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Baía Farta aposta na produção de sal

Benguela: Produção de sal nas salinas
Benguela: Produção de sal nas salinas
Henri Celso

Luanda – Com pouco mais de 6.744 quilómetros quadrados, o município da Baía Farta, situado na cidade costeira de Benguela e habitado, maioritariamente, por pescadores, investe forte na produção de sal, o que tem gerado resultados encorajadores nos últimos anos.

Por Francisca Augusto e Venceslau Mateus

Detentor de uma produção anual de cerca de 40 mil toneladas do produto, o município dispõe de cinco salineiras que asseguram, regularmente, a subsistência de pelo menos mil cidadãos daquela localidade, fortemente inclinada para a indústria pesqueira.

A Baía Farta ganha, lentamente, espaço nesta área económica, buscando a conquista gradual do mercado nacional, que luta pela auto-suficiência.

Com rica e vasta costa marítima, preenchida por zonas balneares de águas cristalinas, já tem um peso considerável no sector das Pescas, tornando-se, nos últimos anos, a principal referência de Benguela em termos de produção de sal.

Além da Baía Farta, a província, com uma produção anual de 123,2 mil toneladas, cerca de 88 por cento da produção nacional, conta com salineiras no município do Lobito.

Dados disponíveis indicam que, em termos globais, Benguela está entre os três maiores produtores de sal no país, devido às favoráveis condições da costa, à semelhança da localidade de Cabo Negro, no Tômbwa (Namibe), outra província próspera nesse negócio.

No caso concreto da Baía Farta, uma das localidades que se afirmam neste produto é a comuna do Chamume, referência obrigatória nos últimos anos.

Com três pontos principais de produção de sal, nomeadamente Chamume, Calombolo e Macaca, a comuna corresponde a um dos centros mais importantes de Benguela, em particular, e de Angola, em geral, segundo analistas do mercado.

Em contrapartida, para corresponder às necessidades do país, os produtores locais querem deixar de usar, paulatinamente, os métodos de produção artesanal e pretendem buscar tecnologias modernas, a fim de se evitar a onerosidade com os custos de produção, por meio de acções tradicionais.

De acordo com Júlio Mawete, responsável pela Área Técnica e de Produção da Salineira do Chamume, apesar das contrariedades provocadas pela crise financeira, pela pandemia da Covid-19 e pelas alterações climáticas, a aposta passa pela extensão da zona de produção.

O responsável justifica a aposta das comunidades locais no aumento da área de produção pela existência de um mercado de consumo que se consolida diariamente.

“Temos um vasto mercado no país. O produto tem saída e garante retorno financeiro”, diz.

A Salineira do Chamume, com uma produção de pouco mais de 10 mil toneladas/ano, está a investir em novos cristalizadores e evaporadores, numa área de 450 hectares.

Entre os que dão vida a esta indústria naquela comuna, está, igualmente, Pascoal Capingala, 25 anos, um entre os pelo menos mil funcionários das salineiras que, diariamente, em cerca de oito horas de trabalho, garantem a presença do produto à mesa dos angolanos.

Com uma rotina diária que começa às 7h:30, Pascoal faz parte dos 170 funcionários da Salineira do Chamume, localizada cerca de 20 quilómetros a sul da sede municipal da Baía Farta, que não se coíbem de calçar as botas e descer aos canteiros para produzir sal.

Com uma produção mensal de mil toneladas, a salineira destaca-se entre as demais,  face ao investimento em novos cristalizadores e evaporadores, numa área de 450 hectares, o que permitirá o aumento gradual da sua produção ainda no decurso deste ano.

Tal como Pascoal, Laurinda Isabel e outros membros da família estão envolvidos na produção de sal. Com mais de seis anos de casa na Salineira do Chamume, diz-se satisfeita por ter encontrado na empresa o ganha-pão da família.

“Antes de entrar na empresa, tinha algumas dificuldades financeiras, na medida em que sobrevivia da venda, que não era regular, de pescado. Hoje, já tenho o salário no fim do mês, que dá para manter o sustento da família”, reforça.

