Luanda - Tradicionais em Angola, o desempenho das modalidades de combate resultaram em conquistas de 36 medalhas de ouro no ano de 2023 e, consequentemente, o hastear da Bandeira da República e o entoar do hino nacional dentro e além fronteira.
Por José Donga e Marcelino Camões, jornalistas da ANGOP
Tidas como disciplinas de menos realce, num universo em que pontificam o futebol, basquetebol e o andebol feminino, as lutas proporcionaram esse momento de esplendor no ano que termina, onde nem tudo foi um “mar de rosas”.
No Ju-jitsu, a Selecção Nacional, em ambos os sexos, conquistou o Campeonato Africano, disputado em Marrakesh (Marrocos), coleccionando 13 medalhas de ouro, uma de prata e duas de bronze.
Para o efeito, estiveram ao serviço do combinado nacional 17 lutadores, com realce para as cinco do sector feminino, com uma de ouro cada, designadamente Rosângela Teixeira (-49 kgs), Ana Vilela (-62 kgs) e Luzimery Garcia (+70 kgs), do estilo fighting.
Contribuíram, igualmente, de ouro ao peito, Elaine Musungo (-69kgs) e Ruthi Baltazar (-52kg), no estilo Ne-Waza.
Os feitos desportivos, no entanto, contrastam com os administrativos e financeiros, deixando um sabor amargo com a ausência da modalidade, no mês de Abril, no Campeonato do Mundo, disputado em Mongólia, por falta de verbas.
A ausência da Selecção Nacional no evento mundial, que movimentou 100 (cem) países, resultou na queda no ranking internacional, baixando de 15ª para 17ª posição.
O judo destacou-se, igualmente, ao longo do ano de 2023 com a conquista, pela primeira vez, no Open Africano, decorrido em Angola, de qualificação aos Jogos Olímpicos de Paris (França), em 2024.
No evento, que teve como palco o Pavilhão Multiusos do Kilamba, na zona da Camama, na capital Luanda, Angola somou 29 medalhas, das quais cinco de ouro, igual número de prata e 19 de bronze.
O ouro foi arrebatado por intermédio de Edmilson Pedro (-66kg), Barros Leonardo (-60kg), More Rodrigues (+78kg), Wilson Afonso (-81kg) e Diassonema Neide (-63kg), com uma medalha cada.
Marcelo Pedro (-60kg), António Candiero (-73kg), Adriano Tchessende (-90kg), Naya Santos (+78kg) e Andreza António (-57kg) ficaram com a prata.
No último lugar do pódio, ou seja, com medalhas de bronze ficaram Júlio Salvador (-60kg), Hélder Miguel, Leonardo André (-66kg), Antunes Vunge (-81 kg), Nega Silva, Manuel Camoni (-90kg), Sílvio Mateus e Dário António (-100 kg).
A nível doméstico, o Campeonato Nacional foi conquistado pela equipa “Judo Elite”, de Talatona (Luanda), em prova disputada na província de Malanje.
A mais nova modalidade, tornada oficial no país apenas em 2021, as Artes Marciais Mistas (MMA), teve desempenho de prestígio em participações internacionais, uma das quais organizada em Angola, pela primeira vez no histórico.
Pode-se mesmo afirmar que o MMA protagonizou "um passo de gigante" com a conquista do Campeonato Africano, no pavilhão Multiusos do Kilamba, onde somou 39 medalhas, sendo 18 de ouro, 14 de prata e 7 de bronze.
No conjunto nacional, destacou-se, particularmente, Mário Silva, que contribuiu com uma medalha de ouro na categoria de 61,2 kg.
O lutador, 6° colocado no Campeonato do Mundo do ano passado, onde Angola entrou com a terceira maior força mundial, disputado na Sérvia, precisou de três assaltos para vencer Cedrick Kelenga, da República Democrática do Congo.
Esta modalidade, que junta todas as técnicas das disciplinas de lutas, termina 2023 com a realização de uma Gala internacional de beneficência, onde o atleta Demarte Pena, residente em França, depois de ter estado na África do Sul, apresentou-se pela primeira vez no país.
O lutador angolano derrotou, na noite de dia três do corrente mês, no pavilhão da Cidadela, o sul-africano Roevan de Bee, na categoria de 57 kg e 61 kgs.
Nos restantes quatro combates, William Bombo derrotou Diabanza Lopes, Grosso Lopes superou Manzo Almeida, Georginho Futi ultrapassou Isaac Manuel e Tulunda Daniel venceu Adalberto.
Demarte é o Campeão do Mundo, defendendo as cores da equipa sul-africana “Ares Fighting”, na categoria de peso galo, 57 e 61kg.
Em seu palmarés, o angolano possui 14 vitórias, uma derrota e nenhum empate. De 2011 até 2017 representou a promotora UFC, com um saldo de 11 combates e igual número de vitórias.
O ano de 2023 termina com um convite por parte da Federação Internacional de MMA para Angola organizar o Campeonato do Mundo, em 2026, durante a 13ª Assembleia Ordinária, realizada em Novembro, na Albânia.
Para tal, o Ministério da Juventude e Desportos terá ainda de responder positivamente ao convite do órgão internacional e depois arregimentar uma série de condições para merecer a vaga para a qual concorrem também a China e os EUA.
O karaté teve em 2023 um contributo modesto, passando apenas pela realização das competições previstas para a época, ao contrário do boxe que protagonizou (protagoniza) um episódio administrativo que macula a modalidade e a remete à uma inércia total.
Após as eleições que reconduziram Carlos Luís na federação para o quadriénio que termina já em 2024, o pleito foi contestado pelo concorrente Simão Muanda, alegando afastamento à margem da lei da corrida ao cargo de presidente de direcção.
O episódio tomou proporções alarmantes, de tal modo, que após a tomada de posse de Carlos Luís, o Ministério da Juventude e Desportos não o reconheceu como legítimo, por conta das alegadas irregularidades no processo eleitoral.
Caricato é que a situação pareceu evoluir com a convocação de outro acto eleitoral em que o antigo praticante, Simão Muanza, concorreu e venceu em lista única, com o beneplácito ministerial.
No entanto, os amantes do desporto e do boxe em particular foram surpreendidos com uma autorização judicial para que Carlos Luís voltasse ao posto de presidente de direcção, não sendo reconhecida a vitória de Muanda.
Tudo isso, tem resultado na letargia da modalidade nos últimos anos, em contraste com a dinâmica de outros tempos.
O boxe vive os piores momentos, marcando negativamente o desporto nacional em 48 anos de existência. JAD/MC/VM