Luanda – Angola deve redobrar esforços para combater as ravinas que aparecem por quase todo o país em quantidades alarmantes, sob pena de ver várias infra-estruturas económicas e sociais danificadas.
Em Angola este fenómeno está a tornar-se frequente. Como cogumelos surgem ao longo de estradas, vilas e cidades, chegando ao ponto de cortar a circulação rodoviária e danificar infra-estruturas avaliadas em valores sonantes.
Como um rio, as ravinas nascem pequenas, depois aumentam em largura e profundidade, por um ou outro acidente da natureza, mas às vezes também, por intervenção directa ou indirecta do homem.
Até Luanda, a capital do país, não escapa a esta tenebrosa força da natureza. O caso mais recente tem a ver com a ravina que “ameaça” cortar o Zango Cinco, uma das urbanizações mais recentes.
Devido à gravidade da situação, o presidente da República, João Lourenço, autorizou nos últimos dias a utilização de 1,3 mil milhões de kwanzas para contenção e estabilização da ravina na Zona Sul do Zango 5.
Isto mostra haver a intenção do combate a este problema no país, mas a verdade é que a frequência do seu surgimento e alastramento desgasta a gestão financeira do país.
Há dias, no Moxico, o secretário de Estado do Planeamento, Milton Reis, lembrou que o Executivo desenvolve acções para solucionar a problemática das ravinas em progressão pelo país, entre as quais recolha de informação sobre o estado desse fenómeno natural.
Explicou que após este processo de constatação, os dados serão reportados ao Ministério das Obras Públicas e Ordenamento do Território para, rapidamente, começar com as intervenções no sentido de evitar a progressão das ravinas.
No entanto, enquanto estas acções não acontecem, o fenómeno sai de números pequenos para assombrosos.
Só até 2018, o Fundo Rodoviário já contabilizava umas 55 ravinas que ameaçavam cortar as estradas mais importantes do país.
Actualmente há o registo, no terreno, de mais de 200 ravinas pelo país. As mais acentuadas ameaçam engolir outras infra-estruturas socio-económicas.
Ravinas mais insidiosas no país
Bié
Centro de Angola, precisam-se pelo menos quarenta mil milhões de kwanzas para estancar as 43 ravinas existentes. destas, dez são mais preocupantes, pelo facto de estarem próximas das populações, estradas, estações de tratamento de água e outros edifícios públicos.
No município do Cuito, a progressão de uma ravina ameaça corroer o novo edifício da Comissão Provincial Eleitoral (CPE) do Bié, Inaugurado em Julho de 2020.
O Executivo, dentro do Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), vai estancar duas ravinas este ano, localizadas nos bairros Boavista e Cantinflas.
Cabinda
Nessa parcela do país, estão catalogadas 83 ravinas, 13 das quais já foram intervencionadas.
Cuanza Sul
Há uma ravina de grande dimensão, na Estrada Nacional 110, Amboim/Conda, que pode cortar a ligação entre ambas localidades, caso não haja intervenção técnica.
Huambo
Um estudo diagnosticou a existência de 20 ravinas, cujo programa de estancamento está previsto para Maio.
Lunda Norte
Uma ravina que comprometia a ligação rodoviária entre a província da Lunda Norte e as de Malanje, Cuanza Norte e Luanda, já está a beneficiar de obras de estacamento, após ''engolir'' parte da Estrada Nacional (EN) 225, no troço Cambauassa/sede do Lóvua.
A progressão da ravina, com mais de 10 metros de profundidade, deveu-se à erosão do solo provocada por chuva forte nos últimos meses na região.
Malanje
Apenas três das 13 ravinas de grandes proporções catalogadas em Malanje estão a ser intervencionadas pelo Ministério das Obras Públicas e Ordenamento do Território, nos municípios de Marimba (1) e de Massango (2).
Moxico
Dados oficiais indicam que, até 2019, a província contava com 21 ravinas, número que aumentou, em 2020, para 47, das quais 36 com tendência de progressão e sete estancadas. Nos últimos dias, uma ravina a norte do Luena, aumentou o seu raio de acção, progredindo mais de 300 metros de comprimento e seis de profundidade, ameaçando cortar a circulação na estrada de acesso ao centro de captação e distribuição de água do rio Lumeje.
No extremo sul da cidade do Luena há uma outra, desde os anos 1990, conhecida como “Ravina do Bairro Aço" que, apesar de várias intervenções para estancar a sua progressão, conheceu avanços na presente época chuvosa.
Uíge
Duas ravinas nascidas no meio de mais de 20 casas, na sede do município de Milunga, ameaçam engolir grande parte dessas habitações se não houver intervenção imediata.
Zaire
Uma ravina ameaça isolar o posto fronteiriço do Nóqui do resto do país, tudo porque está a progredir de forma rápida em direcção ao troço de acesso ao posto fronteiriço com a cidade de Matadi, República Democrática do Congo (RDC).
No Zaire são controladas 15 ravinas que ameaçam engolir zonas residenciais e vias de comunicação, sendo nove em Mbanza Kongo, capital da província, e seis no município do Nóqui.
Estes dados parciais mostram a urgência de se tomarem as medidas necessárias para se combater as ravinas existentes e outras para impedir o surgimento de novas.
A formação de ravinas está associada, fundamentalmente, a força hídrica, que começa quando as gotas da chuva provocam erosão por salpico, ou enxurradas (corrente formada por água da chuva), desencadeando alterações da estrutura do solo que provocam uma incisão na sua superfície.
Este processo pode ser desencadeado, também, pela acção nociva do homem com a exploração desenfreada de recursos minerais, inertes, derrube indiscriminado de árvores que sustentam os solos, entre outras.