Lobito – O investimento do Estado angolano no Corredor do Lobito terá reflexos positivos devido à capacidade técnica e experiência das empresas do consórcio vencedor do concurso para sua exploração, considerou, esta quinta-feira, o economista Henrique Pascoal.
Trata-se das empresas Trafigura, Vecturis e Mota-Engil, que compõem o consórcio denominado Lobito Atlântic Railway, já em funções desde o dia 4 de Julho, aquando da assinatura da concessão dos serviços ferroviários e de logística, com o Ministério dos Transportes.
Esse acordo visa a exploração e manutenção da linha férrea do Caminho de Ferro de Benguela (CFB), do Lobito (Benguela) ao Luau (Moxico), no sentido de dinamizar o transporte de mercadorias entre o oceano Atlântico e as minas de cobre e cobalto da República Democrática do Congo e da Zâmbia.
Henrique Pascoal afirmou que da parte do Estado angolano, o projecto já se encontra funcional, há algum tempo, mas manifestou-se preocupado com o tempo do transporte das mercadorias de Angola para aqueles países e vice-versa.
Para ele, o factor tempo é fundamental. Defende a necessidade de haver comboios, tanto de mercadorias como urbanos, mais rápidos, precisos e com horários que vão de acordo com as necessidades das populações.
“Olhando para o nosso comboio urbano, seria bom encurtar o tempo de viagem. Temos muitas pessoas que vivem no Cubal ou na Ganda a trabalhar no Lobito ou Benguela e no final do dia estariam de volta às suas residências”, sugeriu.
O economista referiu-se também sobre a incompatibilidade entre as linhas férreas de Angola e a do Congo, uma preocupação manifestada há tempos pelo Conselho de Administração do CFB. Por causa disso, os comboios chegam apenas até a fronteira da RD Congo.
A seu ver, esta situação provoca atraso nos programas de transporte das mercadorias, pelo que é necessário que os Estados envolvidos resolvam o problema o quanto antes.
Falou também sobre a importância do Aeroporto Internacional da Catumbela para o Corredor do Lobito, dizendo que "a demora da sua certificação está a comprometer seriamente as aspirações dos cidadãos".
“É uma infra-estrutura alocada ao Corredor do Lobito, que vai atender toda a região Sul e se ela não funcionar vai causar constrangimentos. Os empresários de outros países pretendem vir directamente à província de Benguela para prospectar e investir nos seus negócios”, explicou.
Por outro lado, segundo ele, o sector do turismo não estaria a depender apenas de pequenos navios cruzeiros e turistas que viajam no comboio da Rovos Rail, mas daqueles que viriam passar férias no território nacional.
"O sector da hotelaria aumentaria as suas receitas e consequentemente o Estado também ganharia com os impostos", acrescentou.
Sobre a visita de políticos e empresários da Zâmbia e da RDC às infra-estruturas petrolíferas, justificou com o facto de Angola ser o segundo maior produtor de petróleo em África, situação que está a despertar muito interesse para o fornecimento desse produto a esses países.
A Zâmbia, por exemplo, manifestou a necessidade da construção de um ramal ferroviário para ligar Angola àquele país, a partir da localidade angolana do Luacano, na província do Moxico, situação confirmada pelo Presidente da República, João Lourenço
Para o efeito, esteve na província de Benguela o seu presidente Hakainde Hichilema, que visitou a Refinaria do Lobito, também conhecida por Sonaref.
Para o economista, o Estado angolano poderia aproveitar para explorar outras valências, já que Angola tem terras aráveis, água e energia que poderia vender a estes países e trazer retornos significativos para a sua economia.
“Poderíamos usar a nossa agricultura para abastecer esses países encravados com a produção interna, conforme faz a África do Sul ou a Namíbia”, afirmou
O Corredor do Lobito é transnacional, atravessando a África Austral. Afirma-se como um dos principais eixos de circulação de matérias-primas, produtos e mercadorias, não apenas dentro dos países que atravessa, mas sobretudo devido à conexão que estabelece com o mercado internacional através do Porto do Lobito, que assegura uma elevada percentagem de volume de comércio internacional de toda a região da SADC. TC/CRB