Luanda - Quem se desloca à comuna do Dombe Grande, a sul da cidade de Benguela, dificilmente deixa de ouvir relatos de histórias relacionadas com práticas sobrenaturais que transformam a localidade num permanente “palco de mistérios”.
Por Francisca Augusto e Venceslau Mateus
Há várias décadas, a vila, situada no município da Baía Farta, é conhecida como “Terra do Feitiço”, designação que, apesar dos relatos, nunca veio a ter suporte científico.
Na verdade, Dombe Grande é uma terra de contrastes e grandes encantos naturais, com praias convidativas, tradições seculares e condições favoráveis à agricultura.
Apesar dos mitos e das tradições, o que muitos desconhecem é que a localidade se tem transformado, há já alguns anos, num potencial agrícola, registando índices animadores de produção em termos de cereais e tubérculos.
Nos dias de hoje, muitos dos 44.236 habitantes desta comuna, que se estende por uma área de 2.762 quilómetros quadrados, se dedicam à agricultura de subsistência e de rendimento.
Ao contrário de outras regiões de Angola, a comuna não é famosa em termos de produção agrícola, embora a tendência esteja a mudar gradualmente, com a produção, em grande escala, de feijão, banana, batata-doce, tomate, entre outros produtos.
Os números oficiais não deixam dúvidas de que a agricultura marca passos concretos na região, fruto do investimento do Estado e do comprometimento das comunidades locais.
Só em 2020, por exemplo, a localidade teve uma colheita de 11 mil toneladas de produtos diversos, números abaixo do habitual, em consequência da Covid-19 e da invasão de insectos que têm prejudicado a produção.
Dados dão conta de que, no primeiro semestre deste ano, foram colhidas mais de 30 toneladas de batata-doce, 20 de milho (em nove hectares) e 50 de feijão.
A comuna tem uma área de cultivo de 10 mil 500 hectares e clama por investidores, de forma a desenvolver, cada vez mais, a agricultura a nível do município.
A região, forte na agricultura, tem como foco o desenvolvimento económico e social no Vale do Dombe Grande.
Antigo campo de produção de cana-de-açúcar, que abastecia a açucareira local, o vale transformou-se num enorme campo de cultivo.
Em muitas fazendas e propriedades agrícolas, nota-se a introdução de práticas modernas para a melhoria do processo de produção, com a mecanização a tornar-se, ultimamente, num factor fundamental para o aumento da produtividade, especialmente na fruticultura e hortícolas.
Grito dos fazendeiros
A título de exemplo, Domingos Mendonça, gerente da Fazenda Geripe, diz que a instituição reduziu muito a produção, por falta de fertilizantes e sementes.
A fazenda prevê colher, este ano, mais de 20 toneladas de milho e 30 de batata-doce.
Para este agricultor, que tem o mercado informal de Benguela como destino prioritário do seu produto, o mau estado das vias de acesso é o principal constrangimento para o escoamento.
Conquanto haja boa vontade da parte dos agricultores, a carência de fertilizantes e sementes é um dos entraves ao processo de produção agrícola, mas há quem lute dia e noite para fazer da agricultura uma fonte de receitas e de renda das famílias locais.
É o caso da Fazenda Joaquim Tchipalanga, que tem a banana como a principal aposta, e, anualmente, colhe 144 mil toneladas desse produto.
A instituição, que conta com 45 trabalhadores, debate-se, também, com o problema de fertilizantes e sementes para o aumento da produção.
Para fazer face às dificuldades em termos de sementes e fertilizantes, os fazendeiros apelam às autoridades para ajudarem na aquisição desses produtos.
Antes da guerra, terminada em 2002, a comuna apresentava valiosos recursos hídricos que tornavam o solo fértil para a actividade agrícola e conservava imensas áreas produtivas de cana-de-açúcar, uma das maiores de Angola.
A produção era tão grande, que justificou e financiou a construção do Caminho-de-Ferro do Cuio, que liga o Dombe Grande ao Porto da Vila do Cuio.
A guerra pôs fim às lavouras e destruiu a ferrovia, levando a comuna ao ostracismo económico.
A produção agrícola e o fornecimento de água doce na região são garantidos pelo rio Coporolo, que, durante as cheias, deposita ricos sedimentos, um importante húmus que faz que o seu leito fique extremamente fértil e propício ao cultivo.