Moçâmedes - O município do Camucuio completa nesta sexta-feira 107 anos, com os olhos direccionados ao crescimento socioeconómico, mediante a criação, melhoria e desenvolvimento diversificado de infra-estruturas, na busca de uma nova imagem para a terra do “Vakweto Veya”, dialecto regional Nyaneka Humbi, traduzido para português “Os outros vieram”.
Por Anabela do Céu Fritz, jornalista da ANGOP
Fundada a 11 de Outubro de 1917, a circunscrição fica a 234 quilómetros a norte da cidade de Moçâmedes, capital da província do Namibe, tem uma extensão de 700.452 quilómetros quadrados, e tem como comunas Cacimbas, Chingo e o Mamwé.
Com solos caracterizados por uma alta concentração de pedras, Camucuio, apresenta hoje ainda alguns problemas, como, a falta de água, deficientes vias terrestres, insuficiências em energia eléctrica, comércio, turismo e habitação, entre outros serviços sociais.
Eis a entrevista na íntegra:
ANGOP: O senhor administrador está à frente dos destinos deste município a menos de um ano. Como caracteriza o Camucuio hoje e que perspectivas existem.
AC: Bem, obrigado pela atenção e oportunidade que me foi dada pela ANGOP. Devo dizer que, em dez meses como administrador municipal, faço a seguinte caracterização: primeiro, o município do Camucuio está localizado a norte da cidade capital da província Moçâmedes e tem uma população estimada em mais de 68.305 habitantes, é potencialmente agro-pecuário, uma população muito acolhedora, humilde e trabalhadora.
O município está em franco desenvolvimento, precisando neste momento de investimentos no sector produtivo e agro-alimentar. Apesar da situação macroeconómica que o país atravessa, nós enquanto Administração Municipal temos vindo a fazer a nossa parte, promovendo acções que visem acudir as preocupações e necessidades dos cidadãos.
ANGOP: Em termos de projectos quais são os que estão em curso e que poderão melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes.
AC: Falando sobre os projectos impactantes no nosso município, destacamos aqui o troço que liga os municípios da Bibala-Camucuio que se encontra na sua fase final, pois dos 93 KM apenas faltam 15 km de estrada por asfaltar. No passado, para uma deslocação ao município vizinho da Bibala fazíamos 7 a 8 horas de andamento (por estrada), mas hoje fizemos 1 hora. A intervenção (e conclusão) desta estrada vai ser uma mais-valia para circulação de pessoas e bens para os dois municípios.
Por outro lado, destacamos a implementação do programa integrado de desenvolvimento local e combate à pobreza, que permitiu a reabilitação e apetrechamento de três unidades sanitárias nas localidades do Caluvundo, Muiwakuwa e Munhandi.
ANGOP: A água tem sido um dos grandes problemas que a população do Camucuio vive. Que acções estão em curso e quando estarão concluídas.
AC: Bem, a água nosso município constitui um Calcanhar de Aquiles, e desde que estamos nos destinos deste município, no quadro da implementação do programa emergencial de reparação dos sistemas de abastecimentos águas nas localidades longínquas, o trabalho dos técnicos da Administração Municipal, sobretudo da direcção municipal de energia e águas, permitiu a recuperação de 47 sondas, com recursos financeiros próprios, deixando para trás o sofrimento da população na procura do precioso líquido.
Muitos destes sistemas de água recuperados foram vandalizados por pessoas até aqui não identificadas. Mas temos vindo a trabalhar em com as forças de defesa e segurança para contrapor a acção violenta dos malfeitores.
ANGOP: O sistema de fornecimento de energia eléctrica depende do abastecimento de combustível pela Sonangol. Como funciona este processo e quantos dias por semana a população conta com estes serviços.
AC: Obrigado pela questão. No sector da energia, a nossa rede de iluminação pública é alimentada por dois grupos de geradores, sendo um de 650KV e outro de 550. Para minimizar os custos de combustível, o fornecimento de energia funciona de segunda à quinta-feira, com o gerador a trabalhar das 18 horas às 23 horas, ao passo que nos finais de semanas, de sexta-feira a domingo, das 17 horas às 24 horas. Fruto do programa gizado pela Administração Municipal local do Estado, de requalificação da rede de iluminação pública, permitiu a reparação de 189 iluminarias, o projecto vai estender-se até às comunas do Chingo, Mamue e Cacimbas. A taxa de consumo de energia eléctrica a nível do nosso município é de 1.000.00 kwanzas estando prevista a sua actualização.
ANGOP: Quem quer viver no município do Camucuio, sobretudo os quadros do aparelho governativo reclamam sempre pela falta de habitação. Existe algum projecto para construção de mais residências no município?
