Dundo – A busca pela autossuficiência alimentar exige medidas cada vez mais dinâmicas e ousadas, aproveitando as terras aráveis sem limites e inexploradas de que o país dispõe, através de políticas de incentivo à produção nacional.
Por Hélder Dias, Jornalista da ANGOP
Numa entrevista concedida à ANGOP, o director do Gabinete Provincial da Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural da Lunda-Norte, José Mendes, destaca os passos que a província tem dado para concretizar o “sonho” da tão almejada autossuficiência alimentar.
Segundo o responsável, o Governo angolano tem implementado vários programas para o fomento da produção de bens alimentares de amplo consumo, promovendo a indústria transformadora.
As medidas que o Executivo tem vindo a implementar, como as linhas de financiamento e garantias previstas no Orçamento Geral do Estado e o Programa de Fomento da Produção Agropecuária do Plano de Desenvolvimento Nacional 2023-2027, visam igualmente melhorar a segurança alimentar e impulsionar o crescimento económico.
Entre os projectos do Governo, destaca-se também o Plano Nacional de Fomento da Produção de Grãos (PLANAGRÃO), avaliado em 2.8 biliões de kwanzas.
Pretende-se, com este plano, aumentar a produção do arroz, do milho, do trigo, da soja e de outros cereais para mais de seis milhões de toneladas, até ao ano de 2027, contra as três milhões 26 mil e 140 produzidas, em 2021.
O Plano tem como foco as províncias da Lunda-Norte, da Lunda-Sul, do Moxico e do Cuando Cubango, com financiamento do Estado, através do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) e do Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA) e para ser desenvolvido pelo sector privado.
Pelo seu potencial e histórico agropecuário, a província da Lunda-Norte, conhecida como “berço da exploração diamantífera”, é um ponto estratégico, daí estar entre as escolhidas para a implementação do PLANAGRÃO e para o relançamento da produção de café.
A mandioca, a batata-doce, as hortícolas e a criação de animais destacam-se entre os alimentos agrícolas mais produzidos na região, precisou José Mendes.
Eis a entrevista na íntegra
ANGOP – Quantos hectares de área cultivada têm a província?
JOSÉ MENDES (JM) – A província da Lunda-Norte tem disponíveis 287.877,2 hectares de terra nos dez municípios (Chitato, Cambulo, Caungula, Cuilo, Cuango, Capenda Camulemba, Lucapa, Lóvua, Lubalo e Xá-muteba), em utilização na presente campanha agrícola.
ANGOP – Quais são os principais produtos de cultivo e qual foi a sua quantidade no ano passado?
JM – Os principais produtos são os tubérculos (mandioca e batata), hortícolas, frutícolas, cereais e palmar. De realçar que este ano está a ser implementada a cultura do café, que prevê envolver mais de três mil famílias nos municípios de Cuilo, Caungula, Capenda-Camulemba, Lucapa e Cambulo.
Na primeira fase, as administrações municipais, em função das mudas que forem recebendo, foram orientadas a preparar pelo menos tres a cinco mil hectares.
O número de famílias envolvidas pode aumentar para cinco a seis mil, com a criação das condições, sobretudo, com o alargamento dos espaços de cultivo, sendo que a meta é atingir os 100 mil hectares em todos os municípios, para o cultivo de 87 mil mudas.
O cultivo do café já começou a ser praticado nos municípios do Cuilo e Chitato. O projecto prevê a instalação de um viveiro com a capacidade de produzir mais de um milhão de mudas de café por ano. Está em curso, desde 2022, um programa de fomento de produção de mel, que começou com a distribuição de cinco kits completos composto de duas colmeias, “Langstroth” (onde as abelhas constroem o favo de mel em caixilhos ou quadros que podem ser movidos com facilidade), alça sem cera e alimentador plástico médio, a igual número de produtores nos municípios de Cambulo,Cuilo,Caungula,Cuango e Capenda Camulemba.
Na época agrícola 2022/23, 737 famílias beneficiaram de aves (pinto/galinha) de raça “boschelved” e outras 37 receberam suínos, para o fomento da produção de carne.
Na campanha agrícola passada, foram preparados 272 mil e 765 hectares de terra para 171 mil e 898 famílias camponesas, que produziram mais de 2 milhões de toneladas de produtos diversos.
ANGOP – Qual é a vossa previsão de colheita para a presente campanha agrícola?
JM – Para o ano agrícola 2023/24, a previsão de colheita é de dois milhões, 462 mil e 42 toneladas de produtos diversos.
ANGOP – Como está a província em termos de fertilizantes? Quantas toneladas foram distribuídas este ano?
JM – Foram disponibilizadas 30 toneladas de fertilizantes, 80 toneladas de sementes de cereais/grãos, sendo arroz (10), feijão (20), milho (30), trigo (10), massongo (5) e massambala (5).
ANGOP – Quantos camponeses estão inscritos actualmente na vossa circunscrição e quantas fazendas igualmente inscritas?
JM – Actualmente, cerca de 224.343 famílias camponesas estão envolvidas na produção agrícola na Lunda-Norte, que possui cerca de 11 fazendas de pequeno, médio e grande porte.
ANGOP – Que passos estão a ser dados no esforço focado no aumento da produção agrícola local?
JM – Estamos a trabalhar para que, a partir de 2025, implementemos um projecto denominado “Cadeia de Valor Agrícola “, a ser financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que vai envolver 50 mil famílias camponesas. O projecto visa, numa primeira fase, a criação de uma rede de produção de sementes, fertilizantes e revitalização da mecanização agrícola.
Com esta iniciativa, pretende-se melhorar a produtividade e o aumento da produção de cereais (arroz, milho, trigo), feijão, palmar, cacau, café, bem como a criação do gado bovino e suíno. Na primeira fase, o projecto será implementado nos municípios do Chitato, Cuilo, Capenda Camulemba, Cambulo e Lucapa.
Para além do apoio à produção, prevê-se a reabilitação do laboratório de solos do município de Capenda-Camulemba, assistência técnica através da metodologia das escolas de campo, capacidade de mecanização para preparar a terra para sementeira e abertura de novas áreas.
A criação de estabelecimentos comerciais equipados com o necessário para desenvolver a venda dos produtos, a descentralização da cadeia de valor (produção, transformação, transporte e comercialização) e a aquisição de sementes e ferramentas de trabalho constam das acções previstas no projecto.
ANGOP – No domínio das pescas, quais são as vossas médias de captura e quantas toneladas foram pescadas no ano passado?
JM – A província não tem um registo sobre as capturas, porque somente em 2023 deu início a um projecto de produção de tilápia. Actualmente a província conta 369 tanques e 168 lagoas para piscicultura, onde 30 mil e 981 tilápias (bagre) estão em reprodução. HD/IZ