Luanda – O analista político Osvaldo Mboco lança, esta quarta-feira, no Memorial Dr. António Agostinho Neto, em Luanda, o livro ‘Política Externa de Angola – Principais Marcos, Desafios e Perspectivas’.
Por Francisca Augusto, jornalista da ANGOP
Em declarações à ANGOP, Osvaldo Mboco frisou que a obra fala sobre a evolução das relações entre Angola e os seus parceiros, sobretudo os Estados Unidos da América, a Rússia, a China e França.
No livro, o autor aborda os momentos-chave da diplomacia angolana desde a Independência Nacional (1975) até aos dias actuais.
Eis a entrevista na íntegra
ANGOP – ‘Política Externa de Angola – Principais Marcos, Desafios e Perspectivas’ é um título de alguma forma curioso. O que traz, concretamente, o seu novo livro?
Osvaldo Mboco – O livro fala sobre a política estadual de Angola, os diferentes caminhos seguidos desde a Independência Nacional até aos nossos dias, passando pelos seus principais marcos, como, por exemplo, o papel que Angola jogou para o fim do Apartheid na África do Sul, a questão da independência da Namíbia, o apoio que o país deu a vários movimentos de libertação nacional, a nossa entrada nas Nações Unidas e na União Africana, enquanto membro de pleno direito, bem como narra a principal estratégia da nossa política externa durante o período de guerra.
Como devemos calcular, todos os esforços eram maioritariamente cabimentados para aquilo que seria cortar as linhas de financiamento e abastecimento que a UNITA tinha, assim como fazer que esse partido fosse considerado no sistema internacional um grupo rebelde e não uma força de guerrilha.
Também gizar uma estratégia que concorria para uma política de boa vizinhança, tendo em linha de atenção que muitos países serviam de trânsito para que o material bélico militar e logístico da UNITA lhe chegasse.
Trazemos, também, a perspectiva dos vários acordos de paz que Angola assinou, desde os de Bicesse, Lusaka ao Memorandum de Luena.
A obra narra, por exemplo, o porquê que Angola se volta à China num período pós-conflito civil e quais eram os esforços da diplomacia nesta altura, olhando hoje para as várias reformas que o país operou do ponto de vista político.
Contudo, o livro não se fundamenta, simplesmente, na observação destes marcos, mostra, também, quais os grandes desafios que hoje a nossa diplomacia tem, sendo que um deles é a inserção de quadros angolanos nas várias organizações, a identificação, ao meu entender, daquelas organizações nos blocos regionais em que Angola tem alguma pretensão muito mais firme do ponto de vista de investir e ter algum prestígio.
Actualmente, a nossa diplomacia, ao nível do Leste da República Democrática do Congo, merece uma abordagem.
Trazemos, igualmente, o ponto de vista dos desafios e a perspectiva em volta da diplomacia económica, cujos resultados ainda estão muito aquém daquilo que são expectáveis, mesmo sem ter dados oficiais para podermos aferi-los.
Acrescentamos a perspectiva da necessidade de o Ministério das Relações Exteriores engendrar e ensaiar aqui uma diplomacia cultural para atrair investidores, dando tónica a determinadas matérias.
E as perspectivas são a visão do autor do que era expectável sobre o funcionamento da nossa própria política externa.
Por outro lado, esta obra traz uma perspectiva em volta de como seria o nosso papel se estivéssemos agora nas Nações Unidas e ter uma grande participação mais activa ao nível das missões de manutenção de paz, por exemplo.
Isto aqui seria também um aspecto muito interessante do ponto de vista de prestígio e de um currículo consistente por parte do Estado angolano sobre matérias de gestão e paz, tendo em atenção que Angola se constitui um dos principais articuladores no continente africano sobre estas matérias, e seria extremamente importante para o Estado angolano ter um currículo consistente do ponto de vista das missões de paz.
ANGOP – Como surgiu a ideia da produção deste livro?
OM – A ideia da produção deste livro resulta, inicialmente, dos vários artigos de opinião que fui escrevendo de 2018 a 2024, muitos deles voltados para a política externa de Angola.
Muitas destas reflexões foram publicadas no Jornal de Angola, mas o ponto de partida disto resulta de um convite a que no passado havia aceitado, feito pelo editor-chefe do jornal ‘O País’, Dani Costa, para escrever um artigo de opinião sobre os 100 primeiros dias do Presidente João Lourenço, no capítulo da política externa.
No entanto, fui escrevendo sobre a política externa de Angola e entendi que posso fazer um trabalho muito mais acabado e contribuir também para o acervo bibliográfico angolano sobre matérias ligadas a essa érea.
ANGOP- Quantas páginas e partes tem a obra?
OM – O livro tem 196 páginas e cinco capítulos. O primeiro é teórico e doutrinal, no qual são apresentados conceitos e teorias que serviram de âncoras para a sua abordagem. O segundo traz uma perspectiva de definição de conceitos, tais como: o que é política externa, a formulação da política externa, a questão da diplomacia, elementos, etc. O terceiro aborda os interesses nacionais, quer os permanentes, quer os circunstanciais, com base em dois autores que escreveram sobre essa matéria, nomeadamente Weidai e Rarmo Gentão, que serviram de âncora para a adaptação que fizemos do ponto de vista da observação dos fenómenos ao nível do país.
O quarto é mais histórico, porque fala sobre o ano 1975 até aos nossos dias. O quinto ou último é muito mais analítico, pois nele são analisadas as nossas relações com os Estados Unidos, França, Rússia, China, Brasil, Portugal, Turquia, entre outros Estados que também consideramos importantes, como, por exemplo, a República Democrática do Congo, do ponto de vista prático, as nossas participações ao nível dos vários blocos regionais como a SADC, CEEAC e a CPLP.
ANGOP - Quantos exemplares serão publicados nesta primeira fase?
OM - Nesta primeira fase, vão ser impressos mil exemplares, porque percebemos que é um livro que pode prender a atenção dos próprios leitores e servir de material de apoio aos estudantes de Relações Internacionais, História, Ciência Política, entre outras pessoas interessadas pelo estudo desses fenómenos que, de facto, têm estado a prender muita atenção.
ANGOP – Qual foi a editora?
OM – A editora foi a Oficina de Conhecimento. Fizemos um trabalho em volta disto e já temos três obras colocadas nesta mesma editora. Por outro lado, temos trabalhado para o aumentando daquilo que pode ser a nossa pretensão.
ANGOP – Quais as suas motivações e expectativas em relação ao livro e o que quer atingir com o mesmo?
OM – O que queremos atingir com o livro é que seja lido e sejam analisadas as ideias que aí estão.
Que estas ideias sejam criticadas, que sejam feitas observações! Mas também queremos que o livro contribua, significativamente, para o acervo bibliográfico angolano que trata sobre matéria de política externa ou diplomacia.
Pensamos não esquecer a nossa forma de deixar o contributo.
Obras
Osvaldo Mboco é, também, autor dos livros ‘Os Desafios de África no Século XXI – Um continente que procura se reencontrar’ (2021) e ‘As Eleições em Angola de 1992 até aos Nossos Dias (2022). FMA/ART/ADR