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Agência Universitária Francófona abre representação em Angola

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  • Luanda • Sábado, 28 Setembro de 2024 | 11h11

Luanda – A Agência Universitária Francófona (AUF) vai abrir uma representação em Angola, com vista a “contribuir, de forma significativa”. Para o estreitamento das relações entre a Universidade Agostinho Neto (UAN) e a Rede das Universidades Francófonas.

Por Soki Konso, jornalista da ANGOP

O anúncio foi feito pela embaixadora de França em Angola, Sophie Aubert, em entrevista à ANGOP, tendo referido que o processo de abertura oficial da referida representação já iniciou.

Disse que em Junho deste ano a AUF inaugurou um Centro de Empregabilidade Francófona na Universidade Agostinho Neto que visa dar aos estudantes as chaves para a utilização do francês na sua vida profissional, através de uma série de cursos e boas práticas.

A diplomata francesa, que concedeu a entrevista para falar da Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Organização Internacional da Francofonia (OIF), a decorrer de 4 a 5 de Outubro de 2024, em Paris, informou que a Universidade Agostinho Neto é membro da Agência Universitária Francófona desde 1978.

Salientou que a dinâmica francófona é impulsionada não só pela OIF, mas também pelos seus operadores, associações e agências que trabalham com a sua rede de membros a nível do mundo.

Sophie Aubert referiu-se igualmente à adesão do Parlamento angolano à Assembleia Parlamentar da Francofonia (APF), ocorrida em Julho deste ano e que poderá reforçar as interacções e o entendimento mútuo com os países francófonos.

Eis a entrevista na íntegra:

ANGOP – Pela primeira vez em 33 anos, a França vai acolher a Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Francofonia, que se realiza a cada dois anos nos países-membros da Organização Internacional da Francofonia (OIF), desde 1986. O que é que se espera deste grande evento e qual é o seu objectivo?

Sophie Aubert (SA) – É verdade que a França acolhe a Cimeira da Francofonia pela terceira vez. A primeira vez foi em 1986, em Versalhes, e a segunda em 1991, em Paris. Neste ano, os 88 países membros vão se reunir em Paris nos dias 4 e 5 de Outubro, no Grand Palais, mas também na nova cidade internacional da língua francesa, em Villers-Cotterêts. Vamos ter uma semana inteira de iniciativas que vão ilustrar o objectivo geral dos membros da OIF e não só da França, que é de fazer da cimeira uma demonstração de atractividade do mundo francófono.

Recordamos que existem 321 milhões de francófonos no mundo, que o francês é a 5ª língua mundial e a 4ª língua na Internet. O espaço da Organização Internacional da Francofonia representa também 16% do PIB mundial e 20% do comércio mundial.

ANGOP – Quais são os objectivos?

SA – A nível político, face a um mundo fragmentado e a atitudes viradas para o interior, queremos mostrar uma francofonia aberta, um espaço de diálogo inclusivo, respeitoso e baseado nas parcerias.

No plano económico, já sabemos que as nossas empresas fazem mais negócios internacionalmente com países que partilham a mesma língua e cultura jurídica. Pois, a Cimeira quer promover a francofonia como espaço económico, e também espaço de inovação. Queremos salientar a importância do domínio digital, com a inteligência artificial, abrindo um campo de oportunidades a aproveitar para a nossa língua comum e para o multilinguismo.

Em termos de cultura e identidade, o objectivo da cimeira é promover as ferramentas inovadoras da aprendizagem da língua, através de uma abordagem que toma em conta os outros idiomas.

Uma língua que se desenvolve em oposição a outras seria uma língua imposta. A nossa visão do mundo francófono é uma visão de diálogo e solidariedade.

A França trabalha em estreita colaboração com o secretário-geral da Francofonia e com todos os países membros para atingir estes objectivos.

ANGOP – Senhora embaixadora quais são os principais temas que serão debatidos?

SA – Na Conferência Ministerial da Francofonia, realizada em Yaoundé, Camarões, em Novembro de 2023, os países membros da francofonia acordaram que os trabalhos da cimeira seriam orientados pelo seguinte tema: “Criar, inovar e empreender em francês”, com a vontade de posicionar a criatividade e o empreendedorismo no centro do evento.

ANGOP- Existem outras actividades?

