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Turismo “adormecido” na Baía Farta

Estabelecimento turístico na província de Benguela
Estabelecimento turístico na província de Benguela
Henri Celso

Luanda – O município da Baía Farta, 20 quilómetros a sul da província de Benguela, registou quedas acentuadas de receitas no sector do Turismo, nos últimos 19 meses, devido, fundamentalmente, ao impacto negativo da Covid-19.

Por Francisca Augusto e Venceslau Mateus

Apesar de ser conhecida pela sua grande diversidade de praias e pontos turísticos, a localidade apresenta, actualmente, um decréscimo acentuado de receitas e movimento de turistas na ordem de 80 por cento, conforme dados das autoridades locais.

De acordo com números disponibilizados à ANGOP, antes da Covid-19 o sector do Turismo arrecadava, para os cofres do Estado, mais de três milhões de kwanzas por mês, receitas que caíram, desde 2020, para quase insignificantes 800 mil Kz/mês.

A redução das receitas, realidade vivida em praticamente todo o país, levou ao despedimento de centenas de trabalhadores que tinham nesse segmento a fonte principal de renda.

Em concreto, mais de duas mil pessoas que tinham no turismo o seu ganha-pão estão em casa e sem perspectivas de recuperar os postos de trabalho, devido à pandemia.

Apesar da redução de receitas, a Baía Farta continua a apresentar-se como boa alternativa para o turismo interno, prevendo-se a recuperação gradual do sector no pós-pandemia.

O município dispõe de uma costa marítima bastante rica que parte do Morro dos Carneiros (faz fronteira com a Baía Azul) até ao Namibe, com praias e águas cristalinas, áreas brancas e sol bastante abrasador, susceptíveis de atrair a atenção dos turistas.

O seu potencial turístico inclui, entre outras referências, as praias da Macaca, Baía Azul, ponta de São José e da Lua, que recebiam, antes da pandemia, mais de cinco mil turistas.

Com vários tons de azul, mas sempre limpa, transparente e quente, a Baía Azul, com cerca de três quilómetros de areia suave, é uma das principais referências entre os pontos turísticos do município.

Coloca à disposição dos visitantes uma variadíssima gama de opções em termos de alojamento, restaurantes e outros serviços similares essenciais para o turismo.

Considerada por muitos especialistas uma das principais praias de Benguela, à semelhança da Praia Morena, a Baía Azul é perfeita para descansar e tomar banhos de sol, além de permitir “apaixonantes mergulhos” e a prática de desportos aquáticos ou náuticos.

De igual modo, a Praia da Macaca é uma boa opção para o turismo interno, embora pareça escondida, numa primeira vista, e apresente dificuldades de acesso.

Para se lá chegar, por exemplo, o turista é obrigado a uma caminhada demorada por uma ladeira, passando por uma pequena estrada de terra batida, numa “viagem” aparentemente sem ganhos. Porém, quem chega ao local descobre uma verdadeira beleza natural.

Além da Praia Azul e da Praia da Macaca, a Baía Farta oferece aos turistas a Baía dos Pássaros, espaço famoso pela sua diversidade de aves.

Turismo rústico ganha vida

A par das praias, o município conta com um importante lodge que, à primeira vista, mais parece área de casebres abandonados. Só no interior, o visitante descobre a sua beleza.

Com apenas três anos, o espaço tem condições favoráveis para o campismo e safaris.

Com uma força de trabalho constituída maioritariamente por jovens, coloca à disposição dos visitantes variadíssimas opções de diversão, mas é o safari que se destaca.

Situada entre montanhas, com cerca de 120 hectares, 100 dos quais reservados ao safari, a Baía Farta proporciona aos turistas uma experiência inesquecível, próximo de animais selvagens, como leões, gazelas, pacaças, avestruzes, chimpanzés, macacos, entre outras espécies.

De acordo com Carla Passageiro, uma das várias funcionárias do lodge, o espaço mudou a vida e a forma de muitos verem o turismo na Baía Farta como meros espectadores.

“São apenas necessários mais investimentos para o alavancar da indústria turística da Baía Farta, tendo em conta o seu potencial e a diversidade”, comenta a trabalhadora, que considera fundamental um olhar especial às vias de acesso aos locais turísticos do município.

Do seu ponto de vista, “o município, com investimento, terá tudo para se tornar numa verdadeira potência turística a nível nacional”.

“Temos todos os ingredientes necessários para chamar e reter turistas na Baía Farta, muito sol, praias e alojamento para quem queira fazer turismo”, faz saber.

