Viana – Uma fábrica de vestuário diverso, com capacidade para produzir entre 300 e 900 mil peças de roupa por mês, foi inaugurada esta sexta-feira, no município de Viana (Luanda), permitindo a criação de 120 postos de trabalho, na primeira fase.
Implantada numa área de 1 500 metros quadrados, nas instalações do Viana Park, a unidade fabril está vocacionada à produção de calças, camisas, calções, vestidos e uniformes para crianças e adultos, numa iniciativa privada da empresa angolana Befran, em parceria com um consórcio chinês.
Orçada em dois milhões e 500 mil dólares, a fábrica vai operar com apenas 7% da matéria-prima (tecido) local, a ser fornecida pela Textang II, enquanto maior parte de tecidos será importada, porque o mercado nacional ainda não satisfaz a demanda, segundo a empresária e mentora do projecto Beatriz Frank.
Em função desse défice, a empresária disse que a empresa gasta um milhão e quinhentos mil dólares na importação de matéria-prima, facto que encarece o preço do produto final.
De acordo com a empresária, o país ainda tem um grande desafio, por “não possuir fábricas de fecho, botões e linhas, para além da escassez de mão-de-obra qualificada”.
Apesar dessas dificuldades, Beatriz Frank afirmou que a implementação da fábrica, cuja ideia surgiu em 2015, prevê criar 400 empregos, na segunda fase, com perspectivas de alcançar 15 mil funcionários, até 2026.
Por seu turno, o secretário de Estado para Indústria, Carlos Rodrigues, que efectuou o corte da fita inaugural, sublinhou que a fábrica vem contribuir no desenvolvimento da indústria têxtil em Angola e diversificar a economia nacional.
Acrescentou que a iniciativa constitui-se num marco no desenvolvimento industrial do sector têxtil em Angola, simbolizando um passo significativo rumo ao fortalecimento e diversificação das fontes de receitas, para além de promover a inclusão social.
Quanto à disponibilidade de matéria-prima local, o secretário de Estado reconheceu ser ainda um desafio para o país, o que leva ao Governo tomar medidas e políticas no sentido de incentivar a produção nacional para alimenta a indústria.
Reiterou que a indústria têxtil e de confecções em Angola enfrenta desafios que exigem a disposição e a cooperação do sector privado, com a produção de tecidos para atender a demanda.
Assegurou que as condições estão criadas para se produzir matéria-prima localmente, como o algodão que deve ser transformado e com isso ter uma cadeia de valor contribua de forma efectivamente para o Produto Interno Bruto (PIB).
Para além da fábrica inaugurada, Carlos Rodrigues adiantou que também existe várias empresas do mesmo segmento que têm projectos semelhantes, para alavancar a indústria têxtil.
Paralelamente a essa unidade fabril, a província de Luanda também conta com duas fábricas de uniformes e batas, em Viana, e uma de fardamento, no município do Cazenga.
Indústria têxtil
Para alimentar as unidades fabris de vestuário, actualmente, o país possui três principais fábricas têxteis: Textang II (Luanda), Comandante Bula, ex-Satec (Dondo, Cuanza-Norte) e Textaf, ex-África Têxtil, em Benguela.
Com 250 trabalhadores, a Textang II tem a capacidade para produzir 10 milhões de metros de tecido/ano, mas actualmente a sua produção está abaixo de 10% desta capacidade.
Quanto à indústria têxtil do Dondo, tem potencial para produzir 300 mil peças de roupa por mês, entre camisas e camisolas. A primeira linha de produção tem uma capacidade para o fabrico de 200 mil camisolas e 150 mil camisas.
Reconstruída numa área de 88 mil metros quadrados, a fábrica agrega serviços de fiação, malharia, tingimento, acabamentos, confecção de roupas e uma área de fabrico de tecidos jeans.
A segunda fileira tem capacidade para produzir, em igual período, 500 mil metros de tecidos Jeans. A revitalização do projecto foi possível através de um financiamento Japonês, orçado em mais de 340 milhões, de um total de 1,15 mil milhões de dólares americanos, com o propósito de o país reduzir as importações de roupas.
A reabilitação do empreendimento enquadra-se no processo de recuperação e reactivação de activos públicos do Estado, em conformidade com o relançamento da indústria têxtil e da fileira do algodão em Angola.
Já Textaf, vocacionada, essencialmente, para a transformação de algodão em fios e tecidos, para múltiplos usos, desde toalhas de banho, de mesa, lençóis, cobertores, uniformes, fronhas, fardas corporativas e cobertores, pretende tornar-se líder de têxteis a nível de Angola.
Para o efeito, a fábrica têxtil localizada na província de Benguela, projecta atingir a sua capacidade máxima de produção de 500 mil unidades por mês, nos próximos anos.
Inicialmente, prevê impulsionar o seu plano estratégico de passar a produzir ” a 100% com o algodão nacional”.
Angola projecta auto-suficiência na produção de algodão
Dentro de cinco anos, Angola prevê tornar-se auto-suficiente na produção de algodão, com a disponibilização por parte do Ministério da Agricultura e Florestas de cerca de 30 mil hectares de terra para o efeito, com o financiamento de recursos provenientes do Orçamento Geral do Estado de 2024, bem como garantias soberanas existentes.
De acordo com o Governo parte dessa facilidade será utilizada para promover a produção de algodão, sendo o presente ano para a preparação dos campos, e em Janeiro de 2025 para o início do plantio.
Actualmente, o país conta com alguns grupos a produzir em pequenas quantidades, ainda em fase de testes para verem a natureza e adaptação das sementes e dos solos, com foco naquelas regiões com maior capacidade de produção, com a recuperação das zonas em que no passado já se produzia o algodão.
A titulo de exemplo, a Textang II prevê, a partir de Janeiro de 2025, produzir algodão em grande escala, numa área de quatro a cinco mil hectares, com vista ao alcance da auto-suficiência desta matéria-prima no país e satisfazer as necessidades do mercado angolano, dentro de três ou quatro anos.
O alcance dessa meta constitui um factor crucial para assegurar o funcionamento pleno da indústria têxtil em Angola, segundo o gestor dessa empresa, que está a fazer o ensaio da produção de sementes de algodão há três anos, na Baixa de Cassanje, em Malanje. HDC/QCB