Luanda – O Dia Nacional do Desporto em Angola, instituído a 23 de Janeiro de 1980, assinala-se esta quinta-feira sob o signo de factor de integração, desenvolvimento humano e melhoria do bem-estar social.
Por Ventura Bengo, jornalista da ANGOP
A institucionalização do dia pelo Estado Angolano é sinal de reconhecimento do inegável papel que o desporto assume na sociedade, seu impacto na saúde, na inclusão social e na união do país.
A decisão, tomada alguns anos após a proclamação da Independência Nacional, em 11 de Novembro 1975, pelo falecido Presidente António Agostinho Neto, foi a demonstração da vontade do Estado então acabado de nascer de reorganizar o país em todos os domínios, incluindo o do desporto, que em Angola tem uma história rica, com conquistas internacionais em várias modalidades, sendo um motor de progresso e de inspiração para as novas gerações.
Este ano, as comemorações do Dia Nacional do Desporto inserem nas celebrações dos 50 anos da Independência Nacional, a assinalarem-se a 11 de Novembro próximo.
A efeméride está a ser celebrada com a realização de diversas actividades em todo o país, com realce para a Marcha do Desporto em cinco (5) quilómetros e o Festival Infanto-juvenil, no pavilhão Arena do Kilamba, em Luanda.
O dia Nacional do Desporto foi institucionalizado por ocasião da criação das primeiras Comissões Instaladoras, que deram origem à constituição das diversas federações desportivas nacionais e respectivas filiais, numa orientação do então secretário de Estado de Educação Física e Desportos, Rui Mingas, que faleceu em 2024.
O processo desencadeou-se em todas as províncias, tendo esse movimento de reestruturação contribuindo para impulsionar o desporto, atribuindo-lhe mais valor e dimensão nacional.
Desporto como direito do povo Nesta senda, cumpriram-se os princípios segundos os quais o desporto um direito do povo, daí a necessidade da sua massificação por todas as províncias do país, com a reactivação e o surgimento de novos clubes e outras agremiações, que capitalizaram as actividades desta área social, com realce para o Progresso Associação Sambizanga (1975), 1.º de Agosto (1977) e Petro de Luanda (1980), entre outros.
Estavam assim lançadas as directrizes e bases para grandes realizações e conquistas internacionais para o país, como, por exemplo, a organização dos II Jogos da África Central, CANs de futebol e andebol, Afrobaskets, Campeonato do Mundo de hóquei em patins, Mundial de pesca, torneios pré-olímpicos, entre outras competições, que projectaram uma boa imagem de Angola para o exterior.
Das conquistas, realce para o campeonato africano em sub-20, o basquetebol, andebol, os mundiais e olímpicos, estes últimos por parte da Selecção Nacional de futebol com muletas e do atleta paralímpico invisual Armando José Sayovo, que superou na concorrência representantes de países mais desenvolvidos da América, Europa e Ásia.
Mais recentemente, o país obteve novos triunfos em provas internacionais, sobretudo nos desportos de lutas, merecendo o reconhecimento mundial, para gáudio dos praticantes e da população angolana.
Passado, novas políticas desportivas e acções estratégicas Historicamente, até à obtenção da sua independência, Angola era, desportivamente, o reflexo e o prolongamento da situação vivida na Metrópole (Portugal): uma infra-estrutura claramente insuficiente, número baixíssimo de praticantes e fracas prestações nas competições internacionais.
Depois da independência, o sistema desportivo foi radicalmente diferente na sua essência e conteúdos: as duas grandes linhas de força do desenvolvimento desportivo, em que o Estado se empenhava directa e activamente, foram a massificação desportiva e a participação dos agentes desportivos na conceptualização e organização do sistema desportivo.
A política de intervenção no movimento associativo traduziu-se na criação do Comité Olímpico e das Federações, bem como na formação de grande número de novos clubes, particularmente de futebol.
Vários factores, como a guerra, dificultaram a obtenção dos objectivos fixados, mas, no essencial, a política desportiva do Governo de Angola assentou nas estratégias que assegurariam, a curto e médio prazo, o desenvolvimento sustentável de um desporto com consistência programática, apostado na diversificação e no crescimento das modalidades e dos praticantes.
A modalidade mais popular em Angola é o futebol, seguido do basquetebol, andebol e o hóquei em patins, sendo as principais equipas emblemáticas o 1.º de Agosto, o Petro de Luanda, o Libolo, o Kabuscorp, o Sagrada Esperança, o ASA, o Interclube, o 1.º de Maio de Benguela, o Nacional de Benguela e o Mambroa do Huambo.
Os grandes eventos desportivos organizados por Angola foram a realização do Campeonato Africano de futebol (CAN), em 2010, Afrobasquets e CAN de andebol.
No entanto, o grande feito do país foi a participação da Selecção Nacional de futebol no Campeonato do Mundo, disputado na Alemanha, em 2006.