Praia Morena, o orgulho de Benguela

Apesar das valências e do potencial da Baía Farta, a Praia Morena ainda continua a ser um dos maiores símbolos turísticos da cidade das Acácias Rubras (Benguela).

Emblemática e celebrizada na voz e na pena da escrita de renomados criadores angolanos, continua a ser a principal referência turística da cidade de Benguela, pelos seus encantos, histórias de amor e por um sombreiro proporcionado pelas casuarinas.

Uma das mais conhecidas praias de Angola, ela é muito frequentada quer por munícipes, quer por cidadãos provenientes de outras paragens do país e do estrangeiro, por se situar mais próximo da cidade em relação às outras, pela sua beleza e pelas suas infra-estruturas.

Considerado um local de encantos, onde o sol se casa com a brisa fresca, os seus cerca de cinco quilómetros de costa são preenchidos por enormes casuarinas que oferecem à sua sombra, para sentadas familiares, cantadas amorosas.

Segundo Alexandre Paciência, de 50 anos, um usuário frequente do local, nem a sua condição de residente lhe retira a vontade de frequentar a Praia Morena.

“Todos os dias há sempre coisa nova para ver e apreciar. Temos muitas e belas praias, como as da Baía Farta, mas a Morena é única, é um encanto que nos faz perder no tempo”, diz.

A cidadã Anny dos Santos diz que, pelo seu encanto, faz presença regular na Praia Morena.

“Pelo menos três vezes por semana venho à Praia Morena. É um local óptimo para se relaxar, recuperar do estresse diário e retemperar as ideias”, afirma a estudante.

Por esta altura, sublinha, face às medidas de prevenção e combate à Covid-19, entre as quais figura a proibição do uso das praias, a Morena tem sido usada, maioritariamente, pelos estudantes, por ser um lugar calmo para estudos em grupo.

Se uns têm na longa costa o sítio ideal para estudar ou relaxar, Fernando usa o areal da Praia Morena para mostrar os seus dotes criativos, com construções na areia.

A intenção, diz o jovem de 20 anos, é aumentar a oferta de lazer aos usuários da praia e arrecadar alguma receita financeira para resolver alguns dos seus problemas.

Sem se apegar muito aos lucros, Fernando diz que recebe o que as pessoas queiram pagar, porque o seu foco é mostrar trabalho e ajudar na descontracção das pessoas.

Para conferir melhor comodidade, a área da Praia Morena está a beneficiar de obras, com a colocação de um novo tapete asfáltico, recuperação dos passeios e melhoria do saneamento básico. Terá assentos em granito, modernização dos quiosques e de outras estruturas.

As referidas acções fazem parte de um pacote que visa dar melhor aspecto a alguns lugares degradados da cidade, com realce para a melhoria do saneamento básico.

Rede hoteleira clama por apoio

Agentes hoteleiros da província de Benguela, em geral, e da Baía Farta, em particular, queixam-se também das perdas no sector da Hotelaria, devido à pandemia.

O sector hoteleiro de Benguela vê-se a braços e com dificuldades para sobreviver.

Para se salvar de um afundamento sem precedentes e garantir a manutenção dos empregos, os hoteleiros clamam por maior intervenção do Estado, visando, sobretudo, a manutenção dos postos de trabalho e evitar a falência das unidades hoteleiras locais.

Dados disponibilizados à ANGOP pela Associação dos Hoteleiros da Província de Benguela dão conta da existência de mais de mil 500 unidades hoteleiras, com seis mil camas no total, entre hotéis, restaurantes e similares.

O presidente da associação, Jorge Gabriel, diz haver capacidade de alojamento para quem queira fazer de Benguela, particularmente da Baía Farta, referência no turismo.

Adianta que o sector do Turismo continua a ser um “diamante bruto” a ser explorado, visão partilhada pela funcionária pública Maria Cahiume, para quem a província tem um potencial turístico que pode ajudar a alavancar o desenvolvimento local.

Do seu ponto de vista, as praias que o município da Baía Farta possui podem assegurar a província, com um bom investimento, de forma a atrair turistas nacionais e estrangeiros.

“É pena que este sector não seja muito valorizado“, lamenta a cidadã.

Por seu turno, o ancião Alcino Armando, 70 anos, lamenta o facto de só agora as autoridades sentirem necessidade de falar sobre o turismo a nível de Benguela.

Alcino Armando conta que o potencial da Baía Farta sempre esteve visível, pelo que apela às autoridades locais e não só para criarem medidas tendentes a atrair turistas e investidores para o sector, de forma que o turismo contribua mais para o desenvolvimento do país.





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