Envolto em "tabus" - fisiculturismo procura evolução em Angola

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  • Luanda • Terça, 08 Novembro de 2022 | 08h04
Presidente da Federação Angolana de Fisiculturismo e Fitness, Bráulio Martins
Presidente da Federação Angolana de Fisiculturismo e Fitness, Bráulio Martins
Francisco Miúdo

Luanda - O fisiculturismo é secular no mundo, mas em Angola está ainda longe de atingir o nível de massificação e desenvolvimento pretendido, numa era de persistentes "tabus" quanto ao género do praticante.

A transfiguração do corpo feminino, de acordo com a especialidade de opção, é um dos factores de rejeição por parte de quem não percebe que a paixão pelo desporto é transcendental aos preconceitos impostos pelas sociedades.

Pais, irmãos, esposos e até amigos têm sido responsáveis pela fraca adesão a este desporto entre as mulheres, sector cujo futuro aponta para a mudança de paradigma com a recente constituição da Federação Angolana de Fisiculturismo e Fitness (FAFITNESS).

Praticado em Angola desde o período anterior a independência nacional (1975), este tipo de desporto pluralista, pois abarca todas as idades, tem sido até então desenvolvido por menos de 200 atletas. Deste número, um número reduzido é do sexo feminino, por conta dos factores enumerados.

Na senda da recente tomada de posse do elenco da primeira federação nacional no país, a ANGOP abordou o presidente eleito, Bráulio Martins, numa entrevista onde pontualiza, entre outras acções, o plano de desenvolvimento e os caminhos para a sua efectivação.       

Actualmente, a modalidade é praticada nas províncias de Luanda, Malanje e Lunda Sul, sendo pretensão dos seus promotores e praticantes a criação de mais quatro associações no Cuanza Norte, Namibe, Benguela e Cuando Cubango, num processo sequencial até abranger as 18 províncias de Angola.

Na óptica da fonte, a criação das associações é o caminho para a massificação, num país com atletas talentosos, pelo histórico de participações Internacionais com subidas ao pódio.

O líder do órgão reitor afirmou que será feita aposta na organização de campeonatos provinciais e nacionais em todos os calões, para em seguida criar-se uma hierarquia de competições a nível internacional, por meritocrácia.

“O objectivo é criar gosto para o aumento do número de praticantes (em ambos os sexos)”, frisou, explicando que a modalidade também cria fontes de rendimentos directos e indirectos.

Referiu que ao longo dos anos foram criados vários postos de trabalho e exemplificou o caso dos instrutores físicos (personal trainers), que teve um crescimento exponencial.

Outras valências extra-desportivas foram apontadas, designadamente, retirar jovens atletas de actividades nocivas à sociedade, prevenção da saúde, com realce às pessoas que sofreram acidentes cardiovasculares e outras doenças de carácter físico.

O antigo presidente da Associação de Luanda confirmou que estão controlados perto de 200 praticantes em Angola, sendo o sector feminino um dos problemas da actualidade, por questões culturais.

De acordo com Bráulio Martins, a classe feminina em Angola também é servida com bastantes talentos, mas encontra factores impeditivos devido a sociedade ainda conservadora.

Apesar da escassez de praticantes, Angola possui atletas de enorme valia dentro e fora do país, como Valdira Kaiser, esperando-se que inspire outras senhoras a abraçarem a modalidade.

Para ele, os trajes com que se apresentam as atletas (biquíni), embora sejam clássicos, tem sido motivo de desacordo entre as praticantes e familiares.

Por isso, Bráulio Martins defende trabalho de consciencialização até ao nível do próprio espectador que demonstra não estar preparado quando faz comentários que desmotivam as atletas e em alguns casos durante as competições, o que está na origem de algumas desistências.

O profissionalismo é outra meta a alcançar, mas o caminho é ainda longo devido aos elevados custos como a montagem de ginásios oficiais cujo material é importado, a manutenção da saúde do atleta e a compra de suplementos, entre outros gastos inerentes.

No projecto de massificação ter-se-á em conta o factor genético, ou seja, será dada atenção às pessoas privilegiadas fisicamente, segundo a fonte.

Considerou que, agora, com a constituição da federação os indicadores apontam para uma maior disposição de apoio por parte do ministério de tutela, depois de um período de mais de dez anos de promoção da modalidade com meios próprios e positivos em competições internacionais.
 
Disse que a resiliência dos fazedores deste desporto permitiu a realização de um Campeonato Africano no país em 2021, com recurso a patrocínios e apoio institucional do Ministério da Juventude e Desportos.

Quanto à população praticante afirmou ser o fisiculturismo pluralista, por abranger todas as idades e contar até com a categoria master em que o atleta pode ter além dos 70 anos de idade.

Indicou que em Angola a modalidade está mais virada para um público dos 20 aos 40 anos e o campeão do mundo da categoria, Pedro Pereira “Pitcho”, é um angolano que conquistou o título em prova disputada em Portugal, no ano passado.

O presidente da mais nova federação desportiva anunciou a realização, em Setembro de 2023 do concurso Mister Universo África, cuja licença de organização já foi cedida à Angola pela Federação Internacional de Fisiculturismo e Fitness (IFBB).





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