Luanda – A visita do Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, a Angola vai encorajar a cooperação bilateral no domínio da transição energética, um projecto aprovado pela sua administração, com um financiamento avaliado em dois biliões de dólares, segundo o presidente da Câmara Americana de Comércio em Angola, Pedro Godinho.
Em declarações à ANGOP, a propósito da visita inédita de um presidente norte-americano a Angola, a acontecer de 2 a 4 deste mês, o líder da classe empresarial dos Estados Unidos de América (EUA) lembrou que esse investimento serve para dar suporte a duas empresas americanas que vão investir na construção de fontes de energias renováveis no país.
Pedro Godinho destacou que o respectivo projecto já é uma realidade no Biópio, província de Benguela, “onde foi construída a maior central fotovoltaica de energia solar da África subsaariana”.
Inaugurada em Julho de 2022, a central possui mais de 500 mil painéis solares, com uma potência instalada de 188,8 megawatt de energia eléctrica injectada na rede nacional interligada, servindo para beneficiar 500 mil famílias.
Além dessa infra-estrutura, o projecto também vai ser desenvolvido nas províncias do Moxico, Cuando Cubango e Namibe.
Apontou, igualmente, o Corredor do Lobito como outro projecto que interessa os Estados Unidos, tal como os países ocidentais, que têm a necessidade de importar os minerais raros, tendo em conta a substituição do uso dos combustíveis fosseis por energias renováveis/limpa, através da transição energética, a nível do mundo.
“As viaturas vão deixar de funcionar com os combustíveis fósseis que produzem muito dióxido de carbono e passar a usar energias limpas, facto que obriga os países a investirem em projectos que permitem o funcionamento das viaturas de forma eléctrica, por meio de baterias”, sublinhou.
Além disso, o presidente da Câmara Americana de Comércio em Angola (AmCham-Angola) realçou também que o Corredor do Lobito vai alavancar outros sectores na sua zona adjacente, como o agro-negócio, as indústrias, as bases logísticas, entre outros segmentos que vão trazer um valor acrescentado no crescimento e desenvolvimento do país, em particular, e na região Austral, em geral.
Pedro Godinho realçou também que a operacionalidade dessa linha férrea permitirá criar postos de trabalho e melhorar os níveis de produção para dinamizar a exportação, com vista à captação de divisas, sem depender maioritariamente do sector petrolífero e dos diamantes.
Já o vice-reitor da Universidade de Duquesne, nos EUA, Gerald Boodoo, considera a visita de Joe Biden a Angola, como um momento histórico que pertirá atrair mais investimento americano no país e passar uma mensagem forte e firme aos empresários de que Angola é um bom destino para se investir.
“A visita do Presidente Joe Biden a Angola constitui um sinal positivo, por ajudar a fortalecer as trocas comerciais, além de sinalizar o quão é importante o país africano, enquanto parceiro dos EUA, facto que vai motivar a classe empresarial a investir em Angola”, destacou.
Africell
Para o CEO da operadora de telefonia móvel Africell, Jorge Vazquez, a visita de Joe Biden é muito importante, por estar em alinhamento com a política do Executivo angolano, que prima pela melhoria das relações bilaterais e captação de novos investimentos para diversificação da economia de Angola.
Além disso, o gestor considera ser um orgulho receber o Presidente do seu país em Angola, um mercado que oferece condições para se investir em vários segmentos socioeconómicos.
“Angola é um país especial para nós, por acolher o nosso mais recente e maior investimento em África, oferecendo um ambiente de negócio favorável e competitivo”, realçou.
A Africell é a única empresa de telecomunicações americana a actuar em Angola, em particular, e na África Subsaariana, em geral.
Além de Angola, onde opera desde Abril de 2022, com 24% da quota de mercado de telemóvel, a empresa norte-americana também actua na República Democrática do Congo (RDC), Serra Leoa e Gâmbia, totalizando mais de 16 milhões de assinantes.
Trocas comerciais em queda
Apesar da melhoria das relações de cooperação entre Angola e EUA, dados da AmCham-Angola indicam que as trocas comerciais têm reduzido, nos últimos anos.
