Preocupa-nos a situação das estações arqueológicas - Pedro Hangula

     Entrevistas           
  • Luanda     Domingo, 10 Setembro De 2023    07h49  
Director Provincial da Cultura, Turismo e Ambiente, Pedro Hangula
Director Provincial da Cultura, Turismo e Ambiente, Pedro Hangula
Nelson Malamba-ANGOP

Luanda – O director provincial da Cultura, Turismo e Ambiente do Namibe, Pedro Hangula, defendeu, recentemente, a criação de um Código de Postura para regular o acesso às estações arqueológicas do país, particularmente às Pinturas Rupestres do Tchitundo-Hulo.

Por Ângela Correia Neto, Anabela Fritz e Elias Tumba, jornalistas da ANGOP

O Código de Postura, conforme a definição da Wikipédia, “é o nome dado à legislação, geralmente municipal, que disciplina as normas de conduta para o convívio e o desempenho de actividades individuais e colectivas no espaço urbano”.

De acordo com Pedro Hangula, que falava em entrevista exclusiva à ANGOP, este Código de Postura pode ser determinante para preservar a essência das pinturas do Tchitundo-Hulo, actualmente em risco de desaparecer, devido a factores naturais e a acções de vandalização.

As Pinturas Rupestres do Tchitundo-Hulo constituem um dos maiores "tesouros culturais" de Angola, em particular da província do Namibe, pelo que o Governo angolano pretende inscrevê-las, junto da UNESCO, como património histórico da humanidade.

"Preocupa-nos muito a situação das estações arqueológicas, como a do Tchitundo-hulo, do Caraculo e outras que temos no município de Camucuio, cujas rochas enfrentam um processo de desgaste e de vandalismo de pessoas que não conhecem o seu valor histórico”, lamentou.

Conforme o director, essas acções acabam por descaracterizar as estações arqueológicas, o que pode comprometer, de alguma forma, o processo de inscrição do Tchitundo-hulo.

"Estamos a falar de artes milenares que demonstram os hábitos e costumes de povos que habitaram aqui no período pré-histórico, pelo que temos a responsabilidade de as preservar", disse a fonte, que solicita ao Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente para dar continuidade ao processo de inscrição do Tchitundo-hulo na UNESCO.

Durante a entrevista, Pedro Hangula sublinhou que as pinturas e gravuras ali expostas correm sérios riscos de desaparecer, daí a necessidade da criação urgente do Código de Postura.

"Quem for para lá não pode pisar em qualquer sítio, pegar em qualquer sítio e movimentar-se de qualquer forma. Tem que ter um perímetro próprio de circulação", defendeu.

Noutro domínio, propôs, igualmente, a aprovação de um instrumento legal para regular o processo de arrecadação de receitas turísticas em Angola, tendo afirmado que a falta deste diploma cria "zonas cinzentas" e impede o país de arrecadar mais dinheiro neste sector.

Para si, a adopção de uma Lei específica permitiria às autoridades e aos entes privados ter normas claras sobre as modalidades de cobrança de taxas aos visitantes dos locais turísticos.

"Imagina que agora vamos começar a cobrar quem for às Colinas (Deserto do Namibe), quanto paga e a quem? Isso não está legislado", comentou, sublinhando que só assim Angola seguirá os passos de outros Estados que vivem do Turismo, como Cabo Verde.

De acordo com a fonte, a aprovação de uma lei própria em Angola, para regular a questão das receitas turísticas, permitiria, também, definir percentagens a aplicar na manutenção dos locais turísticos, recuperar as vias de acesso e colocar sinaléticas.

Nessa conversa, Pedro Hangula fala, igualmente, do estado técnico de alguns locais turísticos do Namibe, como o Cine Estúdio e o Parque Nacional do Iona, além de dar o ponto de situação dos projectos em curso para repovoar a comuna da Baía dos Tigres.

Sublinha, também, a importância estratégica do Deserto do Namibe, um dos locais mais visitados do país, e faz uma caracterização dos diferentes povos que habitam o Namibe.

Eis a íntegra da entrevista:

ANGOP - Namibe é uma província com grande diversidade de povos. Para começo de conversa, nada melhor do que fazer um enquadramento da vossa matriz cultural. Como caracteriza a província em termos antropológicos e culturais?

