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Cultura no comando do jubileu da Independência

     Entrevistas              
  • Luanda • Sexta, 10 Janeiro de 2025 | 09h45
Director Nacional para Acção Cultural, Pedro Chissanga
Director Nacional para Acção Cultural, Pedro Chissanga
Kinda Kyungu/ANGOP

Luanda – A cultura ocupa um lugar privilegiado na actual agenda política do Governo angolano no quadro das celebrações dos 50 anos da Independência Nacional, a assinalar-se a 11 de Novembro deste ano.

Por António Neto Miguel, Jornalista da ANGOP

Uma série de eventos culturais, incluindo inaugurações desfiles e apresentações artísticas a destacar a diversidade e a riqueza do património cultural nacional estão programadas para marcar o jubileu da Independência.

Segundo o director nacional da Acção Cultural, Pedro Chissanga, este marco reforça a importância da cultura em Angola, que ao longo dos tempos sempre jogou um papel preponderante na luta pela liberdade nacional, até o país alcançar a sua soberania e a valorização do seu povo.

Em entrevista à ANGOP por ocasião do 8 de Janeiro, Dia da Cultura Nacional, que deu início ao programa de actividades do jubileu da Independência, Chissanga ressaltou, em particular, a contribuição das artes e da música para a construção da Nação angolana.  

Realçou que a cultura, nos dias hoje, é a parte prioritária da agenda política do Governo angolano, que fez coincidir a efeméride do 8 de Janeiro com o arranque, a partir da cidade do Huambo, do programa de inaugurações e outras acções alusivas aos 50 anos da Independência Nacional.

Sobre a contribuição dos diferentes grupos étnicos à identidade cultural nacional, disse situar-se numa lógica da complementaridade e do ponto de vista de interdependência.

No seu entender, não há cultura melhor ou maior, mas sim, culturas diferentes. Portanto, na diferença “nós olhamos para aquilo que cada um, da sua maneira e do seu ponto de existência pode contribuir”, sublinhou.

Defendeu, por isso, uma maior equilíbrio na divulgação dos diferentes mitos e tradições que compõem a cultura angolana.

 

Eis a entrevista na íntegra:

 

ANGOP – Angola iniciou os preparativos para comemorar os 50 anos de Independência Nacional. Que importância se pode atribuir  a esta celebração?

Pedro Chissanga (PC) – Quando partimos do pressuposto de resgate da nossa própria identidade, isso tem muito a dizer, porque, a partir do momento em que o angolano se voltou para o seu próprio prisma e recebeu o seu BI, tudo começou.

Daí para frente temos a questão cultural, a questão cultural impõe-se, um povo identifica-se pela sua cultura, foi o resgate do verdadeiro angolano.

Este facto ajudou a desenvolver um conjunto de sistemas culturais, como as nossas línguas, as nossas tradições, o que nos leva a parafrasear o primeiro Presidente “Havemos de Voltar”.

ANGOP – Neste contexto, como as diferentes etnias e grupos etnolinguísticos de Angola contribuem para a diversidade do mosaico cultural do país?

PC – Bem, a contribuição está bem logo numa lógica da complementaridade, aqui devemos ter um ponto de vista de interdependência.

Não há cultura melhor ou cultura maior, há sim, culturas diferentes. Portanto, na diferença nós olhamos para aquilo que cada um, da sua maneira e do seu ponto de existência pode contribuir.

O Olundongo, uma dança do centro deve ser divulgada da mesma forma que a Tchianda que é uma dança do Norte.

Mas quem deve divulgar estas danças? São as comunidades.

Estamos a trabalhar com as comunidades no sentido de preservar este hábito, esta tradição que são de áreas diferentes. Cada um deve contribuir com seu saber, facto que faz com que a nossa cultura seja forte e diferente, embora complementares.

Portanto, nós, em termos já administrativos, devemos pegar naquilo que existe e torná-lo mais forte, em termos de governação, com a aplicação de mecanismos próprios para a sua preservação, divulgação.

ANGOP – Que mecanismos próprios são estes?

PC – É legislar, temos que criar políticas, enquadrar isso dentro das políticas culturais, que já existem, e de ponto em ponto, nas suas especificidades, criar também políticas avulsas que possam torná-las cada vez mais robustas, defendendo estes hábitos, costumes e mitos, fazendo com que a prática continue a ser valorizada.

Temos de trazer a cultura ao conhecimento, com a criação de actividades próprias para isto, como, por exemplo, o Carnaval, que é uma das manifestações culturais que traz consigo os mitos e outros hábitos culturais.

Quando a gente vê os grupos carnavalescos, por exemplo, de Luanda, a desfilar, existe uma ala do Xinguilamento, um mito próprio da nossa cultura.

No Norte, os grupos carnavalescos têm as alas dos Muquixes, mas no centro temos a ala do Ocinganji, indivíduos míticos.

