Paris (Do enviado especial) – A angolana Juliana Moko é uma atleta paralímpica que tem conquistado espaço no cenário desportivo nacional e internacional, sendo a sua participação nos Jogos Paralímpicos de Paris2024 exemplo de resiliência e de esperança para milhões de pessoas na sua condição.
Marcelino Camões, Jornalista da ANGOP
Nascida com deficiência visual total (classe T11), no dia 20 de Julho de 2000 (24 anos), no município do Cubal, província de Benguela, Juliana encontrou no desporto uma maneira de se expressar e de superar desafios.
Desde 2015 que se dedica ao atletismo adaptado, como contou à ANGOP em Paris, foi convidada pelo técnico João Gomes (professor na escola de ensino especial) e a reacção foi de incredulidade. Afinal, como uma visual poderia correr?
Recebeu a devida explicação do “mister” de que sim, era possível por via de um atleta-guia, ligados a uma fita (corda), e então decidiu tentar para não mais parar, a tal ponto que considera hoje o desporto “tábua de salvação” pelos desafios que representa.
Outra meta na vida desta especialista em velocidade é a formação académica. A estudante da escola de ensino especial de Benguela frequenta um duplo ano lectivo, ou seja, estuda dois módulos ou duas classes (8ª e 9ª) perseguindo o “sonho” de ser professora.
Diferente da maioria das pessoas na sua condição, diz nunca ter sido estigmatizada por conta da sua condição, alias, considera-se igual a qualquer ser humano que enfrenta dificuldades na vida e que corre em busca dos seus objectivos.
A sua carreira desportiva, iniciada em 2015, não demorou para “decolar”. Prematuramente, em 2016, conquistou o primeiro título nacional na Taça José Sayovo, seguindo-se a outras tantas conquistas que a catapultaram para a selecção e para o mundo da elite do desporto adaptado africano e mundial.
“Quando fui convocada pelo mister José Manuel, chorei, porque nunca pensei estar ao lado de atletas de nível internacional. No meeting internacional, disputado no Botswana, venci três medalhas de bronze, as primeiras das muitas que vieram depois”, disse.
Além de suas conquistas desportivas, Juliana Moko, que se inspira em Jerusa Geber (brasileira) e em José Sayovo (angolano), também é conhecida por seu activismo em prol dos direitos das pessoas com deficiência no país.
Ela defende a inclusão e o acesso ao desporto para todos, independentemente da condição social, física ou crenças religiosas.
Sua voz ecoa nas comunidades, na escola que frequenta, promovendo mudanças para que pessoas com deficiência tenham oportunidades iguais.
A presença de Juliana Moko nos Jogos Paralímpicos de 2024, que encerram este domingo, em Paris é, sem dúvida, um grande orgulho para Angola, nove anos depois do início de uma "procissão que ainda vai no adro".
A velocista visual protagonizou um duplo feito na capital francesa ao bater o recorde nacional nos 100 e 200 metros, que pertenciam, também, a uma única atleta, Esperança Gicaso, já fora das pistas.
Nos 100m cronometrou o tempo de 12.51, o anterior recorde nacional era de 12.61, batido por Gicaso nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
Nos 200m, obteve a marca de 26.28, contra 26.67 da compatriota, estabelecida também no Rio de Janeiro2016, cumprindo com o objectivo a que se propôs o Comité Paralímpico Angolano, que aposta no pódio apenas nos jogos de Los Angeles, em 2028.
Apesar dos resultados reconhecidamente positivos, se comparado o nível e qualidade de treino das adversárias (disputou as meias-finais nos 100 e 200m, além dos oitavos nos 400m), Juliana Moko acha que podia fazer melhor se as condições de trabalho fossem outras.
Ela disse que se preparou dedicadamente, porque depois de ter estado na edição de Tóquio em 2020, desta vez, queria conquistar uma medalha para justificar as presenças na selecção. “Dei tudo para medalhar e mostrar ao mister José Manuel que vale continuar a apostar em mim”.
A dupla recordista nacional revela que, em seus mais íntimos pensamentos, equacionou a hipótese de abandonar o desporto, caso não cumprisse com o objectivo de superar as marcas pessoais. “Se não consigo evoluir no desporto, é melhor dedicar-me inteiramente aos estudos”.
No entanto, a corredora mais rápida de Angola (100 e 200m) promete pódio na 18ª edição dos Jogos Paralímpicos em 2028, em Los Angeles, EUA.
Na altura já terá 28 anos de idade, esperando-se que com experiência suficiente para concretizar tal desiderato.
Resultados em nove anos de Carreira
2016 – Conquistou a Taça José Sayovo
2016 – Três medalhas de bronze no Meeting Internacional no Botswana
2018 - Conquistou o campeonato nacional nos 100, 200 e 400m
2018 - Medalha de bronze nos Jogos da SADC (Botswana) nas três especialidades
2019 - Venceu o campeonato nacional nas tres especialidades
2019 - Conquistou a medalha de ouro nos 100m, prata nos 200m e bronze nos 400m
no Meentig Internacional da Tunísia
2020 - Campeonato do mundo do Dubai - não medalhou
2021- Tricampeã nacional
2021 - Jogos paralímpicos de Tóquio – oitava posição nos 100 e 200m. Nona posição nos 400m
2022 - Tricampeã nacional
2022 – Medalha de prata nos 100 e 200m e bronze nos 400m no Meentig Internacional de Marrocos
2023 - Tricampeã nacional
2023 - Medalha de ouro nos 400m, prata nos 100 e 200m no Meentig Internacional da Tunísia
2023 - Medalha de prata nos 100 e 200m, bronze nos 400 no Meentig Internacional de Marrocos
2023 - Campeonato do mundo de Paris - não medalhou
2024 - Jogos Paralímpicos de Paris - meias-finais e recorde nacional nos 100 e 200m. MC/ADR