Luanda – A embaixadora de Angola em França, Guilhermina Prata, aponta como prioridade o reforço da cooperação nos domínios da educação, agricultura, saúde e cultura, bem como o investimento francês no país.
Por: Venceslau Mateus, jornalista da ANGOP
Em entrevista exclusiva à ANGOP, no quadro da visita do Chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, a Angola, marcada para 2 e 3 de Março, Guilhermina Prata, que assumiu, em Janeiro deste ano, a Embaixada angolana em França, diz tratar-se de áreas que, desenvolvidas, contribuem para a formação, alimentação, bem-estar dos cidadãos e melhoria das condições do país.
A diplomata tem ainda como bandeira, para a sua missão, impulsionar maior inclusão da comunidade angolana em França, através da criação de encontros, realização de actividades culturais e celebração das datas mais marcantes, para que essa não se sinta afastada, mas, sim, acolhida.
Eis a íntegra:
ANGOP - Como considera o actual estado das relações Angola/França e suas perspectivas?
GP - As relações de cooperação Angola/França são excelentes. Regista-se uma continuidade visível nos contactos regulares entre os dois países e há um trabalho conjunto em vários sectores, particularmente em domínios regionais e internacionais, e a nível bilateral, como, por exemplo, na cooperação económica, no domínio da agricultura e nas vertentes social, educacional e cultural.
Perspectiva-se o aprofundamento nas relações, o apoio e troca de experiências entre os dois países, bem como a busca de mais investidores estrangeiros e o aumento de projectos para a melhoria e sustentabilidade nas mais diversas áreas de interesse comum. De igual modo, urge continuar a abordar-se questões administrativas e consulares que preocupam ambas as partes.
O Fórum de Paz de Paris, no qual Angola tem participado desde a sua criação, é uma iniciativa, igualmente, importante para centrarmos a nossa atenção, pelo papel relevante do país na promoção da paz e segurança no continente africano, em particular, e no mundo, em geral.
Angola está ligada por fronteira e laços históricos a países francófonos, e será uma mais-valia fazer parte, no futuro, dessa grande comunidade de países que falam francês.
Também a nível parlamentar, vamos promover a troca de experiências, com uma das democracias mais sólidas do mundo.
ANGOP - O que o Executivo, em particular, e os angolanos, em geral, podem esperar da visita de Emmanuel Macron?
GP - A visita do Presidente Macron a Angola é a demonstração da importância que França nos atribui como um parceiro estratégico prioritário, com o qual tem mantido relações e diálogo constantes ao mais alto nível, sobretudo pelo facto de ter sido o primeiro Estado da Europa que o Presidente João Lourenço visitou, oficialmente, entre 28 e 29 de Maio de 2018, após a sua eleição, em 2017.
É preciso salientar que França é o segundo maior investidor estrangeiro em Angola, a seguir aos Estados Unidos da América. Há, no nosso país, empresas como a Total Energies, que é um dos principais empregadores privados.
O Executivo, em particular, e os angolanos, em geral, podem esperar que este seja mais um grande passo, rumo à projecção do país no plano internacional e ao desenvolvimento do reforço da cooperação bilateral já existente.
ANGOP - Na sua opinião, que áreas carecem de mais apoio da parte da cooperação francesa?
GP - É preciso estabelecer e reforçar a aposta em múltiplos eixos que considero prioritários, nomeadamente educação, agricultura, saúde, cultura e investimento francês, pois são áreas que, desenvolvidas, contribuem para a formação, alimentação, bem-estar dos cidadãos e para a melhoria das condições do país.
A educação é uma área prioritária para nós. A França tem investido, fortemente, na educação, na formação e na qualificação profissional dos nossos jovens, em especial nas engenharias e outras áreas técnicas, com as Escolas Eiffel e os bolseiros. Assim, pretendemos acompanhar e promover mais oportunidades para os jovens.
Na cultura, desporto, inovação e criatividade, queremos fortalecer as pontes entre Angola e França. Temos presente que, por um lado, os estudantes, emigrantes, jogadores de futebol, artistas, homens e mulheres de cultura adquirem valores e desenvolvem talentos inspirados na cultura francesa; por outro, a cultura francesa é fortalecida pelos africanos, em geral, e, particularmente, pelos angolanos. Assim, cremos que os nossos povos beneficiarão deste interesse e aproximação.
Outro pilar essencial na relação entre os nossos países é a Agenda Energética, com a necessidade de se olhar para as energias renováveis, preservação e conservação do meio ambiente. Para dirimir o impacto das alterações climáticas, França está na vanguarda desse debate, e acredito que Angola possa beneficiar, imensamente, da cooperação nessa área.
