Soyo – O município do Soyo, zona costeira da província do Zaire, cuja cidade assinala, no próximo dia 5 de Abril, 51 anos desde que ascendeu à essa categoria, está a dar passos largos para a sua industrialização com a implementação de vários projectos socioeconómicos.
Também conhecida como “cidade do Ouro Negro”, a circunscrição é tida como um dos pólos industriais em plena ascensão a nível do país nos domínios da indústria petroquímica, produção de fertilizantes, piscatório e outros que atraem avultados investimentos privados.
A exploração do petróleo em offshore (alto mar) e em onshore (em terra), nesta parcela do país, que data há mais de cinco décadas, propiciou o surgimento da indústria petroquímica, com o aproveitamento do gás associado.
Fábrica Angola LNG
Esta unidade fabril, destinada para o processamento do gás liquefeito, foi concluída em 2016, com uma capacidade de processamento de 1,1 mil milhões de pés cúbicos de gás natural, por dia.
Em 2019, a produção diária total foi de 746 milhões de pés cúbicos de gás natural e 30 mil barris de líquidos.
Este projecto energético, operado pela empresa Angola LNG, em parceria com a multinacional americana Chevron e outras empresas petrolíferas é o primeiro em Angola e um dos maiores do género a nível do continente africano.
A referida central dá suporte ao desenvolvimento do campo petrolífero offshore e ajuda a Chevron a dar resposta às necessidades mundiais de maior produção de gás natural.
Projecto Falcão 2
O projecto Falcão 2, o mais recente deste segmento do gás, é o responsável pelo aumento e pela melhoria do fornecimento de gás das unidades secas e húmidas da fábrica Angola LNG para a central eléctrica do Ciclo Combinado do Soyo, assim como à futura fábrica de fertilizantes.
A infra-estrutura está localizada no bairro Kintambi, periferia da cidade do Soyo, e tem uma capacidade de processar 125 milhões de pés cúbicos por dia.
O Falcão 2, avaliado em USD 42,8 milhões, entrou em funcionamento em 2023, no âmbito da estratégia do Executivo angolano de maximização do uso de gás na indústria química e outros projectos.
Compreende oito quilómetros de gasoduto que transporta 78 milhões de pés cúbicos por dia da unidade Angola LNG, localizada na zona costeira da baixa da cidade do Soyo, para a central eléctrica do Ciclo Combinado.
O Falcão 2 deverá, igualmente, fornecer 50 milhões de pés cúbicos de gás/dia à fábrica de fertilizantes "Amufert", em construção no Soyo, projecto sob responsabilidade do Grupo OPAIA e da Sonangol.
Complexo Industrial de Produção de Fertilizantes
Este projecto é relevante para a região e o país, está em fase da sua implantação no bairro Kintambi e deverá entrar em funcionamento a partir do primeiro trimestre de 2027.
A unidade fabril será a primeira do seu género no país e prevê a criação de três mil e 500 postos de trabalho.
Avaliado em mais de 2,2 mil milhões de dólares norte-americanos, o referido projecto poderá tornar o país auto-suficiente em fertilizantes e impulsionar a agricultura nacional.
A fábrica, cujas obras arrancaram em Janeiro deste ano, terá uma capacidade de produção anual na ordem de um milhão e 200 mil toneladas de fertilizantes, tendo como matéria-prima o amónio e a urea.
Refinaria do Soyo
Outro plano muito aguardado pelos munícipes locais é a Refinaria de Petróleo, apesar das acções que têm a ver com a sua materialização decorrem a passos de “camaleão”.
Tem um custo avaliado em 3,5 mil milhões de dólares e está dimensionado para processar 100 mil barris de petróleo por dia, sendo 40% gasolina e 30% gasóleo.
A concretizar-se, a refinaria contará com uma unidade de processamento e uma outra de provisionamento do petróleo bruto, um sistema de transportes e instalações de acessórios, incluindo um cais para ancorar dois petroleiros com a capacidade de até 100 mil toneladas de crude.
Estão previstos três mil empregos directos na sua fase de implantação, número que poderá aumentar para mil postos de trabalho, durante a fase da sua plena operacionalização.
A primeira pedra para a construção desta infra-estrutura foi lançada a 13 de Maio de 2022 e tinha como previsão para a sua conclusão no presente ano (2025).
O terreno para a criação desta unidade está localizado no bairro Matanga, zona sudoeste do Soyo, numa área de aproximadamente 712 hectares.