AC: O nosso município tem características próprias. No âmbito do programa do Governo angolano denominado “Plano Integrado de Intervenção nos Municípios, vulgo PIIM, construiu-se residências de passagem de profissionais da saúde e educação, apesar de o número ser ainda ínfimo mas já se consegue albergar os nossos quadros que vêm trabalhar no município.
A outra medida que o Executivo angolano encontrou para colmatar este défice é a implementação dos subsídios de isolamento e de renda que também têm sido uma lufada de ar fresco. Outra medida que a Administração Municipal encontrou para solucionar esta situação é a entrega de terrenos para construção auto-dirigida.
ANGOP: Com inúmeros recursos turísticos que encanta qualquer turista, que acções têm sido levadas a cabo para a divulgação do turismo nesta região. O turismo já se faz sentir no Camucuio?
AC: O município do Camucuio, que também denominamos a terra dos sonhos e realizações, tem um potencial gigantesco no sector turístico. Dos vários pontos e lugares históricos destacamos as pinturas e gravuras rupestres do Tchipopilo, a lagoa da mesma localidade com o mesmo nome, a pedra do Ndolondolo, a represa do Mulovei Tchandjassica e outros locais que ainda precisam de investimento forte para atrair turistas nacionais e internacionais.
Para sua promoção temos vindo a desenvolver diversas acções, como visitas e excursões, bem como manifestações culturais através de dança e música, gastronomia tipica. Queremos mais uma vez lançar um apelo aos nossos empresários para que venham investir no nosso município, nós estamos de mãos abertas para a promoção do desenvolvimento e da diversificação da economia.
ANGOP: Em termos de recursos minerais, o que podemos encontrar neste município e o que é preciso para a sua exploração e assim alavancar a sua economia.
AC: No município temos sim recursos minerais, faltando apenas a localização e exploração.
ANGOP: Os munícipes reclamam pela melhoria das vias de acesso da vila do município, ruas e bairros. Para que estes possam ter uma outra imagem. Existe algum projecto desta natureza?
AC: As vias de acesso constituem uma grande preocupação da Administração Municipal, face à escassez de recursos financeiros, temos estado a trabalhar em coordenação com o governo provincial, nas medidas que visam melhorar a malha rodoviária a nível dos bairros e comunas.
ANGOP: Nesta altura como estamos em termos de Saúde (hospital, centros, postos, profissionais, médicos e medicamentos).
AC: Os ganhos registados no sector da saúde no município resultam do grande investimento e da preocupação do Estado para com a vida das pessoas. O Programa Integrado de Intervenção nos Municípios, vulgo PIIM, no município do Camucuio, permitiu a ampliação da rede sanitária dentro e fora das localidades.
O município conta com uma rede sanitária de 19 unidades divididas em postos e centros de saúde, sendo o hospital municipal a maior unidade com capacidade para 42 camas, que, por conta da evolução demográfica, o hospital de referência a nível local, não tem suportado a demanda dos doentes em época do aumento de casos de malária.
O sector da saúde a nível local contra 167 profissionais, subdivididos em pessoal auxiliar de higiene, administrativos, enfermeiros, médicos e outros, que, graças ao seu trabalho de humanização, têm prestado um serviço de saúde pública.
ANGOP: A educação é a base para a formação do homem. Em que pé está o município? Temos escolas e professores para que o ano lectivo seja um êxito?
AC: O município conta 15 escolas, destas 10 do ensino primário, 2 colégios, 2 complexos, 1 Liceu e um universo de 390 professores.
Para o ano em referência a distribuição da merenda está em curso na base dos primeiros contratos celebrados para o ano económico no programa de combate à pobreza, tendo abrangido 2.181 alunos até ao momento.
Com o pagamento das quotas de Junho e Julho permitiu dar-se início à distribuição, a partir do dia 9 de Setembro, e terá o seu término no dia 31 de Outubro do corrente ano.
Para suprir o número de crianças fora do sistema de ensino, conforme consta do mapa em referência, a Direcção Municipal da Educação traço como medidas de solução as seguintes estratégias: levantamento da carga horária dos professores do Ensino Primário, I e II Ciclo do Ensino Secundário, mobilidade de 7 turmas do ensino primário para as escolas com as salas vagas na sede do município, mobilização de pais e encarregados de educação para construção de salas precárias com o apoio da Administração Municipal, aumento de número de aluno nas salas de aulas de 36 para 40 alunos com maior incidência no I Ciclo, cruzamento das relações nominais das crianças fora do sistema entre escolas do município de forma a aferir o número exacto, bem como a colocação de alfabetizadores nos módulos II e III.
Na base das medidas referenciadas vai permitir que no decorrer deste trimestre este número reduza consideravelmente.
No presente ano lectivo foram matriculados 6.924 alunos (dados provisórios).
