Luanda - O desporto angolano despediu-se de um dos seus proeminentes executantes, que após a independência do país, em 1975, teve importantes actuações no Clube 1º de Agosto e na Selecção Nacional de futebol, o guarda-redes Napoleão Alfredo Brandão, falecido, por doença, aos 72 anos de idade, e sepultado, esta quarta-feira, em Luanda.
Numa incursão às modalidades desportivas colectivas, que usam balizas, o guarda-redes é o elemento que não deve falhar na sua actuação. Em caso de cometer erros, corre o risco de permitir a derrota da sua equipa, para o desalento dos companheiros, dirigentes, adeptos e mesmo dos familiares, em casa.
De contrário, o mesmo torna-se uma peça fundamental ou mesmo “herói”, já que permite o êxito generalizado, em que os elogios passam a ser o primeiro prémio do jogador da posição mais recuada, que muitos consideram de “posto ingrato”.
Em relação ao também apelidado de “Ti-Alfredo” ou “Leão”, que teve inicio de carreira no Clube Dinises do Cuanza Norte, ainda no período colonial, sempre evidenciou dotes de um exímio praticante, que o catapultou para a capital do país, em Luanda, em que se evidencia como “homem” das balizas, rivalizando com os demais da sua época.
Após a independência, assinalada em 11 de Novembro de 1975, passou a jogar na equipa do Corpo de Polícia Popular de Angola (CPPA), onde foi um dos fundadores em 1976, em companhia dos seus amigos de infância, João André “Cuca” e “Caixote”.
Posteriormente, fez parte dos atletas fundadores do Interclube, iniciado pelo comandante André Pitra "Petroff", a 28 de Fevereiro de 1976. Em 1977 foi convocado para integrar a selecção "militar", com jogadores oriundos de equipas do Huambo, Huíla, Benguela e Luanda.
Depois de três jogos, o movimento deu origem a equipa profissional do Clube Central das Forças Armadas, o 1.º de Agosto, em que foi tricampeão do Campeonato Nacional de futebol (Girabola), nas edições de 1979, 1980 e 1981. Alternou a baliza com Ângelo da Silva (também em memória) e mais tarde com Alberto Paulo "Capeló".
Na mesma senda, fez parte do primeiro jogo histórico entre Angola e Cuba (1-0), em 1 de Junho de 1977, no Estádio da Cidadela, em Luanda, que também teve as actuações de outras “estrelas” do futebol nacional, como Joaquim Dinis “Brinca N´areia”.
Em 1984, como treinador, conquistou a primeira Taça de Angola para os "militares" numa final que venceram o Sporting de Benguela, por 2-1. Registou passagens como técnico da Eka do Dondo, Mambroa, TAAG, Cambondo de Malanje, Progresso Sambizanga e Sporting de Luanda.
Ao terminar como atleta, integrou o corpo técnico da equipa principal do 1º de Agosto, tendo Ivo Traça, como adjunto. No seu trabalho no clube militar, formou vários guarda-redes, a título de exemplo, Tony Cabaça e Neblú, que além de actuarem em distintas equipas, também representam os Palancas Negras, designação da Selecção Nacional.
O antigo jogador Napoleão Brandão fundou uma escola de futebol, localizada no Zango III, província de Icolo e Bengo, instituição que detém parceria com o 1.º de Agosto.
Ainda sobre as exéquias, manifestações de consternação, dor e luto marcaram o funeral de “Tí-Alfredo”, decorrido no Cemitério da Sant´Ana, em que, a urna, contendo os seus restos mortais, antes velado no Quartel do Exército (ex-RI/20), foi depositada no campo Santo, com às devidas honras, acompanhado de diversas personalidades do país.
Após vários tiros de salvas no ar, feitos por efectivos das Forças Armadas Angolanas (FAA), perfilados no portão do Cemitério, seguiu-se a leitura de uma declaração do organismo militar, da qual Napoleão Brandão foi Coronel na Reforma, depoimento de uma das suas netas, em que realçaram as qualidades e feitos do falecido.
Na presença do presidente de direcção do 1º de Agosto, o General Reformado, Gouveia de Sá Miranda, e demais entidades, antigos companheiros, desportistas, dirigentes, treinadores e populares, o caixão, antes envolvido pela Bandeira da República, foi baixado para a sepultura, sob entoação de cânticos religiosos, orientado por um pastor da igreja.
Ainda do acto, muitos presentes, como familiares, amigos, antigos companheiros e mesmo adversários de outras equipas, foram incapazes de conterem as emoções, manifestando-se em choros e outras expressões nostálgicas.
O ministro da Juventude e Desportos, Rui Falcão, o Chefe de Estado Maior das FAA, o General da Aviação, Altino dos Santos, também renderam homenagem ao Napoleão Brandão, nas instalações do ex-RI20. VAB