Luanda – A Estratégia Nacional de Desenvolvimento do Arroz (ENDA), traçada pelo Governo angolano, no período 2018-2022, será actualizada e reconduzida para o Plano de Desenvolvimento Nacional 2023-2027, com vista a acelerar o aumento da produção deste cereal no país.
De acordo com o director-geral adjunto do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA), Tarciso Baptista, a actualização da ENDA se adequará ao Plano Nacional de Fomento de Grãos (Planagrãos), aprovado recentemente pelo Executivo angolano.
Além disso, a referida estratégia também será enquadrada no Plano Integrado de Aceleração da Agro-Pecuária Familiar, contando com apoio do Estado, em parceria como o sector privado, para a produção de média e grande escala do arroz.
Apesar dessa actualização, a meta anterior da ENDA de produzir 45 mil toneladas de arroz vai se manter, nos próximos anos, segundo Tarciso Baptista, que falava na primeira edição do fórum sobre “O conhecimento como base para o desenvolvimento da cultura do arroz”, decorrida esta quinta-feira, em Luanda.
Ao apresentar os resultados da Estratégia Nacional de Desenvolvimento do Arroz 2018-2022, referiu que o programa vai, igualmente, continuar a perspectivar o aumento do rendimento médio para 2,5 toneladas/hectar, bem como fornecer 4 500 toneladas de fertilizantes para o cultivo de arroz.
Constam ainda das metas, a selecção de duas variedades por ecossistema e o estabelecimento do sistema de produção de sementes de arroz, visando fornecer 1,7 toneladas aos agricultores.
Produção de arroz longe da meta
Embora os dados do Governo mostrem uma subida nos níveis de produção do arroz, a actual quantidade cultivada em Angola ainda está “muito abaixo” de satisfazer as necessidades do mercado interno, que precisa de cerca de 450 mil toneladas/ano.
A título de exemplo, o país registou apenas a colheita de 10 612 toneladas, na presente época agrícola (2022), contra 45 mil projectada pela Estratégia Nacional de Desenvolvimento do Arroz.
Eis o quadro da produção projectada e real do arroz no país
2018 |
2019 |
2020 |
2021 |
2022 |
|
Produção Projectada (Ton) |
29.733 |
32.707 |
35.977 |
39.575 |
45.000 |
Produção Real (Ton) |
9.700 |
10.100 |
10.600 |
10.514 |
10.612 |
Rendimento Projectado (Ton/ha) |
2,5 |
2,5 |
2,5 |
2,5 |
2,5 |
Rendimento Real (Ton/ha) |
1,2 |
1,2 |
1,3 |
1,3 |
1,3 |
Em consequência da fraca produção do segundo cereal mais consumido em Angola, depois do milho, o país gasta cerca 25 milhões de dólares/mês com a importação de perto de 15 mil toneladas de arroz por mês, que corresponde a 95% das necessidades do mercado interno.
Causas da baixa produção
Entre várias razões do baixo nível de produção do arroz em Angola, os produtores e especialistas apontam a falta de quadros com conhecimentos técnico-científicos, bem como a morosidade na concessão de crédito aos empresários agrícolas como os principais factores do fraco cultivo deste produto no país.
Em declarações à ANGOP, no quadro do fórum sobre “O conhecimento como base para o desenvolvimento da cultura do arroz”, o empresário Rodrigo Botelho, que se dedica à produção de arroz em Malanje, afirmou ter esperado mais de um ano para obter um crédito, facto que obrigou a reprogramação da sua actividade agrícola.
A par dessa dificuldade, apontou a falta de mão-de-obra qualificada, assistência técnica e peças de reposição no país como outros constrangimentos que têm dificultado a actividade agrícola no país.
Com perspectivas de explorar cerca de 200 hectares e colher cinco mil quilos de arroz/hectar, neste ano agrícola, a sua fazenda emprega dez trabalhadores.
Para a docente da Universidade Federal de Lavras (UFLA) do Brasil, Flávia Botelho, é necessário que se faça uma combinação entre o conhecimento agronómico teórico e prático, para produção de grãos em grande escala no país, em particular.
“Angola tem terra arável, água e humidade favorável para a produção de grandes quantidades de arroz, mas é necessário potenciar/dotar o recurso humano com conhecimentos práticos, para aproveitar da melhor forma todo potencial de recursos naturais disponíveis no país”, apelou.
Por conta disso, a também especialista em ciências agronómicas assegurou que a Universidade Federal de Lavras (UFLA) do Brasil está disponível em oferecer bolsas de estudo para licenciados em agronomia, com vista a potenciá-los com conhecimentos mais sólidos.
Fruto dessa iniciativa, a docente fez saber que a estudante angolana, Ana Paula, já se encontra no Brasil, onde está a fazer o mestrado em agronomia, para vir replicar o conhecimento em Angola, tão logo termine os estudos.