Luanda - O antigo internacional angolano Osvaldo Saturnino de Oliveira “Jesus” mostrou-se optimista quanto a uma prestação africana positiva no mundial de futebol do Qatar2022, tendo atribuído maior chance ao Senegal.
Em declarações à ANGOP a propósito da copa que inicia a 20 deste mês, Jesus foi peremptório a afirmar que África tem estado a crescer, fruto da experiência e competitividade nos últimos anos, pelo que não seria de estranhar caso um dos seus representantes fosse além dos quartos-de-final, etapa alcançada pelo continente em três ocasiões.
No entender do ex-goleador do Petro de Luanda, a diferença hoje entre jogadores africanos e de outras partes do mundo é mínima, pois há muitos atletas deste continente a exibirem-se, sobretudo, na Europa e América que têm dado boa conta de si e figuram entre os melhores nas competições em que estão inseridos.
Considera estar-se já num patamar próximo da maior parte dos praticantes que, de forma geral, demonstravam, no passado, grande vantagem em relação aos africanos em alta competição, mas aponta para a necessidade de maior concentração e se encarar os adversários de forma directa e objectiva.
“Daí crer que, diminuída a diferença, ou fosso, entre jogadores europeus e africanos, estamos em condições de fazermos o nosso melhor e quiçá chegar mais longe do que os quartos”, disse o antigo craque e melhor marcador do campeonato nacional de futebol “Girabola” nas épocas de 1982 (21 golos), 1984 (22 golos) e 1985 (19 golos).
Em relação ao favoritismo que atribui ao Senegal, apontou ser um conjunto cujos jogadores apresentam, no geral, potencialidades, capazes de ombrear com os demais, augurando que se qualifique às meias-finais.
“Estão nas melhores ligas do mundo e acredito que será a grande surpresa de África, sem desprimor às outras selecções”, argumentou, numa clara alusão a estrelas como Idrissa Gueye (Everton da Inglaterra), Cheikou Kouyaté (Nottingham Forest), Kalidou Koulibay (Chelsea), Bamba Dieng (Marselha da França), Pape Abou Cissé (Olympiacos da Grécia) e o experiente guarda-redes Edouard Mendy (Chelsea da Inglaterra).
Apesar disto, refere, as restantes quatro selecções têm também argumentos para fazer o melhor e dignificar o continente.
Além do Senegal, Camarões, Ghana, Marrocos e Tunísia participam, de 20 deste mês a 18 de Dezembro, na copa do Qatar, a primeira na região do Médio Oriente.
No decurso da conversa, Jesus, de 66 anos de idade, abordou, entre outros, aspectos ligados a estreia de Angola em copas (Alemanha2006), afirmando ter sido feito valoroso, resultante de um período bom do futebol nacional em que houve, acima de tudo, organização e interacção entre dirigentes e os diferentes níveis de equipas técnicas, desde as camadas sub-15, sub-17, sub-20, sub-23 aos seniores.
Instado sobre as tentativas anteriores dos “Palancas Negras”, o entrevistado viveu momentos de nostalgia ao recordar o tempo em que defrontou selecções como Camarões, Nigéria, República Democrática do Congo (RDC), Gabão, República do Congo, entre outras, sem esquecer a célebre eliminatória diante da Argélia, com empate sem golos na primeira “mão”, em Luanda, e derrota, por 2-3, na segunda, em Argel, referente às qualificativas para o Mundial do México 1986.
“Trememos aqui, em casa, aonde empatamos a zero, e fomos lá realizar um grande jogo, durante o qual estávamos a perder (0-2). Chegamos a empatar (2-2) perto do fim e se ficasse assim passávamos, mas eles marcaram o terceiro e a nos foi anulado um golo, que permitiria empatar a três”, lamentou, afirmando ter sido realmente uma pena.
Segundo Jesus, a equipa ficou convencida de que poderia ter passado e na verdade restam saudades deste jogo.
“Queríamos demonstrar a todas as grandes selecções que afinal de contas também tínhamos valor, tínhamos os nossos craques”, sublinhou, citando colegas da era como Ndunguidi, Lufemba e Maluca.
Infelizmente, disse, na altura os dirigentes desportivos do país tinham pouco peso e não sabiam como tentar “equilibrar a balança”.
No entender do ponta-de-lança, Angola esteve muito próximo de um apuramento, não fosse o golo anulado, embora a partida fosse referente à segunda ronda de qualificação e havia pela frente outras duas etapas para chegar à copa do mundo.
No jogo em causa, os golos da selecção nacional foram anotados por Makueria, aos 78 minutos, e Ndunguidi (83’), ao passo que pela Argélia marcaram Mansouri (14’), Menad (42’) e Bouiche (87’). Os argelinos conseguiram o apuramento e, juntamente com o Marrocos, representaram África no mundial do México 1986.
Por outro, o antigo internacional falou ainda dos principais ganhos da África do Sul com a organização do mundial de 2010, com realce para o elevar da imagem do país e do continente, sobretudo na verte do turismo, aumento e consolidação de infra-estruturas desportivas e não só.
Natural de Luanda, Jesus representou o Petro durante mais de uma década, tendo conquistado cinco campeonatos nacionais como atleta e um na condição de treinador. Teve passagem pelo futebol português, onde representou as formações do Varzim e Oliveirense. Ao serviço da selecção nacional conta 18 golos em 48 internacionalizações.