Bailundo celebra 122 anos com tímido investimento privado

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  • Huambo • Terça, 16 Julho de 2024 | 09h01
Vila do município do Bailundo
Vila do município do Bailundo
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Bailundo – A vila do Bailundo, na província do Huambo, comemora, esta terça-feira, 122 anos de existência, com um tímido investimento privado, apesar da forte aposta do Executivo angolano em estradas, habitação, formação técnico-profissional, energia e águas.

Por Zeferino Zinga, jornalista da ANGOP

Localizado a 75 quilómetros a Norte da cidade do Huambo, como sede provincial, o Bailundo é considerado de estratégico, devido à sua confluência geográfica e histórico-cultural, entre outras factores.

É limitado a Norte pelos municípios do Waco-Cungo, província do Cuanza-Sul, e do Mungo (Huambo), a Sul pela Chicala-Cholohanga, a Leste pelo Cunhinga (Bié) e pelo Cachiungo (Huambo) e a Oeste pelo Londuimbali.

Com a estátua do rei Ekuikui II, logo à entrada, símbolo da resistência anticolonial, nesta região do Planalto Central, a circunscrição ascendeu à categoria de vila, a 16 de Julho de 1902, através do Decreto-lei nº 54 do Boletim Oficial nº1.

Nos últimos anos, tem merecido gigantescos investimentos públicos, para o bem-estar da população e atracção do sector privado.

Para além de ser conhecido como terra do Longuesso e fértil em produtos agrícolas, sobretudo o feijão, o município do Bailundo é rico em recursos minerais, como ferro, ouro, fósforo, urânio, cobre e grafite, que podem ser explorados pelo sector privado, para diversificar a economia nacional.

Com uma extensão territorial de sete mil e 65 quilómetros quadrados, tem uma população estimada em 412 mil 689 habitantes, na sua maioria camponeses, residentes em cinco comunas (Bimbe, Hengue, Lunje, Luvemba e a Sede), perfazendo 80 aldeias e 573 ombalas.

Da parte do Executivo angolano, as infra-estruturas públicas estão criadas, na vila, para o licenciamento de empresas que queiram investir localmente, mediante a eliminação da burocracia com o projecto Simplifica, aliada às boas condições das estradas principais, que eliminam quaisquer entraves para se chegar à circunscrição.

Em Maio de 2022, a localidade ganhou uma subestação eléctrica, com capacidade para gerar 20 megawatts de energia, um forte investimento, que permitiu à população da vila dizer “adeus” à escuridão, com foco no seu desenvolvimento socioeconómico.

Trata-se de um equipamento interligado à rede eléctrica nacional, a partir da barragem de Laúca, na província de Malanje, feito jamais visto na sua história, desde que chegou à categoria de vila.

Ainda no âmbito da sua electrificação, está em curso a construção de uma central fotovoltaica, com capacidade para produzir 7,992 megawatts, actualmente a 85% de execução física, com término previsto para Março de 2025.

Antes de Maio de 2022, a energia eléctrica, na vila, era fornecida por uma central térmica de 4.6 megawats de capacidade instalada, mas com apenas 1.6 MW disponível que beneficiava não mais de 10 bairros, de forma alternada, das 16 às 22 horas.

Hoje, passados dois anos, o cenário é completamente diferente. A vila está iluminada, os bairros periféricos e arredores possuem energia eléctrica domiciliar, de forma ininterrupta (24/24 horas), com pelo menos 10 mil famílias beneficiárias, contra cerca de 900 do passado.

Essa energia eléctrica disponibilizada é, sem sombra de dúvidas, um chamariz para os investidores privados nacionais e estrangeiros, que têm a oportunidade de construir fábricas e outros empreendimentos sociais e económicos.

Actualmente, o Bailundo controla 661 micro, pequenas e médias empresas privadas, sobretudo, no ramo agrícola, lojas de vendas de produtos alimentares a retalho e de equipamentos electrodomésticos, padarias, moagens, entre outros bens.

Conta com uma unidade hoteleira e três hospedarias, números que não contentam a Administração local, tendo em conta as potencialidades económicas existentes, com vista à acomodação dos turistas.

Possui, também, três agências bancárias privadas, estando, neste momento, em construção uma outra dependência do Banco de Poupança e Crédito (BPC) que, segundo as autoridades, ainda são insuficientes, pela densidade populacional e potencial mineiro, agrícola e cultural local.