Localizada 20 quilómetros a sul da sede municipal da Baía Farta, a chamada Cidade do Sal é um dos projectos mais ambiciosos para garantir a auto-sustentabilidade na produção a nível do país e deverá ocupar uma área de 11 mil hectares.

Apesar das adversidades, os empresários do sector na Baía Farta não desmotivam e procuram apostar, cada vez mais, no processo produtivo, como é o caso da Salineira de Calombolo.

A empresa inaugurou, recentemente, um canal de seis quilómetros, que está a transportar água do mar para 400 hectares de terreno, com o qual espera produzir perto de 100 mil toneladas de sal bruto/ano, superando, deste modo, as 80 mil produzidas em 2019.

Pela sua capacidade de produção, as salineiras de Calombolo e do Chamume afiguram-se estratégicas e fundamentais para a arrecadação de receitas na Baía Farta, através da produção e da venda de sal, cuja indústria pode contribuir com um bilião e 700 milhões/ano.

Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Sal de Angola (APROSAL), Tottas Garrido, o progresso da indústria salineira passa, entretanto, pela electrificação dos campos e pela melhoria do produto para a indústria alimentar.

Para a auto-suficiência do negócio, entende ser importante electrificar a zona de produção de sal no município da Baía Farta, para se reduzirem custos com a compra de combustível.

A par da energia, a associação, que controla cinco salinas associadas e mais de mil trabalhadores, considera fundamental a melhoria das estradas, para facilitar o escoamento do produto.

Tottas Garrido mostra-se convicto de que Angola esteja perto de atingir a auto-suficiência em termos de produção de sal, sublinhando que, actualmente, o sector salineiro no país tem capacidade estimada de 80 por cento.

De acordo com o especialista, a APROSAL já tem capacidade para abastecer a indústria alimentar, as empresas de produtos de limpeza e os criadores de gado, mas falta, apenas, determinar as quantidades necessárias para serem consumidas.

Face aos níveis de produção, anuncia que a indústria petrolífera passará a comprar sal no mercado nacional, o que marca um novo ciclo para a dinamização do sector salineiro.

A APROSAL está perto de atingir a meta estabelecida no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN 2018 – 2022), que é de 160 mil toneladas por ano, clamando, somente, por mais investimentos para se melhorar a capacidade de captação de água do mar.

Avanços na indústria pesqueira

Noutro domínio, a Baía Farta conhece melhorias significativas na indústria de pesca, um dos sectores que resistem à pandemia da Covid-19, mantendo “aquecido” o mercado de empregos. 

Com uma cota de mais de 800 postos de trabalho, geralmente ocupados por cidadãos nacionais, maioritariamente jovens dos 18 aos 45 anos, a indústria pesqueira da Baía Farta é, actualmente, referência no mercado nacional, fruto da qualidade do seu pescado.

Com a formação dos filhos bem encaminhada, fruto dos proventos salariais obtidos na Alva Fishing, Francisco Fela, 56 anos, é o rosto da felicidade de centenas de munícipes empregados nas cinco unidades pesqueiras da Baía Farta, província de Benguela.

Há 22 anos na empresa, exterioriza a sua satisfação pela oportunidade de contribuir para a indústria pesqueira local, que colocou no mercado nacional, só no primeiro semestre deste ano, 45 mil toneladas de peixe para o sustento das famílias angolanas.

Francisco, também parte dos 300 trabalhadores da Alva Fishing e responsável pela Área de Processamento, regista, com satisfação, o movimento diário de entrada e saída de camiões-frigorífico com o peixe produzido na indústria pesqueira, com destino aos mais diversos cantos de Angola e de países vizinhos (Zâmbia, Namíbia e República Democrática do Congo).

À semelhança de Francisco, Chivila Lourenço, 31 anos, nove dos quais como funcionária da Alva Fishing, destaca o facto de a indústria pesqueira da Baía Farta olhar, como prioridade, para a empregabilidade dos habitantes do município.

