Luanda – O município do Chongoroi, província de Benguela, tem dado, nos últimos anos, sinais de recuperação do seu potencial agro-pecuário, contando, actualmente, com mais de 12 mil cabeças de gado, embora ainda longe dos números da era colonial.
Por Francisca Augusto e Venceslau Mateus
Apesar da boa vontade das autoridades e dos criadores locais, dados estimam que a zona, outrora considerada celeiro de Benguela, está a produzir cerca de 10 por cento a menos que antes da sua separação do município de Quilengues (Huíla), em 1975.
Localizada 150 quilómetros a sul da sede capital, com mais de 100 mil habitantes, a vila apresenta condições favoráveis à criação de bovinos e ovinos.
Na época colonial, por exemplo, saíam, semanalmente, da comuna de Bolonguera, 66 quilómetros da sede, pelo menos três mil e 500 cabeças de gado para ser exportadas para Lisboa, capital de Portugal, através do Porto do Lobito.
Em termos numéricos, isso representava uma média de 14 mil cabeças de gado por mês e 168 mil por ano, números que os criadores locais querem ver ressurgirem brevemente.
Apesar da falta de infra-estruturas, como bebedouros e mangas de vacinação, os cento e sessenta e oito (168) criadores de gado contabilizados na região, entre grandes e pequenos (tradicionais), pretendem trilhar pelos caminhos do desenvolvimento e afirmar-se no mercado nacional.
Área de transição para a passagem do gado proveniente do Sul do país (Huíla, Namibe e Cunene), Chongoroi vive dificuldades devido à estiagem e à falta de infra-estruturas, mas prevê recuperar o estatuto de maior criador (de gados) de Benguela e competir com as províncias vizinhas.
Ante o cenário de estiagem que assola o Centro-Sul de Angola, o município dispõe de mais de 150 hectares para a prática da agricultura de subsistência, sendo que os habitantes locais sonham com a entrada em cena de investidores privados para se revitalizar o sector agro-pecuário.
Ricardo Figueiredo é um dos muitos que querem ajudar a devolver o estatuto ao município.
Com pelo menos 68 cabeças de gado bovino e 400 de ovino, o fazendeiro assume não ser fácil sustentar uma fazenda, na medida em que os produtos são muito caros.
“Só para ter noção, temos dificuldades em obter ração animal, bem como vacinas e água. São inúmeras as dificuldades, o que nos obriga a ser criativos”, conta.
Para contornar os problemas, o fazendeiro usa um potente sistema de captação de água, a partir do rio Chongoroi, que, mesmo quase seco, ainda serve para atenuar os efeitos da seca.
Segundo Pilartes da Silva, director municipal da Agricultura, é necessário investir-se forte no sector agro-pecuário, para que esta região possa ajudar a diversificar a economia nacional.
“As terras aráveis e as potencialidades da pecuária esperam apenas pela entrada em cena de novos actores que apostem forte”, declara o responsável.
Sinais promissores na agricultura
Em contrapartida, a par da pecuária, Chongoroi quer voltar a “mexer-se” no domínio da agricultura, explorando, intensamente, os seus mais de 500 hectares de terras férteis.
Dados disponíveis indicam que, embora haja seca, a produção agrícola na época 2018/ 2019 rondou à volta de 40 toneladas de tomate e 900 de cebola.
Na época 2020/2021, considerada atípica, por conta da seca e da pandemia da Covid-19, fixou-se em 16 mil caixas de tomate, 400 toneladas de cebola e 240 de hortaliças.
‘Rainha’ no cultivo de tomate em Benguela, a produção actual aponta para cinco mil caixas nas grandes fazendas e três mil da colheita dos pequenos camponeses.
Mas não só de tomate e hortícolas vive o município do Chongoroi. As suas terras férteis também produzem, em quantidade, laranja, limão, tabaco e milho.
Todavia, segundo Ricardo Figueiredo, os fazendeiros debatem-se ainda com os altos custos do adubo e insecticida, esse último vendido (fraco) a 80 ou 100 mil kwanzas.
Para levar adiante o seu projecto, diz contar com mil hectares de terra de pasto e cultivo, onde, na época 2020, colheu mais de 15 mil caixas de tomate.
Pilartes da Silva reconhece que, por estas paragens, só os efeitos da seca severa tiram o sono aos criadores e fazendeiros, que lamentam a falta de chuva.
Conforme o fazendeiro, o município não deveria queixar-se da escassez de alimentos, porque possui uma bacia hidrográfica boa, liderada pelo rio com o mesmo nome (Chongoroi) e uma variedade de produção agrícola, desde citrinos, outras frutas, cereais a vários tubérculos.
A municipalidade conta com duas associações de ex-militares, uma na comuna de Kamuine (120 associados), grande produtora de batata-rena, e outra no Cuilo (98).
O grito de socorro incluiu a necessidade de uma indústria transformadora, de aquisição de geradores e de construção de furos para a rega nos campos agrícolas.