Pedro Hangula (PH) - Namibe é uma província muito rica em termos de diversidade cultural, propriamente de etnias e povos. Nós controlamos vários povos, apesar de muitos deles praticarem a transumância. São, maioritariamente, recolectores e pastores. Como a região Sul de Angola é muito fustigada pela seca e nalguns casos o tempo de estiagem é muito prolongado, muitos destes povos são obrigados a movimentar-se de uma zona para a outra, uma vez que a sua maior riqueza é o gado. Então, vão (os povos) procurar por melhores condições para os seus animais. O povo de maior expressão é o da etnia dos Hovahelelos, onde encontramos vários grupos como os kuvales, que geralmente chamamos de mucubais, os chimpas, os dimbas, os mucurocas e os mucuisses. Aqui na sede do município encontramos os quimbares, que foram um dos primeiros a habitar a região. Eles são, maioritariamente, pescadores. Temos uma grande diversidade  em toda a extensão da província. Muitos povos, principalmente aqueles que vivem no nosso limite com a República da Namíbia, vão fazendo essa mobilidade entre os dois territórios.

Há muito tempo, a província foi habitada pelos khoisans, que infelizmente, conforme alguns estudos, já não existem aqui na região. Todos eles acabaram por subir para outras partes do país. Alguns encontram-se na província do Cuando Cubango e outros no território namibiano.

Kuvale é a etnia com maior expressão, muito por causa dos seus hábitos e costumes, o que vai levando alguns povos a tornarem-se minorias étnicas, sobretudo aqueles cujos hábitos e costumes não permitem a aproximação de outras comunidades. Isso faz a sua taxa de natalidade ser muito lenta, diferente da dos kuvales, que se cruzam facilmente com outras etnias e reproduzem  muito mais facilmente. Mas também há outros, como os dimbas e os chimpas, que habitam a zona do Parque do Iona, e outros na zona da Bibala e do Tombwa.

ANGOP - Quais são os principais traços identitários dos kuvales?

PH - Os kuvales são, do ponto de vista da sua estatura física, mais robustos. Os mucubais são povos que, além da actividade pastorícia, facilmente conseguem cruzar com outros povos. São povos que têm as suas actividades e hábitos muito bem enraizados, como por exemplo o efico, que é a fase em que as meninas saem da adolescência e atingem a fase adulta, podendo formar os seus lares. Quanto aos rapazes, depois de atingir a fase adulta, têm de roubar bois para impor a sua presença na comunidade. É uma prática que representa autonomia e respeito. Por outro lado, os mucubais não vivem na zona litoral. Não encontraremos mucubais a viver na zona costeira, porque não comem peixe.

ANGOP - Tem ideia de quantos mucubais habitam actualmente o Namibe?

PH - Nós não temos essa estatística. Conforme fiz referência, grande parte deles não está confinada numa região em que conseguimos, com alguma facilidade, fazer ou estimar a sua densidade populacional. Se avançar números, não serão fidedignos.

ANGOP – Tem sido difícil integrá-los na vida social e económica, tendo em conta os seus hábitos e costumes rígidos que alimentam de geração em geração?

PH - Só para dar nota, o administrador da comuna-sede do município do Virei é um  mucubal. Nós temos, por exemplo, mucubais e filhos de mucubais a formar-se nas universidades da província e nas escolas técnicas, cuja estadia tem sido, muitas vezes,  subvencionada pelas administrações ou outras entidades. Nós temos mucubais e descendentes de mucubais em quase todos os sectores. A inserção deles tem sido natural e é difícil andarmos pelo Namibe, pelas administrações públicas ou privadas, sem encontrar  um mucubal ou seu descendente.

ANGOP – Diante desse cenário, qual tem sido a principal dificuldade para fazer coabitar os seus hábitos tradicionais com as normas do Estado angolano?

PH - Um dos grandes temas que enfrentamos com as comunidades tem sido a gestão do próprio território. Temos que admitir que, antes do Estado, já existia o poder tradicional, daí haver necessidade de um alinhamento entre o poder tradicional e o local. Por exemplo, os jovens mucubais, para se imporem, têm de roubar o gado e muitas vezes, quando vamos para o serviço de investigação e deparamo-nos com uma situação dessas, temos que analisar bem, ponderar algumas questões. É preciso ver se o animal foi devolvido, se não houve nenhuma lesão ou agressão física (…).  Então, pondera-se, porque estamos a falar de questões culturais cuja essência também temos de compreender, além de termos de encontrar um denominador comum que nos permita coabitar.