Mãe de três filhos, a funcionária reconhece que a indústria pesqueira naquele município revitalizou o mercado de empregos e tem ajudado a garantir o sustento de milhares de famílias.

Com longa história, a indústria pesqueira da Baía Farta começou a ganhar forma em 1910, com a chegada de dois irmãos portugueses que descobriram o potencial pesqueiro da região.

Nos 50 anos seguintes, as poucas redes de pesca deram lugar a uma indústria enorme e estruturada, actualmente um dos principais centros pesqueiros do Sul de Angola.

Com elevado nível de organização administrativa e equipamentos de trabalho modernos e dos mais desejados para a realização das actividades com melhor segurança, as cinco unidades pesqueiras de grande porte são Iemanjá, Vimar, Alva Fishing, Pesca Fresca e Congel.

Juntas, estas empresas garantem a produção de peixe na província, que se situa em seis mil toneladas por mês. Em 2020, a produção estimou-se em 72 mil.

Electrificação potencia indústria pesqueira

Aliviados em termos de gastos com combustíveis, devido à electrificação da vila, os empresários do sector já começam a pensar no aumento do investimento, com a construção de novas infra-estruturas de processamento e de congelação, como é o caso da Alva Fishing.

Álvaro Eugénio, sócio-gerente do grupo, avança que, até bem pouco tempo, tinham nas fontes alternativas as principais fornecedoras de energia.

“O funcionamento da unidade dependia, em 80 por cento, de grupos geradores. Hoje, graças à aposta do Governo, o cenário mudou e só usamos os grupos geradores ocasionalmente, quando se registam cortes, e muitos raros, na rede pública”, informa.

Com uma média de produção de 15 a 20 mil toneladas, o grupo, com mais de 30 anos de existência, já pensa na aquisição de novos equipamentos e no aumento da frota, que conta, actualmente, com três embarcações e novas unidades de processamento de congelamento.

Álvaro Eugénio aponta para uma previsão de 200 toneladas/dia em termos de captura, processamento e congelamento, nos próximos meses.

Actualmente, adianta, a captura, o processamento e o congelamento do grupo rondam à volta de 150 toneladas de pescado/dia.

O sócio-gerente, que também dá a cara pela Associação dos Pesqueiros da Baía Farta, defende a necessidade da melhoria das vias de acesso e de assinatura de acordo com a RDC, Namíbia e Zâmbia, para facilitar a venda do pescado angolano nestes países.

“O Governo angolano deve procurar a obtenção de um acordo com os vizinhos, para facilitar a vida dos empresários do sector. Passamos, regularmente, por enormes dificuldades para escoar o nosso produto aos países vizinhos, tendo em conta os entraves colocados pelas autoridades aduaneiras”, reforça.

Lota da Baía Farta

A Lota da Baía Farta comporta 25 mil metros quadrados, com 18 lojas, duas pontes cais, um mercado com três naves para a comercialização de peixes fresco e seco, bem como outros produtos diversos, uma área de congelação e tratamento do pescado.

O empreendimento pesqueiro afigura-se uma infra-estrutura importante, pois representa um conjunto de valências em benefício da população, na medida em que garante o melhor para que as populações alcancem o desenvolvimento sustentável local.

Com 6.744 Km² e pelo menos 110 mil habitantes, a Baía Farta, limitada a Norte pelo município de Benguela, a Este por Caimbambo e Chongoroi, a Sul por Camacuio e Namibe e a Oeste pelo oceano Atlântico, é o mais importante centro piscatório de Benguela.

O centro pesqueiro da Baía Farta, uma mistura de projectos novos e ruínas, é o mais pitoresco e com marcas profundas das antigas pescarias e indústrias de transformação de peixe, muitas delas já desactivadas.

A produção anual do país vai de 300 a 400 mil toneladas, das quais 30 por cento são provenientes da pesca artesanal marítima que emprega mais de 50 mil pescadores.

A orla costeira de Angola tem uma extensão de 1.650 quilómetros e uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) de 200 milhas náuticas, a partir da linha de base, caracterizada, em geral, por uma elevada produtividade biológica.

 





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