Portanto, nós temos que continuar a divulgar esses mitos e essas tradições que fazem o grande mosaico cultural angolano.

ANGOP – Quais as manifestações artísticas que se destacam durante as celebrações dessa data?

PC – Nós, durante essa data, tentamos tirar maior proveito para informarmos a sociedade culturalmente.

Começamos por uma parte ligada à ciência, uma vez que temos que estar ligados ao conhecimento científico, com a realização de mesas redondas, conferências, colóquios e palestras.

Depois passamos para as manifestações culturais, ligadas às artes performativas, com a realização de espectáculos de dança, musicais, sessões de teatro e também no domínio das artes.

Portanto, vamos ainda desenvolver a semana social das artes, dança, música, artesanato, artes plásticas, no sentido de tirarmos proveito ao máximo da data, para o resgate, a divulgação e a preservação da cultura nacional.

ANGOP – Como a globalização tem impactado a preservação da cultura angolana?

PC – Como deve saber, as culturas não são fechadas, elas são abertas, e, portanto, elas absorvem influências, facto que leva à troca de costume e hábitos, desde a questão da gastronomia, música, dança e outros.

Neste sentido, temos trabalhado no sentido de preservar ao máximo aquilo que é original, preservar a originalidade. Mas deve saber que temos um forte concorrente, que são as tecnologias de informação que hoje se apresentam com grande influência.

É importante que usemos esta ferramenta no sentido de divulgar a nossa originalidade, as danças, os hábitos e costumes da terra, mas também, temos de criar condições para podermos contrapor a grande força destas novas tecnologias.

É necessária a criação de conteúdos locais, de carácter informativo e histórico. Então, um dos grandes caminhos é trabalhar, no contexto de afastar as influências externas.

ANGOP – Como está o país hoje em termos da protecção do património cultural?

PC – Bom, em termos de protecção do património cultural, o país está bem, mas precisamos de melhorar.

É importante que os cidadãos reconheçam as suas origens, em termos de línguas, hábitos e costumes, neste quadro, se precisa praticar mais com o desenvolvimento de mais actividades para podermos melhorar.

Neste sentido, para podermos melhorar temos de utilizar, falo por exemplo das línguas nacionais a serem efectivamente enquadradas nos currículos de ensino desde o primário até ao universitário, no domínio do património imaterial.

Para tratar essas questões, isso já é bastante para as preocupações e mostram as preocupações do Estado, do país, em relação à preservação do património.

Penso que estamos num bom caminho, pois existem já alguns patrimónios materiais e imateriais classificados internamente, alguns indicados para património da humanidade.

ANGOP – Nesta lista indicativa, pode citar pelo menos três, quanto ao património imaterial e material.

PC - Bom, em relação ao património mundial, falo do corredor do Kwanza, do Cuito Cuanavale, das pinturas rupestres de Chitundo-Hulu. No que toca ao imaterial estamos a falar do Semba. 

O Instituto Nacional de Património Cultural é uma área que pode desenvolver este assunto com mais profundidade a qualquer momento e está disponível para entrevistas.

ANGOP – Quanto às línguas nacionais, o país tem capacidade tanto técnica e humana para a implementação das línguas nacionais a nível de todos os sistemas de ensino (primário, secundário e universitário) angolano?

As capacidades desenvolvem-se, portanto, o que é necessário é criar sinergia e desenvolver este desiderato. Portanto, trata-se de uma questão multissectorial, basta criarmos o caminho próprio para a sua aplicação.

ANGOP – Sente que já estamos a perder algum tempo para a implementação desta ferramenta fundamental para a protecção daquilo que é a nossa cultura?

PC – Não, tudo passa por um conjunto de esforços a serem desenvolvidos, é preciso desenvolver um conjunto de actividades multissectoriais para avançar.

Portanto, eu acredito que ainda estamos em tempo.

ANGOP – Como é que a música angolana, em particular o Semba, a Kizomba e o Kuduro, reflecte a história e o valor do povo angolano?

PC – Sem equiparar os estilos, temos a plena certeza de que a música sempre teve o seu papel fundamental para desenvolver a nossa angolanidade, desde o período da luta para o alcance da independência. Do período da Independência até aos dias de hoje, a música sempre teve o seu papel social fundamental para o desenvolvimento da nossa sociedade.

Portanto, as grandes composições, as composições feitas nestes vários períodos sempre foram tendo o seu lugar para empurrar essa locomotiva social para frente.

ANGOP – Temos já estes estilos cadastrados a nível internacional, uma vez que o Semba, a Kizomba e o Kuduro já se cantam e dançam em outras paragens do mundo?

PC - O primeiro passo foi fazer o trabalho de casa e está feito, esses estilos são património nacional.

Agora estamos a trabalhar no sentido de avançar e chegar ao património da humanidade, mas, mesmo sem chegarmos ainda a este estágio, o importante é a prática, é importante que estes estilos não desapareçam.