ANGOP - Há registos de confrontos com as autoridades do Estado por causa desse conflito entre o direito tradicional e o direito convencional?

PH - Temos tido casos isolados de algumas comunidades  que acabam por estar à margem da Lei, com questões do género das que já citei. A própria Constituição diz que a terra é propriedade do Estado,  mas lá onde estão essas comunidades também existem as suas normas inspiradas no poder tradicional, que vai definindo, em fórum próprio, as questões de terra, alguns por herança dos seus antepassados outros por chegarem a um determinado território e instalarem-se. Eles entendem a terra como sua propriedade, então é preciso que se ache essa mobilidade, para que não possamos beliscar o seu costume. Tivemos, recentemente, um problema que exigiu a intervenção das forças de defesa e segurança. Alguns mucubais apropriaram-se de um espaço que tinha dono e negavam-se a sair, porque, de acordo com os seus hábitos, quando chegam a um determinado lugar instalam-se e o espaço passa a ser automaticamente deles. Temos tido casos isolados, mas vamos encontrando um denominador comum para preservar o equilíbrio entre as partes.

Aqui no Namibe nunca tivemos casos de alguma comunidade autóctone em que alguém foi morto por causa de rituais. Fazemos um trabalho de sensibilização nas comunidades, em particular aos sobas, porque a maior parte dos nossos sobas são mucubais. Os próprios sobas são autoridades dentro das suas comunidades e servem de ponte entre o poder tradicional e o poder do Estado.  Por isso, aqui controlamos as autoridades tradicionais, que estão inscritas e recebem subsídios do Estado. A comunicação com eles é sempre nessa vertente. Damos a conhecer que a Lei angolana penaliza quem faz justiça por mãos próprias, uma vez que há muito disso dentro dos regulamentos tradicionais. Quando alguém infringe alguma norma dentro da comunidade, existem sanções que devem ser submetidas ao indivíduo que violou as normas dentro do núcleo. Angola é uma república e tem leis próprias. Como Estado, independentemente de quem quer que seja, todos devemos submeter-nos às leis do Estado angolano. Em casos de lesão física, essas pessoas são responsabilizadas criminalmente.

ANGOP – Já agora, quantos sobas controlam aqui na província?

PH - A nível da província do Namibe controlamos 279 autoridades tradicionais. Nós  realizamos, recentemente, o 3º Fórum Provincial sobre as Autoridades Tradicionais,  em que estiveram autoridades tradicionais dos cinco municípios, para preparar a nossa participação no Fórum Nacional. Aqui, temos estado a discutir temas como a gestão de terras, conflitos entre os dois poderes, a gestão entre os sobas, o papel  deles nas comunidades (…). Nestes fóruns levamos a legislação, especialistas para discutirem e ilustrá-los sobre quais são as suas acções, quando começa e onde termina o seu poder, para que não se atropelem procedimentos e não entrem mais tarde em conflitos. Futuramente, nós vamos debater sobre a falta de uma legislação que regula as actividades do poder tradicional, não temos em Angola.

ANGOP - Defende a adopção de uma lei específica para regular a actividade dos sobas?

PH - Defendemos sim, porque é fundamental. Todas as comunidades, desde que as sociedades passaram a existir, foram regidas por normas. Para o nosso caso, em que temos de coabitar com o poder tradicional, é fundamental existir a delimitação dos poderes. Por isso é que ainda estamos a discutir temas de quem deve ou não ceder terras e fazer justiça nas comunidades, porque não existe nenhum instrumento. Eles não vivem à base dessa divisão administrativa, então, é fundamental que se encontre o ponto de equilíbrio que vai permitir ao Estado, com alguma autoridade, impor ou permitir certas acções. Depois vamos assistindo algumas associações que vão aglutinando as autoridades tradicionais de acordo com os seus estatutos e interesses, mas nada está legislado. Isso acaba por criar muitos conflitos.

ANGOP – Será pela falta dessa legislação que algumas autoridades tradicionais, ao nível do país, gerem locais turísticos como se fossem suas propriedades, impedindo que as ofertas dos turistas revertam para o Estado?

