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Volume de negócios Angola/China atinge 23 mil milhões de dólares

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  • Luanda • Terça, 27 Agosto de 2024 | 11h48
Embaixador da China em angola, Zhang Bin
Embaixador da China em angola, Zhang Bin
Joaquina Bento - ANGOP

Luanda - O volume de negócios entre Angola e a China ultrapassou os 23 mil milhões de dólares, em 2023, numa altura em que os parceiros pretendem catapultar as relações para outro nível de qualidade.

Por António Tavares, jornalista da ANGOP

A informação foi prestada pelo embaixador da China em Angola, Zhang Bin, em entrevista à ANGOP, para abordar o estado actual da cooperação entre os dois estados.

Na conversa, o diplomata detalhou que as exportações da China para Angola são principalmente equipamento de engenharia de construção civil, carros e peças de reposição, produtos electrónicos, celulares e equipamentos da indústria leve, como aço e alguns produtos derivados.

Angola, por seu turno, tem exportado para China petróleo e produtos do mar, precisou.

Desde Fevereiro deste ano a trabalhar em Angola, Zhang Bin informou que a cooperação comercial e económica está em fase de actualização para a transição a um alto nível de qualidade.

“Antes estávamos mais focados na construção de infra-estruturas e agora temos uma cooperação mais virada para o investimento, onde os empresários chineses investem mais na agricultura, recursos minerais e na indústria transformadora”, informou.

O diplomata deu a conhecer que as partes estão a discutir novas áreas de financiamento, e a novidade, para já, tem a ver com o facto de ter sido encontrada a empresa que vai implementar o Projecto de Rede Nacional de Banda Larga de Internet, financiado pela China.

Entre outros aspectos, durante a entrevista, o embaixador falou sobre a perspectiva da cooperação que, no seu entender, está no seu melhor momento durante os 41 anos de existência.

O nono Fórum de Cooperação China/África, que se realiza nos dias 4 a 6 de Setembro, em Beijing, também foi aflorado nesta conversa.

Eis a íntegra:

ANGOPSenhor embaixador, Angola e a China mantêm relações desde 1983, ao longo deste anos várias mudanças internas e internacionais moldaram o rumo desta cooperação. Hoje qual é o estado destas relações?

 Zhang Bin (ZB) - Angola e a China estabeleceram relações diplomáticas em 1983. Passados 41 anos posso dizer que as relações de cooperação estão na melhor época da história, facto confirmado pela visita do Presidente da República de Angola à China, João Lourenço, em Março deste ano.

No entanto, as relações bilaterais já foram elevadas para uma Parceria Estratégica de Colaboração Global.

Estas relações bilaterais se estendem fundamentalmente em quatro áreas nomeadamente, política, onde os dois países se apoiam e têm uma confiança política muito profunda. Segunda é o aspecto económico, onde a cooperação comercial e económica entre os dois países está a se aprofundar e a ampliar.

Terceira tem a ver com os intercâmbios culturais e interpessoais, que estão cada vez mais dinâmicos. O quarto aspecto tem a ver com a concertarão sobre questões regionais e internacionais, onde os dois países mantém boa colaboração e coordenação quanto ao posicionamento sobre importantes questões internacionais e regionais

ANGOP - Quais os resultados plausíveis desta cooperação?

ZB - Podemos tomar as relações comercias e económicas como exemplo. Nos últimos 20 anos, as empresas chinesas participaram na reconstrução do país.

Em colaboração com as empresas angolanas, as empresas chinesas construíram dois mil e 800 quilómetros de caminhos-de-ferro, 20 mil quilómetros de estrada, mais de 100 escolas, 50 hospitais, bem como mais de 100 mil habitações sociais.

Ainda temos muitos projectos importantes em bom andamento como o Terminal de Águas Profundas de Caio, o Aproveitamento Hidroeléctrico de Caculo Cabaça e a Refinaria de Petróleo de Lobito, em Benguela.

ANGOP - Qual é o volume de negócios entre os dois países? E o que a China exporta para Angola e vice-versa?

ZB - Segundo as estatísticas da alfândega da China, durante o ano de 2023 o volume de negócios ultrapassou os 23 mil milhões de dólares americanos. As exportações da China para Angola são principalmente equipamento de engenharia e construção civil, carros e peças de reposição, produtos electrónicos, celulares e produtos de indústria leve, como aço e alguns produtos derivados.