A título de exemplo, em 2008, as trocas comerciais entre os dois países atingiram os 20,9 biliões de dólares, sendo USD 18,5 biliões das exportações de Angola e 2,4 biliões de dólares dos Estados Unidos a exportar para Angola, de acordo com Pedro Godinho.
Mas, em 2023, a soma das trocas comerciais foram avaliadas em 1,8 biliões de dólares, dos quais 1,1 biliões por parte de Angola e 700 para os Estados Unidos.
A redução das trocas comerciais deveu-se pelo facto de as empresas americanas deixarem de vender o petróleo angolano somente no mercado norte-americano, virando-se para outros mercados que apresentam mais vantagens em termos de lucros para as petrolíferas.
“Anteriormente, o petróleo produzido pelas empresas americanas que operam em Angola era somente vendido nos Estados Unidos, por causa da legislação americana, na altura, que exigia que todo o crude produzido ou de direito das empresas americanas, em qualquer país, tinha que necessariamente ser comercializado no mercado americano”, lembrou.
Essa realidade mudou quando a produção do petróleo dos Estados Unidos aumentou de 6 milhões de barris por dia para 13 milhões de barris/dia, um facto que obrigou o ex-Presidente Barack Obama a levantar a respectiva restrição, dando a possibilidade das empresas americanas venderem no mercado internacional.
Para reverter esse quadro, Pedro Godinho aponta a necessidade de Angola apostar na produção de outros bens não petrolífero que possam aliciar os americanos, como o café, a banana, cujo quilo é mais caro em relação um litro de petróleo nos EUA.
Segundo o gestor da classe empresarial, a Câmara Americana de Comércio em Angola (AmCham-Angola) tem trabalhado na concepção de estratégias que contribuam, exactamente, para o melhoramento das relações comerciais bilaterais.
Além do sector dos petróleos, as quase 60 empresas americanas que operam em Angola actuam em outras áreas, como telecomunicações, bebidas e alimentos, bem como saúde.
Recentemente, em Luanda, o vice-reitor norte-americano da Universidade de Duquesne, Gerald Boodoo, manifestou o interesse do seu Governo construir uma instituição de ensino superior em Angola, nos próximos tempos, para atender as necessidades do mercado nacional.
O projecto, que ainda está em fase de estudo de viabilidade, prevê abranger os cursos de engenharia, ciência, matemática e tecnologia, para aumentar a capacidade industrial no país.
A agenda da visita de Joe Biden a Angola inclui a sua ida à província de Benguela, onde vai constatar o projecto Corredor do Lobito.
Três décadas após o estabelecimento das relações diplomáticas, os dois Estados preparam-se para materializar, de 02 a 04 de Dezembro, a primeira visita de um presidente norte-americano ao território angolano, desde a Independência Nacional, em 1975.
Trata-se, igualmente, da primeira viagem ao continente africano de um Chefe de Estado da maior potência mundial, nos últimos 10 anos, depois de Barack Obama, em 2013.
Os 31 anos de relações diplomáticas estão marcados por uma parceria em franca progressão, que começou a consolidar-se em 2017, particularmente em áreas fulcrais como as energias renováveis e telecomunicações.
Em Maio deste ano, os dois países assinaram, no quadro da Cimeira Empresarial EUA-África, os acordos finais para financiar três grandes projectos da Parceria para Infra-estruturas e Investimentos Globais (PGI), com destaque para o emblemático Corredor do Lobito.
Totalizando mais de 1,3 mil milhões de dólares, os financiamentos acordados abarcam a geração de energia limpa, a conectividade de rádio e infra-estruturas de transporte, como demonstração do compromisso contínuo do Governo dos EUA de apoiar e acelerar as prioridades de investimento económico de Angola.
Um dos pontos fortes da iniciativa do Presidente norte-americano é o desenvolvimento das infra-estruturas em todo o Corredor do Lobito, importante via que liga ao Oceano Atlântico aos países encravados, como a RDC e a Zâmbia.
O Corredor do Lobito oferece potencial para a criação de infra-estruturas que irão integrar melhor a RDC, a Zâmbia e Angola nos mercados regionais e globais, desenvolver cadeias de abastecimento de energia verde e o investimento na agricultura, nas telecomunicações e noutros sectores em regiões subdesenvolvidas. QCB/VC