Benguela – O Governo angolano quer aproveitar as valências do Corredor do Lobito como “via rápida” para interligar a rede eléctrica nacional com a da Zâmbia e a da República Democrática do Congo (RDC), apurou a ANGOP.
A possibilidade foi aventada, em Benguela, pelo ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, ao falar à imprensa sobre os projectos prioritários do sector no quinquénio 2023-2027.
Em causa está uma estratégia por parte de Angola de exportar o excedente de energia da sua rede aos países vizinhos, como forma de captar divisas e garantir mais sustentabilidade financeira do sector eléctrico.
Com um financiamento privado de mil milhões de euros, o conhecido Projecto de Interligação Regional Angola, Zâmbia e RDC consiste na construção de uma linha com mais de mil e 200 quilómetros que vai ligar a zona do Médio Kwanza ao chamado Cinturão de Cobre, na região leste da Zâmbia e da RDC, onde há grande procura de energia.
Esta futura linha de transporte de electricidade prevê fornecer um excedente de energia de até dois mil megawatts à região leste da Zâmbia e da República Democrática do Congo, principalmente à indústria mineira.
Apesar de produzir, actualmente, 3.547 megawatts, a zona do Médio Kwanza, que concentra as barragens de Capanda (520 MW), Laúca (2.067 MW) e de Cambambe (960 MW) tem uma capacidade instalada de sete mil MW, mas que prevê aumentar para nove mil MW até 2027, com a construção da barragem de Caculo Cabaça, com potência de 2.100 MW.
Para além disso, o projecto de interligação energética, cuja execução está prevista para dois anos, também contempla a construção das barragens Zenzo-1 (450 MW), Zenzo-2 (120 MW), Túmulo do Caçador (450 MW) e Luíme, com capacidade para 330 megawatts.
Assim sendo, os três países envolvidos assinaram a 4 de Julho deste ano, em Luanda, o Projecto de Interligação Regional, para partilha de excedente de energia esperado, graças aos avultados investimentos do Executivo ao longo do curso médio do rio Kwanza.
É neste contexto que o ministro João Baptista Borges adianta que o projecto de interligação da rede eléctrica nacional com a Zâmbia e a RDC está já a ser preparado e será desenvolvido pela iniciativa privada.
“O nosso conceito de Corredor do Lobito é mais alargado que o de circulação de comboios”, referiu, considerando que o Corredor do Lobito tem que ser "muito mais do que uma via para trocas comerciais na região".
Por isso, defende a redinamização deste corredor ferroviário Lobito-Luau, na fronteira com a RDC, não apenas pelas trocas de produtos, predominantemente o escoamento da produção de minérios dos países vizinhos, mas também pela exportação de energia da rede nacional e até de telecomunicações.
“Queremos, então, atrelar ao Corredor do Lobito a interligação com a Zâmbia e com a RDC a partir da nossa rede eléctrica nacional”, disse.
Acesso a divisas
Acredita que a interligação do sistema eléctrico nacional com o dos países vizinhos vão ser uma solução para Angola poder ir buscar recursos cambiais.
João Baptista Borges dá a entender a importância dos recursos cambiais através da "exportação comercial" de energia, para garantir a execução de vários outros projectos do sector eléctrico e também atender outras necessidades do país.
Sector privado
E o titular do pelouro da Energia e Águas deixa claro que os projectos de interligação energética não vão ser desenvolvidos com recursos públicos, pelo contrário, serão suportados apenas pelo sector privado.
Para tal, disse que Angola e os outros países da região vão apenas autorizar que estes projectos sejam efectivados, por via de um contrato de concessão de longo prazo.
“O resto é o sector privado que coloca recursos financeiros e realiza as obras”, insistiu o ministro, reiterando que ao poder público compete electrificar o território nacional.
Até porque, reconheceu, o Governo tem noção do grande trabalho que ainda tem que fazer para levar energia eléctrica a diferentes regiões do país.
Além da região Leste, Angola tem também planos de interligações energéticas com a Namíbia, no Sul do país.
“Energia para todos”
Em 2023, Angola beneficiou de 1,4 mil milhões de dólares financiados pelo Standard Chartered, destinados à construção de sistemas de produção de energia eléctrica nas aldeias rurais em todo o país.
O objectivo é que as comunidades rurais se tornem mais auto-suficientes e menos dependentes da principal rede eléctrica nacional.
Este projecto de electrificação prevê beneficiar, aproximadamente, 203 mil agregados familiares e um milhão de angolanos em 60 comunidades, nas províncias do Moxico, Lunda-Norte, Lunda-Sul, Bié e Malanje.
A matriz eléctrica nacional comporta 59,79 por cento de energia hidroeléctrica, 35,74 por cento térmica, 3,81 por cento solar e 0,57 por cento híbrida.
No quadro da interligação da rede eléctrica nacional, estão já conectadas as regiões Norte e Centro, beneficiando um total de 10 províncias, sendo o próximo passo a conexão do Sul e Leste.
Em Angola, a taxa de electrificação aumentou de 36 por cento, em 2017, para 43 por cento no primeiro trimestre de 2023, sendo a meta chegar a 50 por cento em 2027. JH/CRB