PH - Desconhecemos esta realidade aqui na nossa província. Todos os pontos turísticos que temos são controlados pelas administrações municipais e pelo Governo Provincial do Namibe. Não temos nenhuma autoridade tradicional  que impeça alguém de visitar um espaço por falta de pagamento. Agora, o que sabemos é que alguns destes pontos turísticos estão no interior de uma determinada comunidade controlada ou sob gestão própria do ponto de vista dos hábitos e costumes daquela comunidade. O que aconselhamos aos turistas é fazer uma oferenda, como vinho, alguma oferta monetária, mas não é cobrança. Esse valor reverte-se para as comunidades. Em Angola não existe nenhuma legislação que permita a arrecadação de receitas no sector do turismo. Por isso, defendemos a legislação para o Turismo. Imagina que agora vamos começar a cobrar quem quiser ir às Colinas. Paga quanto e a quem? Isso não está legislado. O Namibe é a menina dos olhos a nível do Turismo em Angola,  a pérola do Turismo. Saiu agora num jornal que o Deserto do Namibe consta dos principais destinos a serem visitados em 2023, em todo o mundo. Conhecemos países como Cabo Verde em que mais de 50% do PIB vem do Turismo. Então, é preciso que  se crie um instrumento que permita arrecadar valores para o fomento do Turismo, para a manutenção das vias de acesso, para colocar sinaléticas, pontos de informação turística (…). Todas essas estratégicas de fomento e de atracção no sector do turismo nós precisamos para arrecadar receitas.

ANGOP – São essas as premissas do vosso Plano Director do Turismo?

PH - Ainda não temos um Plano Director provincial, porque primeiro precisamos de planos municipais e isso já está a ser feito a nível municipal. O Tombwa já tem e os outros estão a elaborar, para podermos ter o provincial. Também estamos a correr para criar uma estratégia de arrecadação de receitas no sector do Turismo, que acreditamos estar disponível em breve. Estamos a estudar mecanismos para apresentar ao Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente aquilo que for definido a nível da nossa província, a fim de forçar que esse dispositivo esteja disponível o mais rapidamente possível. Nós queremos arrecadar receitas, porque o Namibe recebe turistas todos os dias.

ANGOP - Qual é a média de turistas que chegam anualmente ao Namibe?

PH - Estrangeiros, aproximadamente três a quatro mil, anualmente?

ANGOP - Quais são os pontos turísticos mais visitados?

PH - O Deserto, as Colinas, as Dumas, a Welwistchia Mirabilis e o Vale dos Espíritos. Reza a história que esse último é o local onde os povos mucurocas que ali habitavam  depositavam as crianças nascidas com má formação congénita ou com casos de albinismo. São comunidades que não tinham conhecimento e entendiam isso como uma maldição. Pegavam os bebés e os depositavam ali até à sua morte, daí o nome Vale dos Espíritos. Nós estamos a definir essas estratégias para aumentar o número de turistas, porque quase não ganhamos  nada com esse fluxo de turistas que cá passam. Nós,  recentemente, recebemos um navio cruzeiro no Namibe, que está sempre na rota dos navios cruzeiros quando chegam a Angola. Ficamos dois anos sem receber turistas devido a situação de pandemia que o mundo viveu, mas já retomamos. Temos também outros turistas que chegam por outras vias: terrestre ou aérea, principalmente da Namíbia, África do Sul e outros pontos, que acabam por visitar o Deserto por causa, fundamentalmente, do turismo radical e alguns campeonatos de ralis.

O Namibe  também é muito forte na questão de turismo de sol e mar, o que também tem atraído muitos turistas às nossas praias, para actividades de campismo ou para hospedagem nos aldeamentos turísticos locais, como as praias das mariquitas, do soba, oceanos e outras.

ANGOP: O Deserto está entre os locais que mais visitantes poderão receber no mundo, em 2023, segundo um estudo do jornal New York Times. Isso impõe, necessariamente, novos investimentos nos locais turísticos ao seu redor. Como olha para isso?

PH – Nós, a nível do Deserto, estamos a investir com algum rigor, mais propriamente  no Parque Nacional do Iona, porque é a entidade que gere grande parte da extensão do Deserto, na parte angolana. Já foi adjudicado a uma co-gestão entre o Estado e uma empresa privada há quase dois anos. Recentemente, fomos ao parque, porque há um programa de repovoamento das espécies, onde foram introduzidas 14 girafas e outras espécies serão introduzidas. Estão nesta altura em obras algumas infra-estruturas no interior do parque, para fomentar o próprio turismo e não só. Estão a ser construídas  zonas para camping, dormitórios, novas bases para o controlo de todo o perímetro do parque para permitir o acesso. Antigamente acedia-se ao parque sem qualquer cadastramento,  não se sabia quem entrou e o que estava lá a fazer. Alguns malfeitores  caçavam dentro do perímetro do parque, haviam acções que beliscavam o objectivo principal de uma área de conservação, que é conservar e preservar a flora e a fauna. Há investimentos a serem feitos mesmo a nível do fomento do ecoturismo em toda a extensão do Deserto, para que, quem quiser ir visitar, passar pela protecção. Isso hoje já acontece, ou seja, já têm que ser cadastrados, pagar para entrar e com isso já se vai arrecadando alguns valores para os cofres do Estado. Por pessoa paga-se 700 kwanzas.