A cooperação francesa para o desenvolvimento comunitário tem muita expressão no empoderamento de jovens e mulheres mais vulneráveis nos países menos desenvolvidos, e esperamos que continue a ser implementada em Angola, sobretudo nas zonas rurais.
ANGOP - País da alta política, da cultura, potência económica europeia, com grande tradição em África, em particular, e no mundo, em geral, como nação de acolhimento e engajada na integração para o desenvolvimento, assim como na vanguarda da defesa das causas do ambiente, o que espera da sua missão?
GP - Espero desempenhar esta desafiante e nobre missão, de modo a não defraudar a confiança depositada em mim.
Pretendo identificar o que precisa de ser introduzido, corrigido e melhorado. Tenho em mente alguns pontos sobre os quais incidirão a estratégia a gizar e que estarão em conformidade com os superiores interesses de Angola. Também pretendo que o meu trabalho vá respondendo a perguntas como essa e apenas no final realizar um balanço que desejo que seja positivo, deixando a oportunidade para os críticos e quem de direito o avalie.
ANGOP - Reside em França uma comunidade angolana considerável, nomeadamente estudantes, emigrantes e intelectuais. Como vai criar pontes e aproximação com os angolanos?
GP - Pretendo que haja maior aproximação com a comunidade angolana, através da criação de encontros, realização de actividades culturais, celebração das datas mais marcantes, como o ‘Dia da Independência’, ‘Dia da Paz’, ‘Dia da Mulher Africana’, ‘Dia da Criança’, entre outras.
Desejo que haja maior inclusão da comunidade, para que não se sinta afastada, mas, sim, acolhida neste pedaço, pois a embaixada representa a República de Angola.
Na verdade, será um trabalho que vai ser realizado à medida que a missão for cumprida. Quero que a comunidade resgate o orgulho de ser angolano.
ANGOP - O que representa, para as relações diplomáticas Angola/França, esta nomeação, tendo em conta o seu curriculum e experiência política?
GP - Como embaixadora de Angola em França, tenho como compromisso defender os interesses angolanos nesse país, de zelar pelo aprofundamento das relações entre ambas as Nações e de consolidar todo um trabalho que já vem sendo estabelecido pelos meus antecessores.
Creio que, de igual modo, o início da minha missão coincide com o desejo de Angola continuar a trabalhar em termos de cooperação bilateral nos mais variados sectores de interesse comum.
Na verdade, a experiência política faz-me reconhecer que todas as missões envolvem um processo de avaliação, de diálogo, de reconhecimento e de identificação. Importa salientar que nada se faz sozinho.
A liderança e o trabalho em equipa são as chaves para que um organismo seja funcional. Assim, primo pela organização, pelo esforço colectivo, pelo diálogo, bem como pela abertura e mediação.
Auguro que todos na Embaixada de Angola em França trabalhem afincadamente, a fim de que juntos possamos elevar o nome do país.
Cooperação Angola/França
A França tem mantido relações diplomáticas com Angola desde a nossa Independência. Um primeiro acordo assinado em 1982 lançou as bases da cooperação bilateral. Desde então, essa tem-se expandido, incluindo visitas de delegações de ambos os países.
É o segundo maior investidor estrangeiro e um dos principais empregadores privados em Angola.
Em 2018, os dois países assinaram três acordos durante a visita de Jean-Yves Le Drian, ministro da Europa e dos Negócios Estrangeiros, a Luanda, nos domínios aéreo, um acordo-quadro no da agricultura e um acordo-quadro no sector do turismo.
Dados da Embaixada de França em Angola dão conta que, nos primeiros nove meses de 2021, as exportações para o país se situaram em 178,2 milhões de euros, um aumento de 26,4% em relação ao mesmo período de 2020.
Por dentro
Nascida a 8 de Maio de 1952, Guilhermina Prata é licenciada em Direito pela Universidade Agostinho Neto (1985) e mestre em Ciências Jurídico-Empresariais pela mesma instituição. Foi deputada à Assembleia Nacional, ministra da Justiça e vice-presidente do Tribunal Constitucional.
É membro da Associação das Juristas Angolanas e da Federação Internacional das Mulheres de Carreira Jurídica. Integrou a Comissão Eventual de Revisão Constitucional da Assembleia Nacional, a Comissão Constitucional e a Comissão Técnica para as Questões Constitucionais.
Nomeada a 20 de Janeiro deste ano, vai representar Angola na República Francesa, no Reino do Mónaco e no Liechtenstein. Esse último, que tem como capital a cidade de Vaduz, é um principado de língua alemã, com 25 quilómetros de extensão, entre a Áustria e a Suíça.