Luanda - Os efeitos negativos da guerra entre Rússia e Ucrânia no continente africano serão reduzidos até final do primeiro semestre deste ano, disse hoje à ANGOP a Comissária para a Economia Rural e Agricultura da União Africana (UA), Josefa Correia Sacko.
No Aeroporto 4 de Fevereiro, de partida para a Etiópia, sede da UA, Josefa Sacko disse que a União Africana está a trabalhar com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e recebeu já 1,5 mil milhões de dólares, em Maio de 2022, para financiar a produção de cereais no continente e os resultados serão visíveis até final do primeiro semestre de 2023.
“Para mitigar os efeitos da guerra Rússia/ Ucrânia, estamos a trabalhar, a nível da UA, com o BAD, numa iniciativa que foi aprovada pelo presidente da UA, Macky Sall. É um plano de emergência para produção de cereais que está em vigor e os países já começaram a beneficiar-se”, detalhou a comissária.
Além desse financiamento do BAD, a responsável disse que a UA recebeu um apoio do Banco Mundial (BM) no valor de 3,4 mil milhões de dólares, visando o combate as alterações climáticas, sobretudo a seca, e garantir resiliência alimentar - um montante destinado às sub-regiões da África do Leste e África Austral, cujos projectos vão ser monitorados pela União Africana.
Explicou que África depende em 30% do trigo produzido pelos dois países em conflito e que tal situação afectou o fornecimento de trigo, óleo de girassol e de milho ao continente, principalmente nos países como Egipto, Argélia, Nigéria, África do Sul, Sudão, Tanzânia e Quénia.
Para além da escassez de alimentos, referiu que a guerra entre aqueles países pode provocar também distúrbios socio-económicos como manifestações no continente africano, devido à subida dos preços dos produtos alimentares à semelhança do que aconteceu em 2011.
A diplomata explicou que em 2011, quando o preço do trigo subiu, houve revolta da população porque em países africanos há muitas famílias que precisam do pão para o mata-bicho (pequeno almoço), e é um alimento para o nosso sustento, concluiu.
“Nós queremos que a nossa população tenha acesso a esses produtos, porque com a subida do preço do trigo tudo sobe e afecta as famílias, pois já temos índice de pobreza bastante elevados e os salários não acompanham. Portanto, isso traz conflitos nos países, por isso são muito perigosos e temos de tomar medidas”, rematou.
A comissária realçou também que, além do conflito russo-ucraniano, África já sofre com vários choques macro-económicos, alterações climáticas e falta de investimentos.
Salientou ainda que a Covid-19 causou distúrbio no circuito de distribuição, isto é, na cadeia de valores dos cereais, como óleo de girassol e milho que é importado da Rússia e da Ucrânia.
Referindo-se à Agenda 2020/2063, disse que 2010 tinham o plano de acção 2015-2025 de erradicação da fome no continente até 2025, cujos indicadores recebidos de relatórios bienais e anuais do BAD, FAO e UA não são muito satisfatórios.
A angolana Josefa Sacko, também conhecida como Josefa Leonel Correia Sacko, é uma engenheira agrónoma, economista e embaixadora na UA. Já foi Secretária-Geral da Organização Inter-africana do Café durante 13 anos. Em 2017, foi eleita Comissária para a Agricultura e Economia Rural pela União Africana.
União Africana (UA) é a organização internacional composta de 55 países que promove a integração entre os países do continente africano nos mais diferentes aspectos. A UA foi anunciada na Declaração de Sirte em Sirte, Líbia, a 9 de Setembro de 1999. O Bloco foi fundado a 26 de Maio de 2001 em Addis Abeba, Etiópia, e lançado a 9 de Julho de 2002 em Durban, África do Sul e sucessora da Organização da União Africana, criada em 1963.