Dado o potencial existente, a pretensão das autoridades locais é que se implementem projectos mineiros, instalação de empresas de produção e de exploração de recursos naturais, com foco na empregabilidade dos jovens e arrecadação de mais receitas, para os cofres do Estado angolano.

Neste momento, está em curso o projecto de iluminação pública dos bairros periféricos e arredores da vila, sobretudo, as vias de acesso à missão do Chilume, onde funciona o Hospital Pediátrico local.

Outro investimento forte do Governo Central, no Bailundo, é a centralidade Halavala, com três mil e cinco residências do tipo T3, inaugurada, em Maio de 2022, pelo Presidente da República.

O objectivo é melhorar as condições de vida, sobretudo das famílias locais, que há muito ansiavam realizar o sonho da casa própria.

Do total de residências do projecto habitacional, constam dois mil 602 apartamentos, 128 moradias térreas e 275 duplex, todas da tipologia T3, para além de equipamentos sociais, com realce para escolas do ensino primário ao II ciclo, incluindo um instituto médio politécnico, centro de saúde, esquadra policial e jardins-de-infância.

Neste momento, o empreendimento habitacional possui uma ocupação efectiva de mil apartamentos, enquanto os demais, apesar de já terem sido distribuídos, aguardam pela entrada dos seus proprietários, numa altura em que o centro de saúde e as escolas estão já em funcionamento.

Formação profissional e água 

A localidade foi, ainda, contemplada, em Janeiro de 2022, com um centro de formação técnico-profissional, denominado “Cidadela Jovens de Sucesso”, que visa formar centenas de adolescentes e jovens carentes locais e não só, cuja principal disciplina é a agricultura, para a melhoria da vida social no futuro destes.

Com capacidade para albergar 220 alunos, sendo 120 em regime de internato, da 7ª a 9ª classes, dos 14 aos 17 anos, a infra-estrutura ministra cursos de Serralharia, Electricidade baixa tensão, Carpintaria e Informática, na perspectiva de fomentar o empreendedorismo, no município e arredores.

Nesta altura, decorrem trabalhos da expansão do sistema de captação e tratamento de água potável, com uma capacidade acima de três mil metros cúbicos/hora e quatro mil de reserva, que, com a sua entrada em funcionamento, prevista para este ano, mais de 28 mil famílias poderão beneficiar do precioso líquido.

Esses empreendimentos são, sem medo de errar, ganhos visíveis e consideráveis, para o município do Bailundo, que necessita, agora, dos investidores privados, para alavancar o seu desenvolvimento socioeconómico.

Com isso, o crescimento demográfico, no município é notável. Porém, devido à falta de investidores, o emprego para os jovens tem sido mais na agricultura e, nos últimos dois anos, na prestação de serviços diversos, que já começam a ganhar destaque, sendo que outras áreas de trabalho privado estão precárias.

Os munícipes são unânimes em confirmar os enormes ganhos registados, sobretudo, os que conheceram a localidade anteriormente, afirmando que a sua diferença evolutiva é abismal. 

Infra-estruturas escolares

No município do Bailundo, foram construiudos uma escola de sete salas de aula e postos de saúde, em cada uma das cinco comunas, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), para reduzir o número de alunos fora do sistema de ensino/aprendizagem e melhorar as condições sanitárias.

Ao todo, estão inscritas 16 acções, entre escolas, unidades sanitárias e aquisições, na sua maioria já na recta final, num orçamento global de 94 milhões, 506 mil e 425 kwanzas.

O sector da Educação matriculou, no ano lectivo 2023/2024, um total de 101 mil 310 alunos, da iniciação ao II ciclo, que estudam em 123 escolas, sendo 108 primárias, 12 do I ciclo, uma do II ciclo e dois institutos técnicos e profissionais, assegurados por mil 361 professores.

Esses números, segundo as autoridades do município, são insuficientes e ainda não satisfazem a demanda real da população, tendo ficado de fora do subsistema normal de ensino/aprendizagem 18 mil 950 alunos, maioritariamente, das zonas recônditas.

Para tal, o programa de combate à pobreza tem permitido a construção de duas a três escolas evolutivas/ano, nas localidades recônditas, para além de facilitar a distribuição da merenda escolar a mil 391 crianças das comunas do Bimbe, Hengue, Lunge e Luvemba, assim como outras acções em curso.

O Bailundo consta do Projecto Aprendizagem para Todos (PAT), uma iniciativa financiada pelo Banco Mundial, que prevê construir, na localidade, quatro escolas.

