Benguela – A captura ilegal de espécies marinhas proibidas, como peixes-de-bico, está a ganhar, nos últimos anos, contornos alarmantes na comuna da Praia do Bebé, no município da Catumbela, província de Benguela, apurou a ANGOP.
Os agulhões e espadartes, conhecidos pelos seus longos focinhos, estão entre os peixes-de-bico capturados ilegalmente pela arte de malhadeira flutuante nos mares da Praia do Bebé, onde os pescadores artesanais, atraídos pelo valor destas espécies no mercado, teimam em lançar as redes às águas.
Para travar os casos de pesca desenfreada dos peixes-de-bico, o director provincial da Agricultura, Pecuária e Pescas, José Gomes da Silva, revela que, durante o ano de 2022, a fiscalização multou mais de cinquenta pescadores da Praia do Bebé.
Além das artes de pesca, embarcações e até motores, foram apreendidos em posse dos pescadores artesanais quantidades de peixes-de-bico capturados ilegalmente, como adianta o entrevistado.
E alerta que, por serem espécies para fins de pesca desportiva no mundo, a captura de peixes-de-bico em Angola constitui uma infracção e por isso a fiscalização realizou várias operações em 2022, na tentativa de alterar a situação.
Segundo José Gomes da Silva, os processos de transgressão administrativa dos armadores autuados no ano passado correm trâmites legais, para o pagamento das respectivas coimas ao Estado.
Quanto ao modus operandi, referiu que os pescadores aproveitam a noite para capturar essas espécies e defende que, se a fiscalização tivesse mais meios e homens, cumpriria cabalmente a sua missão onde quer que fosse.
Dá conta de que, neste momento, há grande procura por essas espécies, uma situação que não acontecia há oito anos, pois a população de Benguela não tinha cultura de consumir peixes-de-bico.
A título de exemplo, aponta que o preço de um espadarte de 30 a 40 quilos varia entre os 50 e 60 mil kwanzas no mercado informal, daí a teimosia de muitos pescadores porque a pesca tornou-se rentável.
Estrangeiros por detrás
Uma investigação das autoridades em Benguela descobriu que cidadãos estrangeiros, principalmente chineses e libaneses, introduziram, alegadamente de forma clandestina, a arte de pesca conhecida como malhadeira flutuante na Praia do Bebé e ensinaram os pescadores locais a utilizá-la.
“Ele larga a malhadeira flutuante e coloca iscas. Os peixes-de-bico, como espadarte, são atraídos e apanhados”, explica, assumindo que, hoje em dia, esta prática já está muito mais desenvolvida na Praia do Bebé.
Até o ministro da Agricultura, António Francisco de Assis, quando ainda respondia pelo pelouro das Pescas, visitou a localidade onde reuniu com as autoridades tradicionais para sensibilizar os armadores que evitassem capturar essas espécies.
Por outro lado, José Gomes da Silva lamenta a reação violenta dos pescadores da Praia do Bebé, recordando já terem realizado uma manifestação com facas e catanas contra uma brigada de fiscalização.
Esse comportamento obrigou à mudança de estratégia: “A nossa patrulha vai ao mar e então apanhamos as artes de pesca”, elucidou o interlocutor.
Aproveitou ainda a oportunidade para esclarecer que os pescadores da Praia do Bebé podem capturar peixe grosso, como garoupa ou corvina, como já faziam, menos peixes-de-bico porque é proibido. JH/CRB