A futura Refinaria de Petróleo do Soyo nasceu em parceria entre a Sonangol e o Consórcio Quanten Angola, empresa norte-americana que venceu o concurso público para o seu financiamento e construção, em Março de 2021.
Complexo Pesqueiro
No conjunto das unidades fabris da circunscrição destaca-se, também, o complexo pesqueiro do Soyo, dimensionado para processar 10 mil toneladas de pescado diverso por mês, orçado em 80 milhões de dólares e que entrou em funcionamento em Setembro de 2023.
A indústria é propriedade da empresa Seatag e co-financiada por empresários angolanos e chineses, ocupa uma área de oito hectares, tendo proporcionado, numa primeira fase, 800 postos de trabalho directos.
Processa, também, peixe seco na ordem de 250 toneladas por mês.
Entre as valências, o referido empreendimento possui seis naves com 24 túneis de congelação, seis tanques de processamento e duas câmaras de conservação, com capacidade de acondicionar cinco mil toneladas de pescado cada.
O complexo conta ainda com áreas de tratamento, embalamento, secagem, armazenamento e facturação, para além de um cais de 115 metros de comprimento e dez de largura que permite a atracagem de quatro embarcações de pesca de pequeno, médio e grande porte de forma simultânea.
Planta de Processamento de Gás Natural não Associado
O destaque, entre as unidades fabris locais recai, ainda, na construção de uma Planta de Processamento de Gás Natural não Associado, sob responsabilidade de Azule Energy, com capacidade de produção de 400 milhões de pés cúbicos de gás por dia, perfazendo quatro bilhões de metros cúbicos de gás por ano.
Trata-se do primeiro projecto de exploração de gás não-associado (gás natural que está separado do petróleo e da água no reservatório, encontrado em rochas porosas e no subsolo) em Angola, sob responsabilidade do Novo Consórcio de Gás (NGC).
O mesmo prevê a produção de gás dos campos de águas rasas Quiluma e Maboqueiro (Q&M), através de duas plataformas offshore, contando com uma planta de processamento em terra e uma ligação à fábrica da Angola LNG.
O projecto, avaliado em USD 2,4 mil milhões, foi lançado em Julho de 2022 com previsão da sua conclusão para 2026, tendo proporcionado cerca de três mil postos de trabalho. A empresa escolhida para a sua materialização é a petrolífera ENI Angola.
Permitirá o fornecimento contínuo de gás à fábrica Angola LNG e, consequentemente, ao Ciclo Combinado do Soyo. A fábrica, resulta de um consórcio entre a ENI Angola e a Sonangol e está a ser erguida numa área de 100 hectares.
O projecto Novo Consórcio de Gás (NCG) engloba a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), Concessionária Nacional, a Azule Energy, na qualidade de operadora, a Cabinda Gulf Oil Company (CABGOC), a Sonangol P&P e a Total Energies.
Segundo consta, a estratégia de Angola para o gás natural visa o desenvolvimento, aproveitamento e monetização dos recursos do combustível, de forma a maximizar os benefícios socioeconómicos.
Energia eléctrica
A central eléctrica do Ciclo Combinado do Soyo, em funcionamento desde 2017, conta com quatro turbinas a gás e duas a vapor, para uma potência de 750 Megawatts de energia, com recurso à transformação do gás, proveniente das operações de diversos blocos petrolíferos e do projecto Falcão 2.
O Ciclo Combinado do Soyo está inserido nos projectos estruturantes do sector eléctrico nacional, interligando os sistemas Norte, Centro e Sul do país.
Detém linhas de transmissão e subestações que permitem interligar o sistema Norte e criar condições para electrificação da província do Zaire, ao longo de mais de 400 quilómetros, com mais de 1.500 torres de alta tensão.
Enquanto a cidade do Soyo está devidamente electrificada com a energia da rede nacional, o mesmo não se pode dizer em relação às comunas do interior do município que clamam ainda por este serviço.
O Soyo, conhecido na época colonial como Santo António do Zaire, celebra este sábado, 5 de Abril, 51 anos, desde que a sua sede municipal foi elevada à categoria de cidade, em 1974, através da portaria administrativa nº 320, do então Alto-comissário e Governo-geral de Angola, Fernando Augusto Santos e Castro.
Até bem pouco tempo, essa circunscrição contava com cinco comunas, tendo sido desanexado o Quêlo que agora ostenta a categoria de município, por força da nova Divisão Político-Administrativa (DPA) do país.
Agora, o município do Soyo conta apenas com as comunas de Sumba, Mangue Grande, Pedra do Feitiço e a Sede, com uma população estimada em cerca de 300 mil habitantes. PMV/JL