Na vila, com um saneamento visível em todos os cantos, o sector da Educação tem ganhado escolas privadas, desde o ensino primário ao nível superior, onde, nesta altura, estão contruídas um total de sete, com políticas inovadoras no sistema normal de ensino/aprendizagem.

Infra-estruturas sanitárias 

O município possui 33 unidades sanitárias, sendo dois hospitais, sete centros sanitários e 24 postos médicos, com uma força de trabalho de 712 profissionais, onde a malária é a doença mais predominante.

No âmbito do Programa de Investimentos Públicos (PIP), está por se iniciar a construção do Hospital Central do Bailundo, cuja primeira pedra foi já lançada, em 2022, com dois pisos e capacidade para 244 camas, e prestação de serviços modernos de pediatria, diagnóstico laboratorial, cirurgia, raio X e hemodiálise.

Trata-se de uma futura infra-estrutura sanitária moderna, que, depois de concluída, fará com que a população local deixe de se deslocar, à cidade do Huambo e a outras províncias do país ou para o exterior à procura dos melhores cuidados médico.

Agricultura 

Bailundo possui grande potencial agrícola, uma actividade que é exercida pela maioria da população, em que, na campanha agrícola 2023-2024, foram distribuídos aos agricultores familiares, às cooperativas e às associações 350 toneladas de adubo simples e outros insumos agrícolas diversos, para alavancar a produção.

Estão envolvidos na presente campanha agrícola dois mil 234 famílias, que preveem colher 445 mil 668 toneladas de produtos diversos, com destaque para o milho, o feijão e as hortícolas. 

Algumas vias secundárias e terciarias tem dificultado a transportação dos produtos agrícolas do campo à cidade, daí que estão a ser gizadas políticas para a sua reparação, o mais rápido possível, no âmbito do PIIM e do combate à pobreza, para desinibir o investimento privado neste sector, que é mais notável, na localidade.

Breve histórico do Bailundo 

Fundado a 16 de Julho de 1902, pelo português Teixeira da Silva, Bailundo ascendeu à categoria de vila, no mesmo ano, através do Decreto-Lei nº54.

O nome Bailundo provém de uma toupeira de cor castanha, com risca branca na testa, que apareceu ao rei Katyava, durante a sua entronização.

Chamada por muitos como terra do rei Ekuikui e Katyavala, a região alberga o “poderoso reino da tribo Ovimbundu”, fundado no século XV, então designado por Halavala.

Actualmente, o reino do Bailundo é liderado pelo rei Tchongolola Tchongonga “Ekuikui VI”, entronizado em Julho de 2021, com uma coabitação pacífica com as autoridades municipais, provinciais e nacionais.

Tudo isso em prol do bem-estar da população, assim como da recuperação da hegemonia cultural da localidade, considerada berço do poder tradicional da região do Planalto Central, em Angola.

Tchongolola Tchongonga “Ekuikui VI” é o 37º rei do Bailundo, com uma corte de 37 membros, atendendo à especificidade dos trabalhos do reino, nomeadamente, os sobas Muekalha, Ngambole, Otchiva, Tchitonga, Tchilala, entre outros, com diversas responsabilidades, na ombala.

Trata-se de um reino, cuja ombala está localizada, nos arredores da vila, que nunca faltou um rei, mesmo no tempo do conflito armado que assolou o país, obedecendo à manutenção dos rituais tradicionais de iniciação, à semelhança do passado, apesar de algum cepticismo da sociedades.

Desde a sua fundação, no século XV, passaram pelo reino do Bailundo os reis Katyavala I (fundador), Jahulo I, Samandalu, Tchingui I, Tchingui II, Ekuikui I, Numa I, Hundungulo I, Tchissende I, Jungulo, Ngundji, Tchivukuvuku Tchama Tchongonga, Utondossi, Bonji, Bongue, Tchissende II, Vassovava e Katyavala II.

Constam, igualmente, da lista dos soberanos do Bailundo Ekongoliohombo, Ekuikui II, Numa II, Moma, Kangovi, Hundungulo II, Mutu ya Kevela (vice-rei), Tchissende III, Jahulo II, Mussitu, Tchissendele, Kapoko, Numa III, Pessela Tchongolola, Ekuikui III, Ekuikui IV e Armindo Kalupeteca – Ekuikui, este último destituído, em 2021, por má conduta. ZZN/ALH/IZ

 





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