Luanda - O Complexo Desportivo da Cidadela, em Luanda, será gerido pela petrolífera angolana (Sonangol), que vai redimensiona-lo e dar melhor utilidade em prol do desenvolvimento, garantiu o ministro da Juventude e Desportos, Rui Falcão.
Para o governante, a decisão do contrato de cedência da infra-estrutura a Sonangol, com um período de 30 anos, deve-se a necessidade da sua reabilitação e servir de forma positiva os interesses dos desportos, numa grande entrevista da Televisão Pública de Angola (TPA).
Em abordagem sobre o “Estado do Desporto Angolano”, além do processo cidadela, em que não detalhou outros pormenores do acordo, o titular do cargo também apontou os passos sobre a implementação do Planadesporto2024/2027, principalmente escolar e nas comunidades, entre outros.
Quanto ao Estádio da Cidadela, mais de 50 lugares, para quem conheceu o passado glorioso daquele que foi o principal palco do futebol angolano, desde os primórdios da independência nacional, em 1975, custa crer que se tenha transformado num "gigante quase adormecido".
Ainda que não se queira aceitar, torna-se doloroso descrever, hoje, a imagem da Cidadela Desportiva, marcada por fissuras e rachaduras, que, de tão acentuadas e perigosas, põem em risco a sobrevivência daquela infra-estrutura desportiva.
Inaugurado em Junho de 1972, o estádio, localizado no distrito do Rangel, em Luanda, apresenta uma imagem interior e exterior que dá dó a todos quanto testemunharam, de perto, ou acompanharam à distância, via rádio e televisão, os maiores "trumunos" (jogos) do nosso futebol.
O seu actual estado de degradação obriga a uma séria reflexão em relação ao futuro. A falta atempada de manutenção dessa infra-estrutura histórica, que nunca chegou a ser concluída, já levou o Governo a ponderar sobre a sua requalificação ou demolição.
Reinaugurado a 10 de Dezembro de 1981, por ocasião do extinto Jogos dos Países da África Central, em que Angola se mostrou ao mundo como uma nação sedenta de desporto, o estádio já sofreu algumas obras de benfeitorias.
Todavia, o projectado Complexo Desportivo nunca chegou a ser concluído, sendo que parte dos edifícios de apartamentos ficou por acabar, durante anos. Na sequência, foram marginalizados e posteriormente interditados.
De igual modo, a piscina olímpica da Cidadela nunca saiu do papel, dando lugar a uma torre em construção, cujo objecto social nunca foi conhecido publicamente.
Em 2006, com Marcos Barrica, então à frente do Ministério da Juventude e Desportos, foi considerada a possibilidade de deitar abaixo o monumento, questão levada a debate na Assembleia Nacional (Parlamento), tendo-se, então, optado pela manutenção.
Nessa altura, por razões de segurança, devido às fissuras registadas nos pilares de sustentação, o segundo anel do campo foi interditado pela Confederação Africana de Futebol (CAF), mantendo-se a situação até aos dias de hoje.
Em Dezembro de 2019, chegou a ser criada uma Comissão Interministerial para estudar e decidir sobre o fim a dar ao imóvel. Mas, ao cabo de cinco meses, continua-se sem se saber os resultados da avaliação técnica e o destino a dar à Cidadela Desportiva.
Desde a primeira tentativa, em 2006, são passados mais de 15 anos, mas não foram observadas as necessárias medidas de preservação, sendo a ideia de implosão novamente levantada pelo Ministério de tutela, então liderado por Ana Paula do Sacramento Neto.
Enquanto se esperam pelos resultados do estudo, algumas "variantes" já podem começar a ser cogitadas, entre os homens do desporto, os políticos e os adeptos do futebol.
Conforme especialistas em construção civil, o actual quadro da Cidadela, construída numa lagoa, decorre da falta de manutenção periódica, situação que se repete com as infra-estruturas erguidas por ocasião do Campeonato Africano (CAN´Angola2010).
