Luanda - A implementação de algumas acções anuais do Programa de Desenvovimento da Federação Angolana de Ginástica (FAG), incluindo, os campeonatos nacionais de juvenis, juniores e seniores, foram condicionadas por falta de verbas, afirmou a sua presidente, Elsa Pitra.
Em entrevista à ANGOP, em Luanda, sobre o balanço do seu mandato de quatro anos (quadriênio2020/2024), a dirigente do elenco cessante da FAG reconheceu que este ano foi complicado, principalmente do ponto de vista financeiro, que impediu a concretização de alguns propositos.
Acrescentou que em 2024 não conseguiram cumprir com o programa de acção, por não receber na totalidade a dotação financeira da parte do Ministério da Juventude e Desportos, prevista em orçamento do Estado, na ordem dos cento e dez milhões de kwanzas.
Para a líder federativa, o presente ano apenas teve do órgão reitor do desporto no país, trinta (30) milhões de kwanzas, que serviu para suprir algumas necessidades.
Estas cingiram-se, principalmente, na participação da Selecção Nacional, no Campeonato Africano de rítmica, no Rwanda, em que Angola foi com uma delegação composta por 16 pessoas.
À prova foram uma equipa de seis ginastas (conjunto), outra de quatro (individuais), uma treinadora de nacionalidade brasileira e adjunta, uma ex-atleta da selecção, Alice Tomás.
Nesta competição, Angola conquistou 23 medalhas, dos quais, uma de ouro, com Luana Gomes, duas pratas, e as restantes foram de bronze, disputada de 24 a 27 de Abril deste ano, em que o país ficou na terceira posição.
Explicou que, com algum apoio e algumas dívidas contraídas, também, conseguiram, este ano, organizar os zonais Norte, Centro e Sul.
Admitiu que, o negativo do seu mandato foi apenas este de 2024, que já está à entrar para o fim do ano, em que já realizaram a Assembleia-geral para apresentação do relatório e contas e o cessar de mandato, sem receber a cabimentação do ministério.
“Entendo que o país está a viver dias difíceis de carácter financeiro, uma situação que não afecta só Angola, mas o mundo. Ainda assim, não pode ter para alguns e outros não”, lamentou.
Adiantou que nos três primeiros anos do mandato conseguiu cumprir com o preconizado, porque conseguiu receber a dotação do ministério, na sua totalidade, na época avaliada em 65 milhões de Kwanzas, com mais um acrescimo de mais 10, em 2023.
Os montantes foram para cobrir duas competições africanas, em trampolim (África do Sul), em que medalharam, e ginástica rítmica (Ilhas Maurícias), que também medalharam, onde Luana Gomes também arrecadou duas medalhas de ouro e duas de prata.
Em relação aos patrocinadores, a FAG, de 2016 a 2017, tinha fixos, que também ajudavam nos gastos das participações nos eventos internacionais.
“Era de hábito, todos os anos a ginástica angolana estava na montra dos campeonatos dos mundo, a exemplo do Estados Unidos da América, Bulgária, Ucrânia, Rússia, Alemanha e outros países, mas depois de se instalar a crise financeira, ficaram com dificuldades”, disse.
Argumentou que, agora com a instalação da crise financeira, nos últimos anos, em termos de competições fora de África, o país tem apenas participado com a ginasta Luana Gomes, em ginástica rítmica, por ser a única angolana na Bulgária, numa bolsa dada pelo Comité Olímpico.
Destacou que a mesma ginasta tem conseguido a nível das competições africanas os lugares cimeiros, que é o primeiro e segundo lugar, sendo esta uma das melhores do país e do continente, em ginástica rítmica.
Manifestou tristeza, pelo facto de Luana Gomes não ter participado nos Jogos Olímpicos de Paris2024, em França, uma vez que ela está entre as três melhores de África, já que só elege um representante, que foi do Egipto, quando devia ser os três melhores.
