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Académico convida à reflexão sobre papel das artes na conquista da Independência

     Entrevistas              
  • Luanda • Terça, 07 Janeiro de 2025 | 23h42
Presidente da Associação Angolano de Teatro, Tony Frampénio.
Presidente da Associação Angolano de Teatro, Tony Frampénio.
DR

 Luanda – A maior reflexão que os angolanos devem fazer, em especial no Dia da Cultura Nacional, que se comemora quarta-feira, é sobre o papel das artes no processo da Luta de Libertação que propiciou o fim do jugo colonial.

Por António Culeca, Jornalista da ANGOP

 

A tese foi advogada pelo académico Tony Frampénio, presidente da Associação Angolana de Teatro (AAT), em entrevista à ANGOP, em Luanda, por ocasião da efeméride do 8 de Janeiro, cujo acto central se realiza na província do Huambo.

O estudioso afirmou que a Independência se conquistou graças a movimentos culturais em que os artistas defendiam a igualdade de vida entre os angolanos então colonizados e os colonos portugueses.

Precisou que, dentre vários artistas, estavam escritores, músicos, grupos carnavalescos e teatrais, bailarinos, jogadores e outros.

No seu entender, esses indivíduos usaram a arte como instrumento político para conquistar a Independência.

Posteriormente, disse, estes quadros foram transferidos para a política, na gestação administrativa do país, porque na altura não havia muitos quadros e eles usaram as artes para construir o território nacional.

Por esta razão, é fundamental continuar a reflectir sobre as artes na luta pela independência e pacificação do país, afirmou.

 

Eis a entrevista na íntegra­:

 

ANGOP: Actualmente, em que fase se encontra o teatro angolano?

Tony Frampénio (TF): O teatro está a passar por um momento muito importante no seu processo de desenvolvimento artístico, no capítulo da formação e do associativismo.

Estes três momentos que o teatro tem estado a passar podem, de alguma forma, serem classificados em três eixos fundamentais, que são a institucionalização, a formação e a massificação do teatro.

O teatro já começa a ser reconhecido por parte das entidades angolanas e hoje temos muitos centros de formação.

Há aqui perspectivas, no âmbito da institucionalização, a partir deste ano até 2027, que o teatro ganhará novas infra-estruturas que estão a ser agora requalificadas como é o caso da antiga Assembleia Nacional que passará a ser chamada Palácio da Música e do Teatro.

ANGOP: Como descreve a importância do teatro na sociedade?

TF: As artes ajudam a instrumentalizar ideologicamente aquilo que gostaríamos que fosse o comportamento do nosso povo e da nossa cultura.

Hoje estamos a lutar pela diversificação da economia. Neste aspecto, as artes também devem ser partícipes, não se pode procurar resolver os problemas ,esquecendo outras manifestações.

E no caso das artes, hoje as pessoas se manifestam mais por este meio, por exemplo mais de 10 mil jovens a nível nacional estão a praticar as artes plásticas.

Hoje temos uma grande oportunidade com a governação do Presidente João Lourenço que, dentro das suas políticas de reformas, incluimos a manifestação artísticas, no caso particular o teatro.

ANGOP: Como o país está em termos de salas de teatro­?

TF: Hoje nós temos poucas salas de teatro a funcionar. As salas de teatro no verdadeiro sentido só temos a Casa de Arte que está no município do Talatona, província de Luanda, e o Centro Cultural Manuel Rui Monteiro localizado no Huambo.

As outras são infra-estruturas danificadas que funcionam como espaços adaptados como é o caso da Liga Africana, do Auditório Horizonte Njinga Mbandi, e do Elinga.

Nós tínhamos muitas salas de teatro na província de Benguela e actualmente estão fechadas por falta de condições técnicas.

O Governo deve construir em cada uma das 21 províncias pelo menos um centro cultural.

ANGOP: Como olha para a qualidade dos conteúdos exibidos nos espectáculos?

TF: Hoje no teatro, já temos qualidade aceitável. Mas, nesta altura, devemos dar atenção à estética da recepção que tem que ver com a elaboração dos conteúdos e suas encenações no contexto cultural e social angolano.

É bom continuar a propiciar um conteúdo em que o público possa rever-se e adira aos espectáculos, porque, muitas vezes, os conteúdos afugentam as pessoas porque muitas ferem a sensibilidade de quem está assistir.

ANGOP: Hoje é possível viver de teatro em Angola?

