Luanda – A República de Angola tem como maior desafio, no upstream(produção de petróleo), a mitigação do acentuado declínio da produção do ouro negro, numa altura em que os níveis mantém-se ainda nos 1,1 milhão de barris/dia, após os registos históricos acima destes números.
Neste dia em que se assinala o 29 de Setembro, Dia Mundial do Petróleo, vale lembrar que a produção de petróleo em Angola já atingiu níveis de 1,8 milhão de barris em 2015, uma média que foi baixando até as cifras actuais, influenciado em parte, pela insuficiência de investimentos no sector e paragens não programadas.
Com reservas estimadas em nove biliões de barris de petróleo bruto e 5,95 biliões de metros cúbicos de gás, o país move-se em acções para aumentar a produção acima dos 1,1 milhão de barris/dia nos próximos anos.
Entre as acções em curso, pode-se destacar a exploração em áreas de desenvolvimento, o redesenvolvimento de campos maduros, a extensão dos períodos das concessões e a aplicação de novos termos fiscais e contratuais em campos marginais.
Sendo um dos maiores produtores, atrás da Nigéria, a nível de África, a estratégia geral de exploração de hidrocarbonetos de Angola prevê promover o conhecimento geológico e reavaliação do potencial petrolífero, com destaque para bacias do interior.
A Estratégia de Licitação 2019/2025 consta a adjudicação de mais de 50 novos blocos e o regime de oferta permanente de blocos, que permite a adjudicação directa ou por concurso limitado de blocos e o regime jurídico sobre o conteúdo local para a promoção e desenvolvimento do conteúdo local no sector petrolífero.
Estes instrumentos foram já aprovados pelo Governo, durante a última legislatura.
Ainda no upstream, para a sustentabilidade do sector, estão a ser desenvolvidas acções para a exploração e produção do gás natural, um recurso importante para a transição energética, um processo que o país já dá passos.
Numa primeira fase, tal como fez referência o titular da pasta do sector, Diamatino Azevedo, na 3ª Conferência Internacional e Exibição “Oil and Gas”, foi já constituído o Novo Consórcio de Gás (NCG) que desenvolverá os campos de gás não associado do Quiluma e Maboqueiro, para fornecer gás a fábrica Angola LNG e a fábrica de produção de amónia e ureia no Soyo.
Jazigos de petróleo
Registos históricos apontam que a actividade de exploração, ou melhor, procura por petróleo, no país, está concentrada nas bacias do Kwanza e a do Baixo Congo.
Os blocos em produção albergam a zona marítima e terrestre das províncias de Cabinda e Zaire, mas existe reservas offshore, bem como onshore noutras partes, com recentes descobertas também no largo da costa meridional, em particular na província do Namibe.
A produção de óleo de Angola é proveniente de 16 concessões petrolíferas, sendo 13 na zona marítima offshore e três na zona terrestre onshore, com mais de 20 Blocos em operação.
Do total dos blocos, de acordo com as estatísticas consolidas, até Junho deste ano de 2023, pela Direcção de Tributação Especial (DTE) do Ministério das Finanças, o Bloco 17 mantém na liderança da produção, com 61,83 milhões de barris, seguido do Bloco 32 com 27,12 milhões de barris, o Bloco 15 com 22,60 milhões, o Bloco 0 com 21,83 milhões e o Bloco 15/06 com 17,600 milhões de barris, contribuindo com milhares de dólares nas receitas do Estado.
Top “five” na produção
A extracção de petróleo bruto, em Angola, é efectuada por companhias internacionais, contribuindo na evolução da indústria petrolífera do país.
Do conjunto, o principal players em Angola é a TotalEnergies Angola, subsidiaria da francesa, Total, explora em nove blocos, nomeadamente no 17, 32, 0, 14k, Angola LNG- Gás Natural Liquifeito, 17/06, 16 e 48.
A seguir, aparece a companhia a Azule Enegy, com os blocos 15/06, 31, 1/14, 18 e 28, Cabinda norte e Cabinda centro.
Integram ainda o “Top Five”, a Equinor que também actua nos blocos 17, 15, 14/01 e 29, a ExxonMobil nos blocos 30, 44 e 45.