Quanto ao estado da modalidade no país, considerou que a ginástica poderia estar melhor, mas que também não está mal, porque têm aparecido clubes novos e dirigentes interessados em incluir nas suas equipas.
Além de rigozijar-se pelas intenções das agremiações, apelou a uma maior aposta e investimentos aos ginastas dos seus clubes, porque até há aqueles que vêm já com atletas com uma boa performance, com fortes possibilidades de medalharem nas suas primeiras competições.
Elsa Pitra, apontou como exemplos, o 4 de Junho do Huambo, uma equipa ligada à Polícia de Intervenção Rápida, bem como outros clubes novos, em Benguela, na Huíla, o Núcleo da Chibia, na província da Huíla.
Das competiçoes internas, frisou que ao longo deste período surgiram mais duas provas, fora da Taça de Angola e os campeonatos nacionais, com o torneio do Rei do Bailundo, realizado em 2022, na província do Huambo, que tem uma equipa do mesmo município.
Também falou da Taça Cacuaco, numa parceria entre a FAG e a Administração do Município, com o mesmo nome, inscrita no calendario do programa anual.
Sobre as infra-estruturas, indica não estar bem, por dificuldades financeiras, sendo uma necessidade premente do país ter pavilhões que obedecem os padrões internacionais para a prática da ginástica.
Informou que em Angola, a ginástica é praticada em adaptação nos campos ou pavilhões multiusos, que albergam competições de basquetebol, hóquei em patins, voleibol, andebol e outras actividades de sala.
“Concretamente, a prática de ginástica com equipamentos especificos para a competição, como é exigida pelos padrões internacionais, não temos. Por isso, continuamos a lutar para que o Estado construa estas infra-estruturas”, referiu.
Para a presidente, que rendeu o actual administrador de Cacuaco, Auxílio Jacob, na direcção da FAG, a prática da modalidade em recintos sem condições de treinamento adequado causa enormes transtornos, como lesões, que obriga muitos a terminarem a carreira muito mais cedo.
“Angola precisa de fazer um grande investimento na ginástica. Reconheço que as coisas estão cada vez mais difíceis e em todos os sectores, mas precisa-se fazer alguma coisa, na medida em que o país tem um grande potencial humano”, advogou.
Da mesma forma, afirmou que em todas as competições internacionais as equipas angolanas participam e sempre foi reconhecida pelo grande empenho e talento dos seus praticantes.
Na sua opinião, caso as condições de trabalho no país fossem boas despontavam-se muitos mais atletas, com as mesmas qualidades de Luana Gomes, que trabalha na Europa.
Para melhorar a situação, a número um cessante da FAG pede maior intervenção do Estado, em construir pavilhões, para que as equipas e federação trabalhem na formação e qualidade dos ginastas em todo o país.
Com vista a contribuir para melhorias, Elsa Pitra esclareceu que a federação adquiriu um terreno de cinco hectares, aguardando financiamento ou patrocínio, para poder construir a infra-estrutura, que corresponda aos padrões que se precisa.
Com a mesma infra-estrutura, após construção deste pavilhão, que se prevê também ter um centro de estágio, admitiu que, a ginástica no país dará passos gigantescos, fazendo fê que os proximos anos serão melhores.
Recordou, que em 2009, a ginástica deu um grande salto, porque o Estado angolano, criou em todas as províncias do país institutos médios de gestão e politécnicos, com alguns meios.
Destacou que estes institutos estão equipados com material de ginástica e a maior parte dos treinadores da modalidade são professores de educação física, ligados às mesmas escolas.
A referida situação facilitou a massificação da modalidade e, a federação junto das direcções provinciais faziam parceria com o Ministério da Educação, usando os ginásios para especialidade.
“Embora não fossem materiais de alta competição, para a massificação servia. (...) Mas já se passaram muitos anos e estes materiais já se degradaram”, lamentou.
Actuamente existem 14 associações provinciais de ginástica e núcleos no Zaire e Lunda-Norte. BSV/VAB