África do Sul: a superação de um ex-refugiado

Empresário Pires Martins
Empresário Pires Martins
Pedro Parente-ANGOP

Luanda - Desde o começo da guerra em Angola, em 1975, até à conquista da paz definitiva, em 2002, milhares de angolanos deixaram a Pátria em busca de melhores oportunidades de vida, principalmente de formação, muitos deles na África do Sul.

Por Francisca Augusto, jornalista da ANGOP

Em mais de quatro décadas, compatriotas de diferentes origens étnicas cruzaram rios,  mares e vales em África, na Europa, América e Ásia, enfrentando realidades sócio-culturais e económicas adversas, mas confiantes no êxito desta aventura.

A imigração constituiu, para muitos angolanos, o abrir de portas no ramo empresarial, permitindo gerar dezenas de postos de trabalho, embora na maior parte dos casos a

vida dos imigrantes se circunscreve a actividades menos rentáveis.

Estudos disponíveis indicam que, até ao ano de 2018, tenham vivido no exterior do país pelo menos 400 mil cidadãos angolanos, dos quais 230 mil no continente africano, 95 mil no europeu, 45 mil no americano e 30 mil no asiático.

No caso específico de África, os dados indicam que a República Democrática do Congo liderou a lista no período em análise, com 80 mil emigrantes angolanos, contra 70 mil da Namíbia, 20 mil da África do Sul e 60 mil em outros estados africanos.

De acordo com os mesmos dados, Portugal teria acolhido, até à data em referência, pelo menos 50 mil imigrantes de Angola, contra 20 mil de França, 20 mil do Brasil, 20 mil dos Estados Unidos da América e 15 mil da China.

Na verdade, a imigração foi um processo transitório para muitos angolanos, enquanto outros milhares decidiram viver definitivamente na diáspora, apesar do fim da guerra e do processo de reconstrução do país, que se reergue depois de 27 anos de conflito.

Neste imprevisível processo de busca por novas oportunidades, milhares de angolanos tiveram de adaptar-se a realidades de vida até então inimagináveis, lutando contra vários obstáculos, desde linguísticos até financeiros e migratórios.

Porém, no meio de tantas incertezas, há quem tenha conseguido vencer as barreiras culturais e económicas, tornando-se referência entre os angolanos no exterior, como o ex-refugiado Pires Martins, radicado na África do Sul há mais de 20 anos.

A sua história é um caso de superação, que pode servir de exemplo para quem sonha recomeçar a vida fora do solo pátrio, sobretudo a juventude, grupo para o qual se tem dedicado e proporcionado vários postos de trabalho em três segmentos distintos.

A África do Sul é considerada uma Nação de múltiplas oportunidades, apesar da crise económica vigente, daí atrair milhares de angolanos. Trata-se de uma das maiores potências económicas do continente, que regista duas décadas de permanente crescimento, interrompido apenas em 2020, como resultado dos efeitos da Covid-19.

Ainda assim, o país detém o 38º maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo, sendo que, em 2022, registou um crescimento de 2%, atingindo US$ 405,9 biliões.

Considerado o sexto país mais populoso do continente, a África do Sul afirma-se como um dos principais pontos de mineração, comércio e logística da Região Austral.

A sua economia é a terceira maior do continente. Em Julho último, o FMI revisou a estimativa de crescimento económico para o país, de 0,1% para 0,3%. Já o SAAB, o banco central sul-africano, projectou alta de 0,4%, em Maio.

Actualmente, a dívida bruta vem crescendo nos últimos anos e atingiu 71%, em 2022, sendo que o FMI projecta alta de 1 ponto percentual neste ano de 2023.

A taxa de desemprego está próxima do nível recorde, acima de 30%, e a relação dívida/PIB está em 70%, ou seja, é muito alta para um país em desenvolvimento".