Ganda segue passos na agricultura e apicultura
Quem também luta pela afirmação económica são os produtores do município da Ganda, localizado 210 quilómetros a leste da sede da província de Benguela, que estão de olhos virados para a diversificação da produção agrícola, apicultura e pecuária.
Com tradição em gados bovino, caprino e suíno, bem como em galináceos, o município, que já foi referência na região nesse ramo, aposta agora no cruzamento de espécies para fomentar a criação de animais.
Para tal, conta com a Estação Zootécnica, que desenvolve um projecto de criação de gado de corte e leiteiro, no âmbito da pesquisa ou investigação veterinária das espécies bovina e suína.
O objectivo é melhorar as raças e aumentar a produção animal na Ganda, que tem 37.291 cabeças de gado bovino, 36.727 caprinos, 3. 657 ovinos e 15. 905 suínos.
Noutro domínio, dispõe de 266.624 hectares para a agro-pecuária, dos quais apenas 78 por cento estão a ser explorados (46 por cento com a agricultura e 32 com a pecuária).
Os fazendeiros, em particular, e as comunidades, em geral, que investem na produção de alho francês, manga, goiaba, ananás, milho, feijão, batatas doce e rena, entre outras coisas, tentam, a todo o custo, transformar a Ganda num local estratégico de produção agrícola em Benguela.
Atravessado pelo Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), que liga Benguela ao Luau, na fronteira até à RD Congo e à Zâmbia, a Ganda tem pelo menos 250 mil habitantes e apresenta um “enorme” potencial agro-industrial, que já fez da região um dos mais importantes pontos económicos do país.
No passado, teve uma fábrica de bebidas espirituosas, na comuna da Babaera, de beneficiação de café (torragem e empacotamento), de tijolo (na sede do município), de telha (no Dunde) e uma indústria de produção de celulose (também na Babaera).
O município tinha, igualmente, uma fazenda de plantação de sisal e indústrias de transformação de frutas, de cereais (milho, massambala e sorgo) e de carnes.
Estiagem atrapalha vida dos fazendeiros
Actualmente, apesar da estiagem no Centro-Sul do país, os fazendeiros locais tudo fazem para se manter a produção agrícola, com a plantação de culturas diversas, entre as quais o alho francês.
Dados indicam terem sido produzidas, recentemente, mais de 12 mil toneladas de alho francês, alface, nabo, milho, feijão, massango, cereais e hortaliças, essas últimas com uma colheita de 10 mil toneladas, vendidas, na maioria, em Benguela, Luanda, Huambo e Huíla.
Das 171 fazendas catalogadas, de acordo com dados disponíveis, apenas sete estão activas na diversificação da produção e com bons resultados.
Conquanto seja banhado por vários rios, a maioria dos quais secos, devido à estiagem, os agricultores enfrentam um dilema que põe em causa os seus projectos.
Para além das dificuldades impostas pela seca, há outras em termos de acesso aos programas de apoio à produção, nomeadamente Política Agrícola Comum (PAC) e Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI), por falta de documentação que atesta a titularidade das terras.
Apicultura ganha terreno
Para além da agricultura, a Ganda aposta na produção de mel, com uma colheita anual de mais de mil e 50 litros. O sector, que se regista em grande escala na comuna da Ebanga, tem 150 apicultores registados e 72 colmeias.
A aposta pelo aumento das colmeias (em 500) tem por objectivo tornar maior a produção e começar a abastecer não só a província, como também o país.
A propósito, o director da Estação Zootécnica da Ganda, Augusto Alberto, avança que, para alavancar a produção de mel, é necessário apostar-se na produção de muitas colmeias.
Ultimamente, outro produto que se destaca na Ganda é o café, cuja produção começou a dar os primeiros frutos no primeiro semestre de 2020, com 197 explorações cafeícolas familiares e uma colheita de 21 toneladas.
A situação resultou de uma aposta das autoridades locais e de pequenos fazendeiros que procuram acelerar o processo de diversificação das fontes de rendimento.
Com o impulso da Estação Experimental do Café, que tem a tarefa de produzir e de distribuir mudas de café a quem queira apostar neste segmento, a produção do bago vermelho é, hoje, uma realidade no município, apesar de ainda em pequena escala.
Segundo o chefe da Estação Experimental do Café da Ganda, Tchicuala José, o município tem duas associações de cafeicultores e duas cooperativas de ex-militares.
A perspectiva para este ano é a distribuição de 110 mil mudas de bago vermelho, a fim de se fomentar, desta forma, a produção, principalmente nas regiões do Casseque, Chicuma e Ebanga, com tradição no cultivo do café Arábica.
Das 125 fazendas catalogadas, num total de 36 hectares, apenas trinta funcionam com normalidade na região, face às dificuldades vividas actualmente pelos produtores.
No mercado, o preço do café Mabuba varia entre 250 e 300 kwanzas, enquanto o quilo do café comercial custa 500 Kz.
De acordo com a fonte, a perspectiva é de se aumentar a área de plantação, contando com 44 explorações familiares e cinco empresariais.