É o caso dos Estádios 11 de Novembro (Luanda - capacidade para 50 mil espectadores), Ombaka (Benguela - 35 mil), Tundavala (Huíla - 25 mil) e Chiazi (Cabinda - 20 mil), que passam por tentativas de recuperação, 10 anos depois da sua construção.
Voltando à "catedral" do futebol nacional, desde que foi construída, há mais de 40 anos, e apesar de ter sofrido intervenções paliativas, mantém a sua estrutura de betão inicial, sem revestimento em toda a sua extensão interna e externa.
Por ocasião do CAN2010, em Angola, houve a possibilidade de beneficiar de obras de recuperação, mas, no final, venceu a ideia da construção do "gigante" 11 de Novembro.
Erguido no Camama, também esteve debilitado, mais uma vez por falta de manutenção, e quase sempre "às moscas" pelas dificuldades de acesso (está localizado longe do centro da cidade e afastado dos bairros tradicionais dos adeptos do futebol).
Diante desse quadro, há que ponderar bem a decisão política em volta da mítica Cidadela Desportiva. Afinal, está em causa todo uma história colectiva do país.
De uma coisa não devemos ter a mínima dúvida, a destruição do já velhinho Estádio Nacional da Cidadela acabaria, efectivamente, com o simbolismo do espaço onde foi construída boa parte da história do desporto "rei" em Angola.
Por aquele palco da bola decorreram históricas competições nacionais e internacionais, que deixaram marcas, desde os célebres desafios da Selecção Nacional contra a congénere de Cuba, aos inesquecíveis II Jogos da África Central.
A relva da Cidadela "guarda" ainda inesquecíveis memórias dos não menos importantes jogos dos Palancas Negras (selecção do país), centenas de partidas das Afrotaças e do eterno Campeonato Nacional (Girabola).
Se, por um lado, alguns defendem a sua demolição, por causa da degradação dos pilares de sustentação do edifício e das suas placas de betão, há, por outro, quem entenda ser possível reverter esse quadro sem chegar às medidas mais radicais.
Numa altura em que o país atravessa uma das suas piores etapas, em termos económicos e financeiros, considera-se fundamental um diálogo aberto e franco de toda a sociedade, para encontrar as melhores soluções à volta do futuro do simbólico estádio.
A teoria da demolição tem a sua razão de ser. Mas, nessa altura, é importante notar que, com o Estádio Nacional da Cidadela, cairiam outras instituições à volta, como as federações de andebol, basquetebol, Jiu - jitsu, o Comité Paralímpico Angolano e outros empreendimentos terciarizados, como restaurantes, oficinas-auto e escritórios.
A salvo ficariam apenas o Pavilhão Principal da Cidadela e os seus dois anexos, além do Centro de Medicina Desportiva e da Galeria dos Desportos.
Assim, a decisão da demolição ou requalificação do imóvel está, então, nas mãos da Comissão Interministerial, integrada por quadros dos ministérios da Juventude e Desportos, Interior, Construção e Obras Públicas e do Laboratório de Engenharia.
Num momento em que a arquitectura mundial está de tal modo evoluída, que quase tudo tem "salvação", porquê não optar por restruturar a nossa Cidadela, poupando, inclusive, em custos que poderão ser claramente maiores, se a opção for deitar por terra.
Seja uma, seja outra decisão, é ponto assente que as autoridades precisam de correr na avaliação do estado técnico da Cidadela e apressar a decisão, para não se dar o caso de, sem intervenção alguma, a estrutura vir a ceder de forma natural.
Não é isso que o país quer, não é isso que os adeptos da bola desejam, não é isso que o Governo prevê. No entanto, é ponto assente que, se nada for feito com rapidez, meus senhores, o risco de isso vir a acontecer é alto, pondo em perigo um gigantesco estádio à beira do abismo.
Com actual cedência à Sonangol, a principal apoiante do Clube Petro Atlético de Luanda, um dos grandes do desporto angolano, pode-se pensar num futuro melhor para a referida infra-estrutura, em benefício nacional. VAB