ANGOP: Sabemos que a administração do Camucuio tem como aposta séria o sector da agricultura. Que acções estão em curso para que este município possa produzir produtos do campo em grandes escalas e assim combater o fenómeno da fome na região.
AC: No quadro da massificação da agricultura familiar e não só, a Administração Municipal tem realizado várias acções em prol deste sector tão importante para economia do município, temos vindo a trabalhar com os pequenos e grandes agricultores em medidas concretas, tais como a distribuição de sementes em grande escala, e outros insumos agrícolas, como, moto-bombas e charruas.
A presente época agrícola, por exemplo, os agricultores estão fortemente envolvidos na produção de feijão e outros produtos para exposição na Feira do Feijão prevista para mês de Outubro deste ano, enquadrada nas festividades dos 107 anos de existência da vila do Camucuio, desde que ascendeu à categoria de município 11 de Outubro 1917.
ANGOP: Quais são as zonas mais produtivas e o que mais produzem.
AC: Temos como zonas mais produtivas as localidades do Caluvundo, Tchipopilo, Tala na Comuna do Mamue, Matute, Cacimbas, Munhandi e a Serra da Neve. Os produtos mais produzidos são, e em época de chuva, o massango, massambala, milho a batata-doce e outros. Nesta fase são mais produzidos o tomate, a cebola, o feijão, a couve, o repolho, beringela.
ANGOP: A seca é um fenómeno mais ou menos frequente na região sul do país desde 2018. Nesta altura qual é o ponto de situação da seca no Camucuio.
AC: Certo, este ano, fruto da época chuvosa, não verifica muitos problemas de casos graves de fome. Mas podemos dizer que durante a época chuvosa muitas famílias trabalharam na terra, fruto disso têm comida até ao momento. Mesmo assim temos constatado todos os dias defronte à Administração Municipal pessoas a ter com o administrador municipal, à procura de comida. A medida tem sido a entrega de sementes para que, com estas sementes, as famílias produzam o suficiente para combater a fome.
ANGOP: Roubo de gado é um fenómeno típico da região. Como se caracteriza esta situação? Regista-se muitos casos?
AC: Sim, o roubo e furto de gado é um problema que ameaça a segurança das comunidades, temos tido muitos registos de casos do género. Muitos destes casos têm chegado às autoridades tradicionais e outros à Polícia Nacional. A maior parte dos casos são praticados pelas pessoas muito próximas às famílias, e para solução deste fenómeno temos vindo a advertir a população através de palestras no interior do município a denunciar todos aqueles que praticam tal acção.
ANGOP: As administrações desenvolvem projectos no âmbito do PDLCP. Que acções o Camucuio tem em curso neste âmbito.
AC: Este programa já permitiu a reabilitação e apetrechamento de três unidades sanitárias nas localidades do Caluvundo, Muiwakuwa e Munhandi, construção de novo mercado municipal, 5 quiosques de jovens empreendedores.
ANGOP: Em relação às cozinhas comunitárias, quantas famílias são beneficiadas com as refeições e que tipos de alimentos recebem.
AC: A nível do nosso município tínhamos 4 cozinhas comunitárias, paralisadas desde Outubro do ano passado. Fruto do nosso envolvimento conseguimos reactivar todas as cozinhas comunitárias através do programa integrado de desenvolvimento local e combate à pobreza. Todas as semanas alimentamos crianças vulneráveis e idosos em situação de pobreza extrema. Nesta altura temos no município sede do Camucuio 180 famílias que recebem este apoio, 300 na comuna do Mamué. 279 nas Cacimbas e 123 na comuna do Chingo. Nas cozinhas são confeccionados alimentos produzidos localmente como a batata-doce, abóbora, milho, feijão e outros adquiridos pela administração.
ANGOP: Camucuio foi o primeiro a nível do país a concluir os projectos do Plano Integrado de Intervenção nos municípios, PIIM. Alguma novidade para outros projectos no Camucuio.
AC: Bem, a nível deste programa continuamos a aguardar pelo PIIM II. Tão logo esteja disponível avançaremos com os projectos no domínio da saúde, educação, estradas e muito mais.
ANGOP: A fuga de quadros nas administrações tem sido um fenómeno a nível do país. Que políticas a administração do Camucuio tem implementado para permanência dos seus quadros no município.
AC: Com a implementação do subsídio de isolamento e renda, já não registamos a fuga de quadros. Desde que estou no município encontrei um volume considerável de processos de professores e técnicos de saúde que queriam abandonar o município por conta da distância e não só, graças estes incentivos recônditos já não verificamos este fenómeno. Alguns que tinham feito estes pedidos recuaram porque já começaram a usufruir do subsídio. FA/ADR