Da parte angolana, a China recebe, principalmente, petróleo e produtos marinhos, como peixe.

Recentemente fiquei muito feliz ao ver que as exportações angolanas para a China já se têm diversificado muito. Por exemplo, já podemos ver produtos como mariscos, entre outros.

ANGOP - Falou aqui do Aproveitamento Hidroeléctrico de Caculo Cabaça… sei que após o arranque do projecto verificaram-se alguns constrangimentos financeiros. Hoje qual é a realidade?

ZB - Em relação ao Projecto Hidroeléctrico de Caculo Cabaça, já houve problemas financeiros, porém, hoje já não se colocam estes problemas.

Na verdade, logo após a visita do Presidente da República à China, eu visitei o Aproveitamento Hidroeléctrico de Caculo Cabaça e constatei que o projecto está a andar como planeado e temos a confiança de cumprir este projecto a tempo e com qualidade. É claro que ao longo de todo este processo encontramos alguns problemas, mas, felizmente, com a amizade, consultas e negociações dos dois lados, já resolvemos todos os obstáculos e temos a confiança de que tudo irá correr bem.

ANGOP - Qual o valor aplicado em Caculo Cabaça?

ZB - Considero que este projecto é muito importante e simbólico no marco da cooperação China-Angola e que vai aumentar o fornecimento de electricidade no sistema eléctrico de Angola, sobretudo para o crescimento da industria.

ANGOP - Senhor embaixador, em que áreas a china mais investe em Angola?

ZB - Actualmente a cooperação comercial e económica entre os dois países está na fase de actualização para a transição para um alto nível de qualidade.

Antes estávamos mais focados na construção de infra-estruturas e agora temos uma cooperação mais virada para o investimento, onde os empresários chineses investem mais na agricultura, recursos minerais e na indústria transformadora.

ANGOP - Quando falamos da cooperação Angola e a China uma das questões sensíveis tem sido o valor da dívida. Qual é o valor da dívida de Angola para com a China e como tem sido paga?

ZB - Segundo as estatística publicadas pelo Banco Nacional de Angola no final do ano de 2023, a dívida de Angola para com a China diminuiu de 17,9 biliões de dólares americanos para 16 biliões de dólares.

Mas, não acho que a dívida constitua uma questão muito sensível na cooperação entre os dois países porque qualquer país que quer desenvolvimento, às vezes, precisa solicitar financiamento e, nesta área, a cooperação entre nós está num bom ciclo.

No mês de Março deste ano, as partes chegaram a um consenso de modo a optimizar e actualizar a forma de pagamento desta divida. O estado de pagamento é normal, como planeado, e acredito que no futuro a cooperação a nível do financiamento entre os dois países vai se desenvolver muito bem.

ANGOP - Estão previstos futuros financiamentos da China para Angola?

ZB - Ainda estamos a negociar sobre os projectos concretos. Para já, adianto que uma empresa chinesa já conseguiu o projecto de investimento de implementação de rede nacional de banda larga de Angola, que, após a conclusão, vai tornar a internet acessível para todos os angolanos.

Portanto, este é um projecto de financiamento chinês, mas em relação a outros ainda estamos numa fase de negociação.

Em princípio, no futuro, os projectos que vamos abordar com certeza vão ajudar no desenvolvimento sustentável de Angola e vão criar mais expressão do financiamento a Angola.

ANGOP – Neste momento quantas empresas chinesas estão a operar em Angola?

ZB - O número de empresas chinesas em Angola já excede os 400 e actuam principalmente na área da construção civil e indústria.

Estas empresas têm contribuído muito na criação de postos de emprego. Temos uma filosofia segundo a qual em cada 10 trabalhadores oito são angolanos.

ANGOP - Como avalia a inserção dos quadros chineses no mercado angolano? Pergunto isso porque no passado houve muitas dificuldades, principalmente, por causa da língua.

ZB - Realmente a língua e a diferença cultural constituiu um problema para a comunidade chinesa em Angola. Mas, após a elevação das relações bilaterais para uma Parceria de Cooperação Estratégica Global, uma das acções é reforçar o intercâmbio cultural e interpessoal entre os dois países. Vamos estreitar ainda mais as relações entre os dois povos para melhor desempenho dos quadros.