Fala-se muito de que vão nos roubar, um dia nós vamos perder. Isto é um não-assunto, porque nós, em qualquer parte do mundo, fora das origens dos estilos, pratica-se livremente.

Nós aqui praticamos estilos americanos, cantamos pop, cantamos hip-hop e então essas diferenças fazem o universo.

ANGOP – Como caracteriza o envolvimento da nova geração, na valorização da tradição e do folclore nacional?

PC – Bom, as novas gerações, da sua maneira e de várias formas, têm a sua contribuição, têm dado a sua contribuição tanto mais que nós vemos gente nova a cantar em Kimbundo, gente nova a fazer estilos musicais um tanto mais ligados a gerações mais adultas, há um festival nacional, que visa preservar esses estilos, que é o Variante, portanto, penso que estamos num bom caminho.

ANGOP - De que maneira o Governo apoia a preservação e valorização da cultura nacional?

PC – Bom, aqui, se calhar, podemos falar um pouco mais das acções que estão a ser desenvolvidas no domínio da valorização da cultura ou de tornar mais robusto esse sector. Portanto, tem a ver com questões ligadas à preservação do património, que é uma acção vasta, incluindo a questão dos museus e a formação de actores culturais.

Hoje o Ministério da Cultura tem na sua constituição uma Direcção Nacional de Formação que visa formar actores culturais e a questão da recuperação e criação de novos espaços para desenvolver a cultura e as artes.

Estamos a falar de espaços para espectáculos como centros culturais, temos hoje um centro cultural de referência na província do Huambo. Há vários espaços em obras que estão em curso, há várias políticas a serem desenvolvidas e outras a serem reestruturadas no domingo da cultura, das autoridades tradicionais e das línguas.

Penso que o pacote é vasto, mas aqui a questão que temos que reter é que a cultura nos dias de hoje é a parte prioritária da agenda política do Governo angolano.

ANGOP – Quanto à questão de novos espaços, temos a construção do Palácio da Cultura. Que contributo essa instituição trará para o desenvolvimento artístico e cultural nacional.

PC – Bom, se calhar devemos estar a falar do Palácio da Música e do Teatro e da Casa do Artista.

Este espaço está a ser construído tendo em conta as carências de locais para que os homens das artes, os artistas, desenvolvam a sua actividade, portanto, se um artista não tem palco, logo este artista não tem como sobreviver, porque o artista vive da arte e para viver da arte tem que ter espaço.

Está aí, não é? São espaços de trabalho e quando um homem trabalha, tem rendimentos próprios e consegue sobreviver dos seus rendimentos.

Portanto, a grande contribuição está aí, é uma acção no âmbito da empregabilidade, criar mais palcos, criar mais espaços para desenvolver as artes e delas tirar o seu proveito, o seu rendimento económico e, a partir daí, também, por via da cultura, temos a nossa contribuição ao crescimento económico geral do país.

ANGOP – Neste caso, como é que o Ministério da Cultura pretende aproveitar este local?

PC – Bem, o primeiro aproveitamento do Ministério já está a dar, que é a requalificação.

Logo, o aproveitamento na sequência é a disponibilidade de espaços para a actuação artística, e isto trará a criação de uma agenda cultural de cada espaço, que ligada a outras agendas culturais dos outros espaços já existentes, como o Palácio de Ferro, os espaços Provadarte, Centro Cultural Manuel Rui e outros já existentes, cruzados, teremos, então, uma agenda cultural nacional.

Divulgada essa agenda cultural, vai direccionar públicos e vai fazer com que estes tenham um consumo cultural e aí teremos uma rede a funcionar no domínio das apresentações culturais.

ANGOP – Como é que estamos quanto às obras, às casas de cinema e teatro, sobretudo aqui entre aspas o Teatro Avenida?

PC – O Teatro Avenida não existe, nós não temos qualquer ligação com obras ligadas ao Teatro Avenida.

Nós podemos aqui falar, sim, das obras do Cine Teatro Nacional, que é património nacional classificado, e as obras estão em curso, penso que até mais ou menos ao final deste ano temos as obras concluídas.

Já falamos do Palácio da Música e do Teatro e da Casa da Cultura, que também estão em curso.

O Ministério está a desenvolver, esforços no sentido de reabilitar casas e cinemas como o Cine Tropical, em Luanda, como o Ruacaná, no Huambo, o Cine Moçâmedes, no Namibe, portanto, estes esforços visam requalificar esses espaços e torná-los integrantes à Agenda Cultural Nacional.

ANGOP – O que dizer então neste dia 8 de Janeiro de 2025, Dia da Cultura Nacional, fazendo já uma mescla com aquilo que são os 50 anos de Independência, já para fechar a entrevista?

PC – Reiterar aquele termo, que a cultura fortalece a nação. Teremos muito mais cultura no âmbito dos 50 anos de independência e assim teremos mais nação, Portanto, a cultura fortalece a nação, mais cultura, mais Angola. ANM/OHA/IZ





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