Em 2022, a inflação foi de 7%. Ficou acima da meta estabelecida pelo país, de 3% a 6% ao ano. Está em 5,4% no acumulado dos últimos 12 meses, dentro do limite definido.

Foi diante dessa realidade, que o empresário angolano viu a vida transformada, em duas décadas de trabalho e dedicação, como imigrante e empreendedor.

O empresário angolano sublinha que aquele  país oferece muitas oportunidades para os estrangeiros, mas sublinha que é necessário dedicação e foco.

“Não foi fácil singrar na África do Sul”, conta o cidadão, que se destaca no mundo empresarial, tendo como foco os segmentos dos transportes e agricultura.

Após desembarcar na África do Sul, o mesmo teve que buscar por melhores condições de vida no interior do país, onde conseguiu um emprego no ramo agrícola, depois de vários anos a viver na condição de refugiado.

Para tornar-se empresário teve de percorrer vários pontos do país, falar com autoridades tradicionais e com as populações locais sem, nunca, baixar a guarda, mesmo sendo vítima, por diversas ocasiões, de casos de racismo.

"Procurei fazer o melhor pela minha família. Mesmo com toda a situação, nunca desisti, buscava e corria atrás do que queria, mas sempre focado na área comercial”, conta.

Depois de tanta luta, Pires Martins conseguiu impor-se nos domínios da agricultura,  mineração, construção civil e infra-estrutura, sendo que está a perspectivar, para breve, a abertura de uma empresa no ramo da mineração.

A sua previsão é gerar emprego para mil jovens, dos quais 250 angolanos.

Um dos seus maiores patrimónios está no ramo da aviação. Actualmente, o empresário dispõe de 4 aviões, dois de passageiros, um de carga e um jacto.

Apesar de ser um empresário de sucesso na África do Sul, diz que nunca se desligou de Angola e segue, com regularidade, os avanços sociais e económicos registados no país.

Conforme a fonte, os sul-africanos também manifestam vontade de investir no mercado angolano, tendo em conta as potencialidades nos mais variados segmentos.

"Existem muitas formas de sair na frente. Agradeço muito ao meu país, Angola, por dar oportunidade aos imigrantes de se erguerem mesmo fora de portas”, sublinha.

O empresário conta que ser estrangeiro na África do Sul não é fácil, tendo em conta os bloqueios para adquirir a documentação e o aperfeiçoamento da língua, pelo que enaltece o esforço do Governo angolano de legalizar os compatriotas ali residentes.

Nesse âmbito, destaca a campanha do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, em colaboração com o Ministério das Relações Exteriores, de instalação de dois postos nos Consulados Gerais de Angola na África do Sul (Joanesburgo e Cidade do Cabo).

Para ajudar a desenvolver Angola, o empresário diz que está disponível uma linha de crédito para financiar projectos no valor de um bilião de dólares norte-americano.

“O financiamento vem do Katar e América Bank, tendo conexão com o BNI e o banco central”, informa o empresário, que chegou como refugiado de guerra às terras de Nelson Mandela, mas venceu as barreiras e se tornou um caso de superação e orgulho.

Como Pires Martins, existem outras dezenas de empreendedores angolanos que têm vindo a aproveitar as oportunidades de crescimento proporcionadas pela África do Sul.

Actualmente, mais de 30 mil cidadãos de Angola residem naquele país, na maioria em formação académica, conforme a União dos Angolanos Residentes na África do Sul.

Desse leque, centenas desempenham trabalhos nos ramos da hotelaria e dos transportes, esperançosos em dias melhores e inspirados em histórias de sucesso como a de Pires Martins, que deixou a terra-mãe para ganhar a vida, mas nunca perdeu a angolanidade.

São histórias como a deste empreendedor que inspiram os angolanos espalhados pelo mundo, em busca de melhores condições de vida, numa altura em que Angola continua a lutar, contra várias externalidades, para se afirmar como país em desenvolvimento.FMA/VM

  

 

 





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