TF: Não, não é possível viver do teatro em Angola, por falta de infra-estruturas.

Os artistas de teatro, para operarem as suas actividades, precisam de salas em condições para atrair o público que vai consumir o produto deles.

Nós até podemos ter dois ou mais artistas que têm bons contratos e boa remuneração e depois podem ficar mais de quatro anos sem essas actividades obrigando-os a ir para outras obras para sobreviverem

Por exemplo, se um médico não tivesse um hospital onde é que trabalharia? Um professor sem escola onde é que trabalharia? O mesmo acontece com os artistas.

Nas outras partes do mundo, o teatro tem contribuído no PIB de cada país em função de muito apoio, mas cá em Angola, as artes são tidas como um produto não rentável que depende de muitos sectores e penso que este pensamento é errado.

ANGOP: Hoje as pessoas aderem mesmo ao teatro?

TF: Sim. Aderem aos espectáculos de teatro desde a época colonial, quando o indígena, o preto, o angolano não podia entrar na sala de teatro, porque éramos escravizados, o Teatro Avenida em Luanda já ficava lotado.

O teatro sempre foi das manifestações mais importantes de qualquer povo.

Então, hoje há muita gente que procura o teatro. Só não vão mais assistir ao teatro, porque não têm locais próprios.

Nós temos salas, o Horizonte de Njinga Mbandi que, de quinta a domingo, faz espectáculos de teatro, com sala lotada. Então, precisamos de oferecer mais oportunidades, mais espaços para o público.

ANGOP­: O que o Governo e agentes de teatro devem fazer para continuar a melhorar o teatro no país?

TF: O Governo já tem estado a fazer algumas coisas como abertura das escolas médias e superiores de teatro que trouxeram uma grande mudança.

Estes avanços estão dentro do eixo da institucionalização e da formação que permitem a massificação do artista.

Agora com o plano de requalificação das infra-estruturas de cinemas e teatro e até construção de raiz também é um passo que o Governo tem estado a dar.

 

ANGOP: O que mais a AAT espera do Governo?

 

TF: Nós esperamos e sugerimos ao Governo a criar um decreto que obrigue o Ministério da Educação a baixar ordem aos directores das escolas de todo o país a cederem os anfiteatros escolares aos grupos culturais e aos artistas plásticos.

Desta maneira, no âmbito da formação, os jovens vão adquirir competências artísticas dentro daquilo que é o currículo académico. Aliás, isso já existia no tempo da época colonial, nos anos 80 e 90.

Os jovens não podem apenas aprender a imaginar só com música, é fundamental haver desenho para imaginar edifícios, salas de teatro e parques de lazer.

Penso que o Governo tem que criar políticas de incentivos, como por exemplo a lei da cultura para dar um alinhamento na manifestação das artes.

ANGOP: Que importância têm os meios de comunicação social na divulgação das artes?

TF: Os órgãos de comunicação social como os jornais, as rádios, as televisões têm o papel de ajudar as artes, no caso o teatro, a massificar-se, a institucionalizar-se.

Estes órgãos precisam de continuar a trabalhar no jornalismo cultural assertivo, ir à busca das notícias, ir às salas de teatro, assistir às peças e fazer  matéria, vivenciar de perto os problemas dos artistas e fazer matéria, ver in loco as condições das salas de teatro e fazer matéria.

Dessa maneira, o Estado Angolano vai tomar conhecimento de uma ou de outra forma para começar a desenhar políticas públicas.

 

Perfil

 

Tony Frampênio é o pseudónimo de Francisco Pedro António, natural da província do Cuanza-Sul. Nasceu a 6 de Julho de 1980.

Dramaturgo e académico, é licenciado em Teatro pelo Instituto Superior de Artes – ISART, actual Faculdade de Artes da Universidade de Luanda, e mestre em Ensino das Literaturas em Língua Portuguesa pelo Instituto Superior de Ciências da Educação – ISCED de Luanda.

Ligado ao teatro desde 1992, a partir do Seminário Maior de Luanda, pertenceu aos grupos Twafutuca (1994/96), Makotes, Komba Meneck e Enigma Teatro (de 1997 até à data actual).

Docente de Actuação e História do Teatro, Dramaturgia e Estética na Faculdade de Artes – FAARTES – Universidade de Luanda,  é actualmente presidente da Associação Angolana de Teatro (AAT). AMC/OHA/IZ





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