SA – Em primeiro lugar, vai se realizar um Festival da Francofonia no Village de la Francophonie, no Cent-Quatre Paris, onde todos os membros poderão dar a conhecer a sua cultura, por meio de exposições, conferências, concertos, dança (...) O festival abrirá com um desfile de moda de estilistas francófonos, no âmbito da Fashion Week.

Em segundo lugar, na Station F, a maior incubadora de startups da Europa, haverá uma feira tecnológica, Franco-Tech, com 150 expositores de todos os países francófonos e 1.500 participantes. Durante a Franco-Tech serão organizadas mesas redondas sobre temas importantes para todos os países francófonos.

ANGOP- Pode especificar?

SA – Estou a falar, por exemplo, do empreendedorismo inovador e do capital humano, do valor acrescentado das parcerias público-privadas, da transição energética, da segurança alimentar, dos corredores logísticos e das finanças sustentáveis.

Teremos também um concurso com três grandes prémios de inovação Franco-Tech 2024, sobre a segurança alimentar, a transição ecológica e a finança digital.

Durante a cimeira, as autoridades debaterão as principais questões internacionais e regionais e vão também abordar os grandes temas que ilustram o tema geral “Criar, inovar e empreender em francês”, como “O francês como factor de atractividade, “O francês como vector de inovação para a diversidade no espaço digital, “A francofonia como fórum de intercâmbios”.

Deveria ser uma oportunidade de valorizar os programas e ferramentas à disposição da OIF para suportar todas estas dinâmicas.

ANGOP – A 30 de Outubro de 2023, o Presidente da República Francesa, Emmanuel Macron, inaugurou a nova “Cité Internationale de la langue Française” (Cidade Internacional da Língua Francesa), situada no Château de Villers-Cotterêts. Que comentário faz deste património cultural e linguístico comum?

SA – O Castelo de Villers-Cotterêts foi a residência do Rei Francisco I. Entrou para a história quando, em Agosto de 1539, o Rei assinou um decreto que impunha a utilização da língua francesa nos actos de administração e de justiça.

Este decreto foi um passo decisivo na construção da identidade da França, na relação que se desenvolveu gradualmente entre a unidade da nação e a língua francesa.

A língua francesa também se difundiu progressivamente para além das nossas fronteiras. Esta extraordinária difusão enriqueceu consideravelmente a nossa língua, com novos contributos, novas palavras, novas formas de utilizar a língua. Villers-Cotterêts é também o local de nascimento do grande escritor Alexandre Dumas.

ANGOP – Qual é a missão da Cidade da Língua Francesa?

SA -A missão da Cidade Internacional da Língua Francesa é recordar e dar a conhecer este património sem fronteiras. É um espaço de formação, de intercâmbio, de investigação, de exposições, de conferências e de ateliers. É também um lugar que promove a literatura em francês e não apenas a literatura francesa.

Tudo isto constitui o património comum dos povos francófonos, e este lugar dará a este património uma dimensão universal, porque o objectivo é partilhá-lo com o mundo.

ANGOP- A candidatura de Angola a membro observador foi oficializada a 15 de Maio de 2019 pela OIF, em Paris. De lá para cá, o que já foi feito e o que nos pode revelar em termos de projectos em curso?

SA – A dinâmica francófona é impulsionada não só pela OIF, mas também pelos seus operadores, associações e agências. Eis alguns exemplos: a Associação dos presidentes das municipalidades francófonas, a Assembleia Parlamentar da Francofonia, o Canal de televisão francófono TV5, a Agência universitária francófona, a Universidade Senghor de Alexandria, no Egipto. Estes operadores e instituições trabalham com a sua rede de membros.

Aqui em Angola, a Universidade Agostinho Neto (UAN) é membro da Agência Universitária Francófona (AUF) há muito tempo, creio que desde 1978. Em 2023, a AUF e a UAN decidiram reactivar o trabalho conjunto.

Em Junho último, a AUF inaugurou um Centro de Empregabilidade Francófona na Universidade Agostinho Neto, que visa dar aos estudantes as chaves para a utilização do francês na sua vida profissional, através de uma série de cursos, formações e boas práticas.

A AUF deu início a um processo de abertura de uma representação em Angola como instituição internacional. Este passo será importante porque permitirá à AUF contribuir de forma mais significativa para a relação da UAN com a rede das universidades francófonas.