ANGOP - Senhor embaixador, Beijing alberga o nono Fórum de Cooperação África-China (FOCAC) nos dia 4 a 6 de Setembro. O que é que se espera deste evento?

ZB - A cimeira é um encontro entre o Presidente chinês e os Chefes de Estados africanos seis anos após o último encontro.

Durante o Focac, as partes vão projectar a cooperação para os próximos três anos e, segundo as convenções e as práticas anteriores, na cimeira vão ser adoptados dois documentos. Um é a declaração de Beinjing e outro o cronograma de acções, no qual as duas partes vão definir as áreas e as medidas concretas da nossa cooperação.

O Focac é sempre organizado para reforçar a cooperação entre a China e  África.

ANGOP - Quais as áreas em que a China tem mais interesse em cooperar com África?

ZB - Na verdade, em 2021, por altura da reunião ministerial do Focac, realizada em Dakar, Senegal, foi já anunciada a intenção de serem assinados nove projectos de acordo.

Esta iniciativa abrange as áreas de comércio, construção civil, saúde, erradicação da pobreza, paz e segurança e desenvolvimento.

A implementação destas iniciativas está em bom andamento. Na conferência de Setembro as partes vão analisar, de novo, a implementação destas iniciativas e também planear as próximas acções e projectos de cooperação para o futuro.

Acredito que no futuro vamos estender a cooperação entre a China e África, com o foco principal nas tecnologias digitais, desenvolvimento verde e a paz e segurança. Devo dizer que está reservada uma surpresa, que não vou dizer, que o Presidente da China fará para os estados africanos na abertura da cimeira.

ANGOP - Actualmente quais são as áreas de maior contacto e qual o país africano com o qual a China mais coopera. Em que lugar se situa Angola?

ZB - Na verdade a China tem mantido uma boa cooperação com todos os países de África. Para nós os países africanos são bons parceiros de cooperação e bons irmãos.

Angola é um dos parceiros mais importantes da cooperação China-África e isso se deve, não só ao apoio mútuo na história, mas também pela colaboração económica muito dinâmica e concertação nos assuntos internacionais e regionais.

ANGOP - Como é que a China olha para o contexto de África, marcado ainda, em alguns casos, por conflitos armados internos?

ZB - Nós sempre consideramos África como um continente muito fértil, ou seja, um continente cheio de esperança e temos que admitir que para o desenvolvimento é fundamental a paz no continente que ainda enfrenta alguns desafios.

Existem alguns conflitos, mas a China insiste numa posição, segundo a qual os africanos devem procurar soluções africanas para resolver os problemas ligados à instabilidade política.

Por exemplo, em relação à mediação do conflito no leste da RDC, apoiamos os esforços prestados pela União Africana e também por Angola. Apreciamos muitos estes esforços.

Em relação à questão do Sudão, apoiamos os esforços das Nações Unidas para tomar um papel dominante na mediação deste problema, e apoiamos outras organizações regionais na busca da paz no continente.

A China, como membro do Conselho de Segurança da ONU, também está a desempenhar um papel importante. Auguramos que as parte envolvidas em conflitos possam se sentar à mesa de negociação e resolver este problema.

ANGOP - A par da Segurança e Paz, África ainda se debate com problemas ligados à formação de quadros e de saúde. No quadro da cooperação China-Africa, como é que o vosso país olha para estas questões?

ZB- Voltando ao FOCAC, a china ofereceu muitas oportunidades de formação de quadros para o continente africano. Por exemplo, na oitava edição da conferência ministerial do fórum, entre os novos projectos, o primeiro estava relacionado com a área da saúde.

A China dá muita importância a questão de saúde em África e vamos ajudar para promover o desenvolvimento deste sector.

Quanto à formação quadros, até ao ano passado, no âmbito do FOCAC, a parte chinesa já ofereceu oportunidades de formação para 12 mil talentos africanos. Para Angola, a cada ano vamos oferecer várias centenas de vagas de formação de talentos angolanos.

ANGOP - Agradecemos pela vossa disponibilidade e desejamos sucesso na vossa missão em Angola e na organização do FOCAC.

ZB – Agradecemos, em nome do governo chinês, e gostaríamos que Angola tomasse parte do fórum e que desempenhasse um papel mais activo.

Muito obrigado.

 





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