A Cabinda Gulf Oil Company, subsidiária da norte-americana Chevron, actua nos blocos 0 e 14.
Além da petrolífera nacional, a Sonangol, actuam no mercado a italiana ENI, a BP, a SSI, entre outras que começam a investir neste segmento e na prestação de serviços.
Encaixes com às exportações
Em Angola, o sector dos petróleos representa 95% dos produtos exportados e 30% do produto interno bruto (PIB).
No quadro das exportações, em 2022 o país enviou 391 milhões de barris de crude ao preço médio de 101,992 dólares, perfazendo uma receita bruta na ordem dos 39, 94 mil milhões de dólares norte-americanos.
Os últimos números oficiais, referentes ao segundo trimestre deste ano, apontam um volume de exportações de petróleo bruto de 94,063 milhões de barris, um volume avaliado em 7,16 mil milhões de dólares norte-americanos, de receita bruta.
Ao preço médio de USD 76,19/barril, reflectem um aumento das exportações na ordem de 6,71% face ao 1º trimestre e uma redução de 9,47% em relação ao período homólogo, 2022.
No primeiro trimestre deste ano, 2023, os valores cifram-se em USD 6,93 mil milhões com a exportação de 88,14 milhões de barris ao preço médio de USD 81,17/barril.
Tais exportações, na sua maioria seguem à República Popular da China, um país com quem Angola tem uma dívida em mais de 40 mil milhões de dólares.
A título de exemplo, no segundo trimestre deste ano, 2023, a China recebeu 64,25% das exportações. O restante foi exportado para outros países dos continentes da Ásia, Europa e América.
Construção de refinarias a todo “vapor”
Com parceria privada, o Governo continua a desenvolver os projectos das refinarias do país em Cabinda, Soyo (Zaire), e Lobito (Benguela), depois de requalificada a de Luanda, cuja capacidade passou de 395 mil litros para uma produção de milhão e 580 litros de gasolina por dia.
O Novo Complexo de Gasolina da Refinaria de Luanda, uma empreitada que custou 235 milhões de dólares, enquadra-se no Plano de Desenvolvimento Nacional (PND 2018-2022) para o sector petrolífero e visa, sobretudo, garantir a auto-suficiência de produtos refinados com a construção de novas refinarias.
Enquanto isso, está quase em fase de testes a refinaria de Cabinda, com a capacidade para refinar 30 mil litros de gasolina.
Em Julho deste ano, 2023, a Gemcorp Holdings Limited (GHL), a Africa Finance Corporation (AFC) e o African Export-Import Bank (Afreximbank) anunciam em comunicado a conclusão do pacote financeiro para a construção da Refinaria de Cabinda, no valor de 335 milhões de dólares.
O projecto, no valor de 473 milhões de dólares, é financiado em 138 milhões de dólares com recursos já disponibilizados pelos seus accionistas e em 335 milhões de dólares no formato de “project financing”, disponibilizado por um sindicato bancário liderado pela AFC, Afreximbank e um conjunto de instituições financeiras internacionais e locais.
A Refinaria de Cabinda está a ser implementada pela GHL, em parceria com a Sonangol, com uma participação de 10%.
Outros passos foram dados em torno dos projectos das refinarias do Soyo, com a capacidade de refinar 100 mil litros de gasolina, e a do Lobito, que vai processar 200 mil litros dia.
Com estes projectos, o Governo procura ao máximo “poupar” divisas com a importação de gasolina, cujo gastos rondaram os 473,48 milhões de dólares no segundo trimestre deste ano, 2023, com a aquisição de 632,18 milhões de toneladas métricas de combustíveis (gasóleo e gasolina).
Apesar dos números serem ainda elevados, observa-se uma redução nas compra, visto que no período homólogo gastou-se USD 747,92 milhões pagos na compra de 770,70 milhões de toneladas métricas (TM) de combustíveis.
Enquanto decorrem estes projecto, entram para o sector novos players que podem contribuir para atenuar o declínio da produção e ajudar no aumento acima dos 1,1 milhões de barris.NE/AC