Os principais feitos foram obtidos após o alcance da paz, em 2002, pois, a partir desta altura o país passou a ter condições para fazer grandes investimentos, construindo infra-estruturas, como estádios, pavilhões multiusos, formação de atletas, treinadores, dirigentes e outros agentes desportivos.
O investimento na formação propiciou a ocupação de cargos directivos em organismos e por quadros desportivos angolanos.
Programação e perspectivas (Planadesporto2024/2027)
Actualmente, está em curso o Planadesporto, que visa fortalecer as infra-estruturas desportivas através de investimento público, estabelecer parcerias com o sector privado para alavancar a indústria desportiva e criar oportunidades de negócios e empregos, de modo a reduzir a intervenção do Estado.
O Decreto Presidencial que aprova o Planadesporto 2024-2027 foi apreciado e 30 de Agosto de 2024, durante a 8ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros (CM), orientada pelo Presidente da República, João Lourenço.
O Planadesporto, alinhado ao Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN), vai contribuir para a materialização do Programa da Generalização da Prática Desportiva e Melhoria do Desporto de Alto Rendimento, que tem como finalidade o fomento da prática desportiva, aumento dos níveis de participação e qualidade dos praticantes no desporto escolar e comunitário, entre outras acções.
Segundo o ministro da Juventude e Desportos, Rui Falcão, em declarações à imprensa no final da reunião do CM, o Planadesporto2024-2027 é um instrumento abrangente que trata, além das infra-estruturas desportivas, da medicina desportiva e da formação de quadros necessários para o desenvolvimento do sector.
Para Rui Falcão, o Planadesporto é importante para a melhoria dos índices de competição interna nas várias modalidades, que, por sua vez, vão permitir catapultar os atletas para outros resultados o nível do desporto de alto rendimento.
“Nada disto será possível se não tivermos quadros necessários, se, paralelamente a isso, não tivermos uma medicina do desporto que responda às necessidades da prática desportiva e, concomitantemente, os recursos necessários”, alertou o dirigente. Por outro lado, o ministro da Juventude e Desportos manifestou o desejo de criar nas escolas infra-estruturas necessárias para que a actividade física seja feita com alguma qualidade. “Este é um projecto ambicioso.
Temos que trabalhar e recuperar as infra-estruturas e criar outras”, disse Rui Falcão, lembrando que foram construídas no país milhares escolas, nos últimos seis anos, que precisam de ser apetrechadas com equipamento desportivo para que as crianças pratiquem actividade física.
Rui Falcão reconheceu que a melhoria dos níveis de actividade no seio do desporto escolar passa por um trabalho de coordenação entre os ministérios da Educação e da Juventude e Desportos.
“Este ano, estamos a preparar a base para esse lançamento, preparando os quadros que depois farão a formação, a generalização da formação necessária. Mas, grosso modo, a actividade vai ser realizada entre 2025 e 2026”, acrescentou Sobre o órgão reitor, suas estruturas e funcionalidade O Ministério da Juventude e Desportos (MINJUD) é o departamento govermamental da República de Angola responsável pelas áreas da juventude e do desporto.
Trabalha para construir uma política nacional de desporto. Além de desenvolver o desporto de alto rendimento, o ministério trabalha em acções de inclusão social por meio do desporto, garantindo à população angolana o acesso gratuito à prática desportiva, à qualidade de vida e ao desenvolvimento humano.
Igualmente, MINJUD estabelece e executa os princípios e as directrizes das políticas públicas da juventude.
Histórico da sua criação O Ministério da Juventude e Desportos tem suas raízes em 1976, com a criação da Direcção Geral de Educação Física e Desporto (DGEFD), sob supervisão do Ministério da Educação. Foi substituído, em Agosto de 1977, pelo Conselho Superior de Educação Física e Desporto (CSEFD).
A 4 de Julho de 1979, foi criada a Secretaria de Estado para Educação Física e Desporto (SEEFD), em substituição do CSEFD, tornando-se um órgão autónomo.
A instituição teve como secretário de Estado o ex-atleta e músico Rui Mingas, durante 10 anos, um período de pujante desenvolvimento no desporto de Angola.
A Secretaria de Estado para Educação Física e Desporto foi transformada em ministério em 11 de Fevereiro de 1989.
Entidades que ocuparam a pasta dos Desportos
Ao longo da sua existência, a pasta dos desportos teve como titulares 11 personalidades, com a seguinte ordem:
Rui Mingas (1979-1989), Marcolino Moco (1989-1992), Osvaldo Serra Van-Dúnem (1992-1992) Justino Fernandes (1992-1994), José Sardinha de Castro (1994-1999), José Marcos Barrica (1999-2008), Manuel Gonçalves Muandumba (2008-2017), Albino da Conceição (2017-2017), Ana Paula do Sacramento Neto (201-2022), Palmira Barbosa (2022-2024) e Rui Falcão Pinto de Andrade (2024). VAB/SR