Luanda - O Campeonato Africano das Nações (CAN) em futebol encerrou domingo, 11 de Fevereiro, a sua edição de 2023, com um balanço “sorridente” para a Selecção Nacional de Angola (Palancas Negras).
Apesar de ver interrompido o ”sonho” de fazer história, Angola teve, sem dúvida, a sua melhor presença em fases finais da prova máxima do futebol continental, com números antes impensados.
Esteve quase próxima de fazer o inédito até tropeçar na poderosa Nigéria, que acabou sagrando-se vice-campeã africana, depois de eliminar Angola nos quartos-de-final.
O balanço geral sobre o desempenho dos Palancas Negras nesta edição, conquistada pelos anfitriões da Côte d’Ivoire, com triunfo sobre o carrasco de Angola (2-1), no Estádio Olímpico de Ebimpé, em Abidjan, coloca na mesa o mérito ou demérito da causa.
É verdade que Angola esteve pela nona vez em fases finais do evento, chegou pela terceira vez aos quartos-de-final e com números nunca antes vistos, começando com a liderança do Grupo D, com sete pontos.
Tem ainda o facto de, pela primeira vez, ter obtido três triunfos em evento do género: 2-0 com o Burkina Faso, 3-2 diante da Mauritânia e 3-0 frente à Namíbia. Obteve um empate com a Argélia (1-1) e a fatídica derrota à tangente nos “quartos”, com a Nigéria (0-1) .
Por tudo que ocorreu em campo no confronto com os nigerianos, as oportunidades falhadas, com destaque para o remate de Zine Salvador ao poste lateral, a vitória podia bem sorrir para os angolanos, mas o destino favoreceu os contrários teoricamente superiores, como as estatísticas demonstram.
Estava somente em campo uma Nigéria com 20 presenças no CAN, em 34 edições disputadas, mais 11 que Angola, e que participou no evento com um plantel composto por 99,5 por cento de atletas que militam nos principais campeonatos da diáspora, sobretudo na Europa.
Dos 25 atletas convocados pelo seu treinador, o português José Peseiro, apenas um, o guarda-redes suplente, Olorunleke Ojo, actua na equipa doméstica do Enyimba Football Club, da primeira liga nigeriana.
Em termos comparativos, no conjunto nacional, curiosamente liderado, também por um Português, Pedro Gonçalves, figuraram seis atletas que evoluem em equipas domésticas, sendo dois guarda-redes, Neblú (1.º de Agosto) e Gelson (Interclube), Tó Carneiro, Eddie Afonso, Gilberto e Quinito (Petro de Luanda).
Em desporto, este factor que, inicialmente pode parecer de pouca relevância, na verdade não é. Tem grande influência na experiência e até no psicológico do atleta.
Por exemplo, pesa no plantel nigeriano o facto de ter o melhor jogador africano, Victor Osimhen, atacante do Napoli e com passagem em vários clubes europeus.
O seu valor de mercado é avaliado em 110 milhões de euros, cinco vezes superior ao custo total de todo plantel angolano, estimado em mais de 22 milhões de euros.
Pelos angolanos, a unidade mais cara é Zito Luvumbo, que se estreou na época de 2023-24 na principal liga europeia, a Séria A de Itália, pelo Cagliari, com um preço de aproximadamente cinco milhões de euros.
Em termos históricos de participação no CAN, o país tinha como melhor classificação os quartos-de-final alcançados no Ghana’2008 e no Angola’2010, que na altura correspondiam à primeira etapa das eliminatórias, a seguir à fase de grupos, contra sua congénere três vezes campeã africana (1980, 1994 e 2013).
A Nigéria foi vice-campeã em três ocasiões (1984, 1988 e 1990), terceira classificada em oito vezes (1976, 1978, 1992, 2002, 2004, 2006, 2010 e 2019).
O domínio dos Super Águias sobre os Palancas Negras estende-se a nível do ranking da FIFA, onde ocupam a 42ª posição, contra a 117ª dos angolanos, e são os terceiros colocados, mais 20 lugares à frente do combinado nacional.
Até em idade de jogadores, a Nigéria competiu no CAN’2023 com jogadores mais jovens ao ocupar o 13º lugar, com uma média de idade de 26,52 anos, enquanto Angola foi 11º, com uma média de 26,59 anos.
Os nigerianos, que elevaram para quatro o número de jogos ganhos, contra dois dos angolanos, mantêm a invencibilidade há 20 anos, em 13 partidas entre si, havendo, pelo meio sete empates.
Nos 12 jogos anteriores, em que as duas selecções se enfrentaram, sendo três amistosos, quatro eliminatórias da Copa do Mundo, igual número de qualificações para o CAN e um da fase final de CHAN, Angola marcou nove golos e sofreu 11.
A primeira vitória de Angola sobre esse colosso do futebol africano e mundial (já conquistou uma edição dos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta) foi em 1983 por 1-0, no segundo jogo de qualificação para o CAN do ano seguinte. Foi o terceiro no confronto entre os dois países.
A última vez que Angola venceu a Nigéria foi, em Junho de 2004, no oitavo desafio entre si, a contar para a primeira mão das qualificativas para o mundial de 2006, por 1-0, no Estádio da Cidadela, em Luanda.
Na segunda mão, fora de casa, o combinado nacional impôs igualdade a uma bola e qualificou-se ao mundial da Alemanha em 2006, colocando, com surpresa, a oponente de fora da maior cimeira do futebol global. VKY/MC/IZ