Huambo – Pelo menos mil 551 mulheres rurais na província do Huambo foram potenciadas, de 2017 à presente data, com conhecimentos teóricos e práticos de produção racional do carvão, no âmbito do projecto “Carvão Sustentável”.
Trata-se de 774 mulheres do sector de Cachindongo, comuna do Cuima, município da Caála, e 577 do Bonda, na comuna do Alto Hama (Londuimbali) duas localidades pilotos eleitas para a implementação do projecto da iniciativa do Governo angolano.
O mesmo está a ser executado, na província do Huambo, desde 2017, pela Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade José Eduardo dos Santos, em parceria com a Universidade espanhola de Córdoba, com o financiamento do Fundo Global do Ambiente, num montante de 197 mil 227 dólares americanos.
A informação foi prestada hoje à ANGOP, pelo gestor do projecto do Huambo, Abílio Malengue, que beneficiou, igualmente, mil 713 homens nas mesmas localidades.
O responsável, que apresentava o balanço preliminar do projecto, com término previsto para este mês, disse que o projecto visa melhorar as práticas de produção de carvão nas comunidades e proporcionar a exploração racional dos recursos florestais, com vista a protecção do ambiente e, consequentemente, o empoderamento dos seus produtores, com realce para as mulheres.
A produção de carvão irracional de carvão constitui a principal actividade de exploração dos recursos naturais nas zonas rurais para fins comerciais, envolvendo maioritariamente mulheres, gerando inúmeras consequências para o meio ambiente, por conta do abate indiscriminado de árvores.
Por conta disso, fez saber que foi aprovado e implementado o projecto, tem consistido na execução de diversas acções como o fortalecimento do carvão vegetal para assegurar, a par da vertente da produção racional, a cadeira de comércio e formalizar a actividade que ainda é praticada de modo informal e garantir o incremento socioeconómico das populações nas zonas rurais.
E para garantir a sustentabilidade do processo, acrescentou que foi promovida uma formação sobre a elaboração de plano de negócios, para que os beneficiários percebem e desenvolvam devidamente o comércio do produto e propiciar maior rentabilidade, assim como a prevenção do abate indiscriminado de árvores
Disse terem, ainda, sido realizadas acções como a formação em inventário florestal, que visou capacitar os formando de técnicas para quantificar o que têm como recurso e o corte selectivo das árvores, assim como a capacitação em plantação florestal, o que permitiu a criação de duas florestas comunitárias em Bonga e Cachiundongo, com aproximadamente cinco mil pés plantados em cada uma delas.
Conforme Abílio Malengue, foram, igualmente, realizadas as actividades de sensibilização ambiental, para mostrar às comunidades rurais abrangidas, a importância das florestas e as desvantagens que derivam da desflorestação irracional que tem se registado, por conta da actividade agrícola e produção de carvão vegetal, o que tem permitido a redução significativa do corte massivo das árvores.
Outras valências do projecto
Para além das formações em matérias florestais, informou que os beneficiários foram, igualmente, capacitados sobre a recolha de cogumelos, diferenciados dos comestíveis e não comestíveis, secagem e conservação, assim como dos frutos silvestres.
Referiu que a os mesmos aprenderam a produzir sumos, compotas e marmeladas, quer para o consumo, quer para o comércio, de modo a aproveitar o seu valor económico e a diversificação do regime alimentar das comunidades.
Ainda em termos de outras valências do projecto, apontou a formação em processo de transformação da biomassa para a utilização dos fornos melhorados e produção de briquetes, com base no aproveitamento dos resíduos que resultam do processo de produção de carvão.
Acrescentou que o projecto permitiu a criação de cooperativas agrícolas, de grupos de acção florestal e a formação de cadeia de valor do mel, que, também, prevê a construção de duas casas para o armazenamento e venda do produto nos dois sectores, com o objectivo de incentivar a sua produção massiva.
Em termos de resultados, referiu que o projecto tem permitido aos beneficiários, sobretudo, mulheres, muitas das quais desempenham a dupla função de pai e mãe nas zonas rurais, têm conseguido, através das actividades de produção de carvão e de outros produtos derivados das florestas, garantir a sustentabilidade das suas famílias e a formação dos seus filhos.
Imaculada Chitula Cassoco, um caso de sucesso
A cidadã Imaculada Chitula Cassoco é uma das 577 mulheres do sector do Bonda, na Comuna do Alto Hama, município do Londuimbali, a mais de 60 quilómetros do centro da cidade do Huambo, abrangidas pelo projecto, que tem obtido resultados satisfatórios, sobretudo, na produção de carvão, fruto das novas técnicas que aprendeu desde 2017.
De 31 anos de idade, a jovem mulher diz ter encontrado no projecto solução para o seu empoderamento e inserção social, por lhe abrir portas para o comércio e adquirir competências para contribuir na preservação do meio ambiente.
Disse serem imensuráveis os benefícios, do ponto de vista económico, por ganhar, através do projecto, um a fonte geradora de rendimento para o sustento da família, por desempenhar, desde princípio de 2022, o duplo papel de mãe e pai, depois de ser abandonada pelo seu parceiro, que regressou a Luanda, sua terra natal.
Segundo a mesma, só com a produção de carvão, consegue ter um rendimento de acima de 40 mil Kwanzas/mês, com a venda, em média, de 20 sacos, por dois mil Kwanzas/cada, a compradores provenientes, maioritariamente de Luanda.
Para o regedor do sector do Bonga, Cândido Lucamba, o projecto Carvão Sustentável, está a ajudar, desde a sua implementação em 2017, a comunidade a desenvolver, sobretudo, as mulheres, não obstante a preservação do meio ambiente.
De acordo com o líder comunitário, antes a produção de carvão, na localidade, era feita de forma tradicional e sem técnicas para o melhoramento da sua qualidade, para além de que os habitantes não se dedicavam à recolha e transformação dos frutos silvestres para o seu comércio.
Por conta disso, solicitou a continuação do projecto para possa beneficiar, no futuro, os adolescentes e as crianças da região, de modo a permitir a inserção social e económica das novas gerações, com realce para as mulheres.
Por sua vez, a ambientalista Suzana Capitia apontou o abate indiscriminado das árvores e as queimadas anárquicas como as principais acções nocivas ao meio ambiente que têm sido praticadas no meio rural.
Por esta razão, a especialista destacou a importância da implementação dos projectos de exploração racional dos recursos florestais, por permitirem a preservação dos ecossistemas e a protecção das potencialidades económicas existentes na natureza.
Inicialmente previsto para encerrar em Setembro do ano em curso, o projecto “Carvão Sustentável” foi prorrogado para Dezembro, por conta das implicações da Covid-19. VKY/ALH
