
Nesta sub-bacia do rio Kwanza estão instalados os principais centros de produção de energia eléctrica de Angola, tais como Cambambe, Capanda e Laúca, responsáveis pela geração de 85% da produção hidroeléctrica do país.
O Aproveitamento Hidroeléctrico de Cambambe, na província do Cuanza-Norte, com capacidade para produzir 960 MW de energia eléctrica, é o primeiro a ser construído sobre o rio Kwanza, entre 1959 e 1963.
Inaugurado em 2004, o Aproveitamento Hidroeléctrico de Capanda, capaz de produzir 520 MW, é o segundo a ser erguido no Médio Kwanza.
O terceiro foi o de Laúca, também em Malanje, que entrou em operação, em 2017, com capacidade para produzir 2070 MW de energia eléctrica.
Interligação de sistemas regionais
Com estes projectos, o CMK produz, actualmente, três mil 547 MW, quase o equivalente à metade da sua capacidade.
Estes aproveitamentos hidroeléctricos servem, além do Cuanza-Norte e de Malanje, mais nove províncias angolanas, representando um valioso activo do sistema eléctrico nacional que interliga as regiões Norte, Sul e Centro do país.
Luanda, Cuanza-Sul, Uíge, Zaire, Huambo, Benguela são algumas dessas províncias servidas pela energia do Médio Kwanza, ou seja, metade do país interligada a este corredor.
Esta produção será elevada para cinco mil 719 MW, com a injecção de mais energia a ser produzida pela barragem de Caculo Cabaça, em edificação desde 2017, no município de Cambambe, província do Cuanza-Norte, com a conclusão prevista para 2026.
A geração de energia no mais novo “rebento” do Médio Kwanza está prevista para Outubro de 2026, com a entrada em funcionamento da primeira turbina.
Caculo Cabaça vai produzir dois mil 172 MW, e fará parte do leque de barragens no Médio Kwanza, juntamente com Cambambe (Cuanza-Norte), Capanda e Laúca (Malanje).
Além destas, está ainda projectada para o Médio Kwanza a construção das barragens do Zenzo 1 (450 MW), Zenzo 2 (120 MW), Túmulo do Caçador (450 MW) e Luíme (330 MW).
Segundo o ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, o potencial hidroeléctrico de Angola está estimado em cerca de 18 mil MW, dos quais mais de sete mil concentrados no Médio Kwanza.
“Estamos a falar em quase 50% deste potencial, ou seja, se houvesse alguma equivalência com o ouro, diríamos, que aqui é o vale do ouro de Angola, é aqui onde temos a maior riqueza hídrica de Angola, do ponto de vista da produção de energia”, sustentou.
Em recente entrevista concedida à ANGOP, em Ndalatando, o governante considerou que o Corredor do Médio do Kwanza é tão-somente o maior do país, secundado pelo do Cunene, que pode gerar até três mil MW.
Muita oferta Pouco Consumo
O país gera, actualmente, seis mil 283 MW e consome apenas dois mil 375 MW.
Desta produção, três mil 547 MW, ou seja 50%, provêm das três barragens existentes no Médio Kwanza.
“Estamos a produzir mais energia do que estamos a consumir”, reconheceu, por seu turno, o Presidente João Lourenço, em seu discurso sobre o Estado da Nação, em Outubro deste ano.
Por isso, Angola está com os olhos postos na exportação como solução para o excendente da energia que produz.
Na entrevista que concedeu à ANGOP na sua recente visita ao Cuanza-Norte, o ministro João Baptista Borges apontou a exportação de energia para países vizinhos como a saída para o consumo do excedente.
Países da SADC como a África do Sul, a Namíbia, a República Democrática do Congo (RDC) e a Zâmbia registam, actualmente, elevada procura de energia eléctrica.
É neste contexto que Angola devia ver com “bons olhos” a oportunidade de exportar parte da sua produção que ainda não é consumida internamente.
Para isso, o Médio Kwanza assume-se, inequivocamente, como um catalisador para agigantar o desenvolvimento económico da região austral do continente.
Não se pode ignorar as vantagens que a exportação de energia pode trazer para o país, já que se está a falar de recursos cambiais que o país vai buscar com a venda de energia, rumo à diversificação da economia.
O fornecimento ininterrupto de energia constitui um activo incontornável, que importa manter, para o processo de industrialização nacional e regional.
Recursos cambiais
Numa altura em que Angola regista uma superabundância, a estratégia, tal como descrita pelo governante, passa, sem dúvida, pelo uso do excedente para exportar para os países vizinhos.
Ao vender o seu excedente de energia aos países vizinhos, Angola vai buscar recursos cambiais de que tanto carece, para serem utilizados na continuidade de diversos projectos sociais e económicos, em curso, sem descurar os programas de electrificação do interior do país.
A interligação de energia com os países da SADC é muito importante não apenas do ponto de vista da mitigação do défice a nível regional, mas também da viabilização do processo de industrialização da região.
Para esta empreitada, o Estado angolano terá que contar com os privados, que podem comprar a energia para a transportar e revender aos países vizinhos.
Ao Estado competirá a elaboração das políticas de exportação, em vez de investir na comercialização do produto, enquanto prioriza, ao mesmo tempo, a electrificação do país com recursos públicos.
Dito de outro modo, o Estado deve tão-somente encorajar o sector privado a investir na exportação.
Em todo o caso, espera-se que os projectos de construção das barragens do Zenzo 1, Zenzo 2, Túmulo do Caçador e Luíme (330 MW) se concretizem para a elevação da capacidade de geração de energia do país, para que se possa ter excedente suficiente para a sua comercialização.
Neste processo, é mister destacar o CMK como sendo uma via importante, quer para o desenvolvimento interno de Angola, ao longo das províncias por onde passam os cabos da energia aí produzidos, como para os países vizinhos que almejam conquistar a sua afirmação industrial.
De facto, o CMK constitui um factor estratégico de cooperação e integração regional, através das várias externalidades possíveis que proporciona. DS/IMA/IZ