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Futebol - Seleccionador de Angola de besta a bestial   

     Desporto              
  • Luanda • Domingo, 27 Outubro de 2024 | 15h14
Pedro Gonçalves inconformado com empate
Pedro Gonçalves inconformado com empate
Nelson Malamba

Luanda – Fruto do excelente desempenho da Selecção Nacional de Futebol de Angola - Palancas Negras - nos últimos tempos, o treinador Pedro Gonçalves é hoje justamente reverenciado pelos amantes da modalidade, depois de um percurso difícil, iniciado em 2019, em que foi alvo de muitas críticas.

Por Marcelino Camões, jornalista da ANGOP 

 A alternância de resultados positivos e negativos que os Palancas Negras vinham obtendo desde que o técnico português assumiu a liderança da selecção levou muitos aficionados do futebol, e não só, a sugerirem o seu afastamento.

 Comentaristas, antigos jogadores, adeptos, até mesmo colegas de profissão pediam a sua cabeça, mas, para espanto dos críticos, a Federação Angolana de Futebol (FAF) teve a serenidade necessária e manteve o técnico em funções.

Os autores da pressão para a demissão do selecionador nacional nem sequer tiveram em conta os constrangimentos financeiros da FAF, que fizeram com que Pedro Gonçalves e sua equipa técnica ficassem sem salários durante mais de oito meses, resistindo, e não accionando a cláusula de rescisão contratual.    

 Embora sob intensas críticas, o treinador foi sempre coerente no seu discurso e fiel aos seus princípios, mostrando-se disponível a explicar-se/justificar-se quando necessário. 

 Um resultado menos conseguido, uma substituição ou uma ausência em determinada convocatória intensificavam a controvérsia, até que os resultados em campo começaram a demonstrar a sua capacidade de liderança e profissionalismo. 

 Trajectória 

Pedro Gonçalves iniciou a sua jornada em Angola na escola de formação do 1.º de Agosto, onde foi resgatado pela FAF em 2018, para assumir o posto de seleccionador nacional de Sub-17. 

 No mesmo ano, Angola conquistou a Taça Cosafa e, de forma inédita, qualificou-se para o Campeonato do Mundo da categoria em 2019. O timoneiro teve igualmente passagens pelas selecções de Sub-20 e Sub-23. 

 Apesar da boa prestação nos escalões inferiores, os problemas agudizaram-se quando assumiu a selecção AA, em 2019, na altura desacreditada pelo baixo posicionamento no ranking continental e insucessos nos campeonatos africanos. 

 O antigo treinador da Academia do Sporting de Portugal trabalhou para a ressurreição do futebol nacional de tal modo que no ranking da FIFA, actualizado quinta-feira (24), Angola subiu três lugares, ocupando agora a 82ª posição, com 1.298 pontos.

Até 2023, note-se, os Palancas Negras ocupavam a modesta 117ª posição. 

 Depois do título na Taça Cosafa, o treinador continua a protagonizar feitos marcantes. No dia 15 deste mês, Angola garantiu a presença consecutiva, agora de forma antecipada, no CAN`2025, em Marrocos, após vitória sobre o Níger (1-0) na 4ª jornada do Grupo F. 

 A evolução dos Palancas Negras começou a notar-se no CAN`2023, em que teve um brilhante desempenho, com resultados nunca antes vistos. 

 Na fase inicial daquele torneio, decorrido em cinco cidades da Côte d’Ivoire, Angola esteve enquadrada no grupo D, com sede em Bouaké, e terminou essa fase com inédita liderança de sete pontos, resultantes de vitórias com a Mauritânia (3-2) e Burkina Faso (2-0) e empate com a Argélia (1-1).

 Com a participação de 24 países, contra os habituais 16, Angola chegou aos quartos-de-final, onde perdeu por 0-1 com a Nigéria, apesar de ter efetuado uma boa exibição.

 Na presente eliminatória para o CAN de Marrocos, a disputar de 21 de Dezembro de 2025 a 18 de Janeiro de 2026, Angola apenas vai cumprir calendário nos dois últimos jogos, nos dias 11 de Novembro contra o Ghana, em Luanda, e 15 do mesmo mês com o Sudão, em território sudanês.

 O sucesso do futebol nacional derivou, em grande parte, da estratégia de Pedro Gonçalves de mobilizar jogadores angolanos na diáspora para o projecto, decisão fortemente repudiada por muitos, mas também aplaudida por outros tantos. 

 Há quem considere que por falta de credibilidade e de confiança na FAF, tem sido difícil convencer jogadores a representarem Angola, mas muitos se têm disponibilizado a representar a selecção fruto dos argumentos do seleccionador nacional.