ANGOP – Em concreto, quanto é arrecadado com as visitas ao parque?

PH – Conforme os últimos dados que tive, estamos a falar, mensalmente, entre 800 e um milhão de kwanzas. Esses recursos financeiros são aplicados nas infra-estruturas e no próprio fomento do turismo, porque uma das coisas que estamos aqui a fazer (é uma das condições) é facilitar que todo o valor arrecadado  no sector seja revertido para o fomento do próprio turismo, para criar melhores condições. É o que estamos a fazer.

ANGOP – Falou há pouco na construção de dormitórios. Quantos são?

PH - Não consigo avançar o número de camas, mas fizemos em Janeiro último uma visita às obras do parque e pelo que observamos são três ou quatro dormitórios com  capacidade de 20 camas, mas sem certeza.

ANGOP – Em relação à Baía dos Tigres, qual é a estratégia para aquela ilha?

PH – A Baía dos Tigres faz parte do território do Tombwa, é uma comuna daquele município. Nós recebemos, recentemente, propostas de empresas que querem fazer gestão daquela ilha. Na verdade, o que temos lá é um museu a céu aberto, mas estamos a avaliar essa possibilidade. Neste momento temos duas propostas, até porque tem sido o destino de excelência de grandes empresas e pessoas. Admitimos que nessa altura há uma grande dificuldade no acesso e isso cria embaraços para que a administração local crie infra-estruturas e controle aquela geografia. Mas há um grande plano do governo provincial e da administração em ver qual será a melhor via para a gestão, que pode ser  por adjudicação de uma empresa. Estamos a analisar se esta empresa paga impostos ou uma taxa à administração local, a fim de poder gerir aquele espaço.

ANGOP – Essas empresas apresentaram contrapartidas?

PH - Não apresentaram contrapartidas, apenas a intenção de gerir. Agora, caberá ao governo negociar, porque não podemos ceder nenhuma parte do território assim. Nesta altura  estamos a emitir o nosso parecer, a analisar as propostas, com alguma profundidade para depois  remeter à consideração superior para os devidos efeitos.

ANGOP – Além dessas infra-estruturas de que falamos, que outros locais de interesse histórico, cultural e patrimonial o Namibe oferece para os turistas?

PH - Nós temos várias infra-estruturas, embora algumas delas estejam desaproveitadas. Existem serviços conexos, temos algumas infra-estruturas para dar respostas a essas necessidades,  como é o caso de alguns cinemas a nível da província. Mas, infelizmente, alguns estão praticamente abandonados, como é o caso do Cine Alexandre, no Tombwa, o Cine Estúdio, em Moçâmedes, que conseguimos, em 2022, elevar a património nacional. Temos o caso do Cine Namibe e o Empala que, de forma tímida, vão acolhendo algumas actividades, mas precisam de alguma intervenção. Na verdade, o que fizemos ao Cine Estúdio foi deixar a infra-estrutura utilizável,  porque ela nunca chegou a funcionar, a sua construção começou em 1975, pouco antes da Independência Nacional, e depois dessa conquista já não funcionou. Ficou apenas naquelas condições até a presente data. O que o governo provincial fez foi higienizar o espaço, colocar iluminação e água, para acolher actividades. O ano passado, no âmbito do FENACULT, fizemos lá exibição de filmes, peças de teatro, exposições da vida e obra de Agostinho Neto. Já vamos recebendo solicitações de alguns particulares, como igrejas e promotores de eventos, para uso do espaço. Agora há outras intenções para o Cine Estúdio, que o Governo local que transformar em um museu herero, etnográfico ou em uma casa de cultura.

ANGOP - Quanto vai orçar esse trabalho?