A Assembleia Nacional também aderiu à Assembleia Parlamentar da Francofonia (APF), em Julho deste ano. Isto é uma dinâmica muito positiva, pois a cooperação parlamentar é essencial nas relações internacionais e a participação de Angola na APF contribuirá para reforçar as interacções e o entendimento mútuo com os países francófonos. A compreensão mútua é essencial para a preservação da paz.

A nível local (em Angola), gostaria também de referir o dinamismo do nosso grupo de embaixadores francófonos, actualmente presidido pelo embaixador da Côte d’Ivoire. Todos os anos, em Março, organizamos o mês da Francofonia, que penso que é muito apreciado.

ANGOP- De acordo com a Revista França-Angola, uma parceria para o futuro, publicada em 2020, cerca de 4 milhões de angolanos compreendem ou falam francês. Na sua opinião, quais são os mecanismos que devem ser implementados pela OIF para o crescimento da comunidade francófona a nível local?

SA –Já que se refere à nossa parceria França-Angola, gostaria primeiro de mencionar que a presença da língua francesa em Angola é o resultado da história da região, e nós estamos muito felizes por participar da dinâmica de reforço da língua francesa aqui, com as nossas instituições e ferramentas, nomeadamente, o Liceu Francês, as Alianças Francesas, as Escolas Eiffel, os nossos programas de cooperação educativa e linguística, programas de bolsas (...). Saiba que apoiamos muito a generalização do ensino do Francês a partir da quinta classe.

ANGOP – De que maneira a OIF trabalha em Angola?

SA – No mundo, a OIF trabalha muito através dos seus operadores, que mencionei antes. Aqui podemos reiterar que o papel da Agência Universitária Francófona vai se reforçar quando abrir uma representação oficial em Angola.

A abertura do Centro de Empregabilidade sem esperar a abertura da representação da AUF já expressa a vontade forte de trabalhar com Angola.

Voltando à OIF, tem também vários programas ao serviço dos seus membros. Por exemplo, a OIF oferece programas para apoiar a mobilidade e a formação de professores, tem programas para apoiar o desenvolvimento de competências digitais, também apoia a mobilidade dos estudantes e está muito aberta a trabalhar com todos os interessados, com a prioridade principal de ensinar o francês, mas um ensino muito operacional, para ajudar os jovens a tirar o máximo partido dele, encorajar a criatividade.

O valor acrescentado da Organização Internacional da Francofonia reside na partilha de experiências, boas práticas e lições aprendidas, bem como na colaboração inclusiva com as várias partes interessadas, as redes profissionais existentes e a sociedade civil.

ANGOP – No domínio da cultura, a nossa língua comum é o francês, quais são políticas que a OIF implementa para uma grande difusão deste idioma em Angola?

SA – A cultura foi a primeira motivação dos líderes de países de língua francesa, quando decidiram com a França estabelecer a Agência de cooperação cultural e técnica (ACCT), em 1970.

De maneira geral, desde a sua criação, a OIF continua com esta tradição e, ao longo dos anos, toma iniciativas para valorizar a cultura dos países membros, como já faremos em Paris com o Festival da Francofonia, para mostrar e encorajar a criatividade em francês, por exemplo.

Um acesso facilitado à TV5 Monde e aos canais de televisão dos países vizinhos, às rádios, é também uma maneira de ter uma ligação com o francês, de maneira fácil e regular, e de descobrir a cultura dos países francófonos.

A finalidade é trabalhar o mais próximo possível da sociedade, ao serviço da sociedade, os jovens em particular, apoiando o desenvolvimento da língua francesa, não como um fim em si mesmo, mas como um instrumento que nos permite aproveitar melhor as oportunidades em todos os domínios.

Perfil

Nascida a 28 de Setembro 1967, Sophie Aubert chegou a Angola em Agosto de 2023.

É licenciada em árabe e também detentora de vários diplomas, como os da Escola Francesa de Assessores de Imprensa de Lyon, do Instituto de Estudos Políticos de Lyon, e do Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais – Estudos Mediterrânicos.

Foi cônsul-geral adjunta em São Paulo (2002-2005), Brasil, primeira conselheira da Embaixada de França em na República da Guiné (2009-2012), embaixadora extraordinária e plenipotenciária no Senegal (2014-2017), no Paraguai (2017-2020) e directora da Agência Francesa de Desenvolvimento em Argel, Argélia, em Outubro de 2020.

Fala Inglês, Espanhol, Português e Árabe. BS/ADR

 

 



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