Hélder Costa, actualmente no GD Estoril de Portugal, foi dos primeiros desta nova era dos Palancas Negras a aceitar o convite para representar a sua pátria, num momento em que muito poucos se dispunham a fazê-lo. 

Com uma carreira notável em clubes como o Benfica, Valência, Leeds United, este atacante abriu portas para que outros jogadores de descendência angolana seguissem igual caminho.   

 De resto, a história regista nomes como do capitão Fredy (Eyupspor da Turquia), Jonas Ramalho (Al-Ahli Club – Bahrein), Jonathan Buatu (Gil Vicente FC –Portugal), Jordy Gaspar (Pau FC – França) e Núrio Fortuna (KAA Gent – Bélgica). 

 Seguiram o exemplo, entre outros, Maestro (Adana Demirspor – Turquia), Domingos Andrade (Felgueiras FC – Portugal), Chico Banza (Anorthosis Famagusta – Grécia), Elliot Simões (Al Qaisumah FC – Arábia Saudita), Jeremie Bela (Clermont Foot – França), David Carmo (Olympiacos – Grécia) e Milson (MaccabiTel Aviv – Israel).

Contra as expectativas de uns quantos descrentes, estes activos conferiram qualidade e personalidade à equipa nacional, juntamente com outros actualmente a jogarem no exterior e na primeira divisão nacional “Girabola”. 

Entre os que actuam na diáspora temos os casos de Gelson Dala (Al-Wakrah do Qatar), Mabululu (Al-Ittihad Alexandria), Zine (Levadiakos da Grécia), Depú (do GilVicente de Portugal), Zito Luvumbo (Cagliari de Itália), Bastos Quissanga (Botafogo do Brasil), Kialonda Gaspar (Lecce/Itália) e Pedro Bondo (Petro de Luanda), entre outros, enquanto os do Girabola o destaque recai para o guarda-redes Neblú. 

Hoje, os Palancas Negras recuperaram o prestígio junto dos adeptos e, sobretudo, da comunidade africana e mundial, estando já cotados entre os melhores, segundo publicações em sítios e jornais especializados.

Desde o início deste ano (2024), incluindo os jogos do CAN decorrido na Côte d`Ivoire, Angola obteve 12 vitórias em 16 jogos, sendo considerada a selecção com maior número de triunfos no mundo, neste período.

Pedro Gonçalves, que concorre ao prémio da CAF de melhor treinador masculino de 2024, tornou-se no técnico de futebol mais querido no país, a par de Oliveira Gonçalves, que levou Angola ao Mundial de 2006, na Alemanha, e com quem disputa o recorde de triunfos à frente do conjunto nacional. 

No total à frente dos Palancas Negras, Pedro Gonçalves realizou 56 jogos, venceu 28, empatou 19 e perdeu 12. Angola marcou 74 golos e sofreu 45. Na sua vigência, Angola conquistou um CHAN.

Já o treinador angolano Oliveira Gonçalves somou 58 jogos como técnico da Selecção Nacional, 24 vitórias, 18 empates e 16 derrotas. 

Sob sua liderança o combinado nacional marcou 86 golos, consentiu 67, além levar o país a um Mundial (Alemanha 2006) e ao CAN de 2008, no Ghana. 

Pelo que tem feito em prol da valorização do futebol nacional, Pedro Gonçalves é hoje largamente aclamado, sendo crível que, pelo descrédito inicial sobre a sua competência, haja amantes do futebol a pedirem desculpas, ainda que  individualmente. 

Apesar do sucesso actual, é importante que a FAF afine a sua máquina organizativa, tendo como paradigma princípios de boa gestão, transparência, cumprimento em tempo útil das cláusulas contratuais com os técnicos, atletas e outros integrantes, evitando ruídos que prejudiquem o antes, durante e pós participação em qualquer prova. 

Neste aspecto, torna-se imperativo respeitar os profissionais, proporcionando-os viagens, hospedagem, estadia e remuneração condignas, num binómio exigência de bons resultados e condições condignas. 

Procedendo assim, jogar por Angola, defender a Bandeira da República torna-se atractivo e apetecível para qualquer futebolista, principalmente os que jogam na diáspora, não sendo necessária a advocacia do treinador, como vem sendo hábito.

Pelos recentes feitos dos Palancas Negras, temos que admitir que afinal não foi por incompetência técnica que Angola mostrou uma imagem pálida futebolisticamente num passado recente.

A boa performance de Angola actualmente alimenta o sonho de muitos angolanos de que a conquista de um CAN é possível e uma questão de tempo, o que, a concretizar-se constituiria um orgulho nacional. MC/ADR





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