PH - Está a cargo do governo central, não temos os detalhes. O que estamos a fazer é, a nível local, levar à consulta pública a intenção do governo central, porque será um projecto no âmbito da requalificação da Baía de Moçâmedes.

ANGOP -  O Cine Estúdio é propriedade do Governo?

PH - O Cine Estúdio passou à esfera do Estado desde 2014.

ANGOP – Mudando de tema, o sector da hotelaria e restauração é fundamental para alavancar o Turismo. O Namibe tem uma rede hoteleira funcional?

PH - Temos várias unidades hoteleiras. Actualmente, dispomos de dois mil 125 quartos.

ANGOP – Qual é a taxa de ocupação desses quartos?

PH – Depende! Aos fins-de-semana ou em época festiva, a nossa taxa de ocupação é de 100 por cento em algumas unidades. Noutras, estamos a falar de 70 a 80%. Nos dias normais, a taxa de ocupação é de 50 a 60 por cento.

ANGOP – Estamos a terminar essa conversa, pelo que gostávamos que nos falasse, em concreto, quais são os grandes projectos do Governo para o sector do Turismo?

PH - Os projectos do governo para todos os espaços turísticos é criar infra-estruturas de apoio ao Turismo, ou seja, colocar água, energia eléctrica e vias de acesso. O resto tem de ser com o sector privado para dinamizar o turismo. A nossa estratégia é essa, levar serviços e depois  adjudicá-los ao privado, que pagará impostos ao Estado. O primeiro projecto é criar essas condições. Por outro lado, existem políticas do governo central, como linhas de financiamento directas para quem quer investir no sector do Turismo. Estamos à espera do Aviso 10, do Banco Nacional de Angola, onde constam linhas de financiamento para o Turismo. Temos, por exemplo, empresários que estão a fazer gestão de resorts e de praias, no quadro da adjudicação do Governo. O que temos feito é criar condições para o privado instalar-se, arrecadar e pagar impostos.

ANGOP – Não podíamos terminar essa entrevista sem falar das vossas estações arqueológicas. Qual é, nessa altura, o ponto de situação desse segmento?

PH – Preocupa-nos muito a situação das nossas estações arqueológicas, como é o caso do Tchitundo-hulo, do Caraculo e outras que temos no município de Camucuio, cujas rochas  enfrentam um processo de desgaste e vandalismo de pessoas não conhecem o valor histórico,  ou seja, das pinturas e gravuras rupestres, acabando por descaracterizar essas zonas. Temos estado a fazer um trabalho de sensibilização junto das comunidades e do poder local, para preservarmos esse acervo. No caso específico de Tchitundo-hulo, já estava para ser inscrito como património histórico da humanidade, porque estamos a falar de artes milenares que demonstram os hábitos e costumes de povos que habitaram aqui no período pré-histórico. Temos a grande responsabilidade de preservar. São acções que estão em curso, mas precisamos agora, junto do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, ver se conseguimos dar continuidade ao processo de inscrição do Tchitundo-hulo, porque quando são inscritos, a UNESCO disponibiliza recursos dos activos. Nessa altura, nós não temos recursos para a sua manutenção, que poderia servir para fazer alguma intervenção para preservar o Tchitundo-hulo, mas a UNESCO reprovou, porque, de acordo com os termos de referência, tudo aquilo que é elevado a património da humanidade não pode ter nenhum factor que impeça, ou seja, deve ser de acesso livre. Quem quiser ir para lá não pode ter nenhum empecilho. Então, tivemos que retirar, já foi corrigido, e agora queremos voltar a fazer “pressing” junto do ministério para que se retome o processo de inscrição, porque estamos a falar de uma zona em que as alterações climáticas se incidem com muita força, refiro-me à intensidade do sol, o que faz que as gravuras no exterior da gruta vão sofrendo processo de desgaste e as placas vão estalando. Aglutinando a esse factor natural, temos a questão da falta de um Código de Postura e acesso àquela zona, ou seja, um itinerário próprio de acesso. Quem for para lá, não pode pisar em qualquer sítio, pegar em qualquer sítio, movimentar-se de qualquer forma. Tem que ter um perímetro próprio de circulação. Isso é que faz acelerar o processo de descaracterização. Não são acções praticadas pelos autóctones. Muitas vezes, são mesmo os turistas. É um trabalho que estamos a fazer, com a formação de guias turísticos locais, para que sejam eles a perceber o valor daquilo. Quando eles começarem a ganhar dinheiro, começarão a preservar. 



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